Calçados e obras em couro são destaque de exposição em Miami
Em exposição no Pérez Art Museum (PAMM), em Miami, na Flórida, Gary Simmons: Public Enemy apresenta trabalhos do artista multidisciplinar Gary Simmons, nascido em 1964 em Nova York, mas que reside atualmente em Los Angeles. Considerada a exposição mais completa de Simons, a exposição abrange trinta anos de carreira do artista, com aproximadamente setenta obras. Entre elas está “Lineup”, de 1993, uma serigrafia com tênis de basquete folheados a ouro.
Desde o final da década de 1980, Simmons tem desempenhado um papel fundamental ao tratar sobre questões de raça, classe e identidade de gênero no centro do discurso da arte contemporânea. Notável pela aplicação precoce de estratégias artísticas conceituais, ele expõe e analisa histórias de racismo inscritas na cultura visual dos Estados Unidos.
Ao longo de sua carreira, revelou traços dessas histórias nas áreas de esportes, cinema, literatura, música e arquitetura e urbanismo, ao mesmo tempo em que se baseia fortemente em gêneros populares como hip-hop, terror e ficção científica. Guiado por uma lógica interna, a sua abordagem é fria, analítica e inabalável na interrogação de narrativas históricas intensas, mas os resultados transmitem consistentemente uma forte carga emocional. Confira algumas das obras!
Removal – As obras implicam corpos ausentes, levando os visitantes a evocarem as suas próprias imagens mentais das figuras que poderão povoar estes ambientes. As únicas pistas que Simmons fornece são tênis dourados, sapatos de sapateado pendurados num ringue de boxe, mantos com as palavras “Nós” e “Eles” fazem alusão à exploração racial na indústria esportiva e nos meios de comunicação de massa.
Há um paradoxo na crítica de Simmons. Os indivíduos negros estão frequentemente no centro dos espetáculos esportivos e midiáticos, e os seus corpos tornam-se hiper visíveis para as massas telespectadoras. Ao remover estas figuras das cenas, Simmons sugere que, à medida que os corpos negros são sensacionalizados e comercializados, a individualidade dos sujeitos negros é apagada e substituída por estereótipos raciais.
Step into the Arena (The Essentialist Trap), 1994 – Aqui, Simmons apresenta uma réplica em escala reduzida de um ringue de boxe, com sapatos de sapateado pendurados nas cordas. A imagem no chão da plataforma ilustra o footwork de uma tradicional dança de parceria chamada cakewalk. Essa dança foi originalmente executada por escravos como forma de zombar das danças educadas dos proprietários de escravos brancos. Mais tarde, porém, tornou-se uma característica comum em shows racistas de menestréis, geralmente realizados por jogadores brancos maquiados de preto.
Ao situar este diagrama dentro do ringue de boxe, Simmons faz referência à exploração de indivíduos negros nos esportes, performances e outras formas de entretenimento popular de massa, ao mesmo tempo que alude à forma como estas arenas têm frequentemente servido como locais de resistência.
Mais opções
Também em exposição no Pérez Art Museum (PAMM) está Esteban Ramón Pérez. O artista nasceu em 1989, em Los Angeles, onde reside até hoje. Couro, luvas de boxe, crachás, etiquetas e suportes para bolsas fazem parte da mostra.
Pérez utiliza sua experiência como estofador profissional e entrelaça sua identidade com questões enraizadas na história pós-colonial. Entre as obras está um grande trabalho de couro, pendurado em suportes de saco de pancadas, que captura o estilo mexicano em um “espírito de luta”.
Referências do boxe são encontradas ao longo da obra, incluindo luvas de boxe e um saco de pancadas que foram desconstruídos e costurados na tapeçaria. As pinturas em couro de Pérez, como ele as chama, reúnem habilidades que ele aprendeu e adaptou com seu pai, dono de uma loja de estofados, e com técnicas autodesenvolvidas.
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