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Trabalhador atua há 50 anos na mesma fábrica de calçados
Conheça a história do trabalhador que há 50 anos se dedica à mesma fábrica de calçados.
Última atualização: 24/12/2024 11:59
Dos 73 anos de idade de Pablo D’agresti, 51 deles são dedicados à mesma fábrica de calçados, a Grimoldi, centenária empresa argentina com operações na indústria e no varejo de calçados – no Brasil, a companhia tem escritório em Novo Hamburgo/RS. Natural de Buenos Aires, onde morou até os 4 anos, D’agresti é filho de imigrantes italianos que chegaram à Argentina após a Segunda Guerra Mundial.
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Apesar dos seus estudos terem sido na área comercial, Anteriormente, D’agresti acabou migrando sua atuação mais para a área industrial do calçado: métodos e tempos, tempos pré-determinados, e processos e curtimento de couro. Contudo, os primeiros passos na carreira profissional foram nos ramos imobiliário e da construção civil.
Ingresso no serviço militar
Teve que prestar o serviço militar obrigatório. Estudou no colégio militar General San Martin – instituição de ensino de excelência do exército argentino. Anteriormente, acabou sendo designado para a manutenção da frota de veículos do exército argentino. “Tudo isso acabou marcado por um período de muita violência na Argentina (durante a ditadura militar argentina), em que passei por situações desagradáveis e perigosas. Depois de um tempo percebi que estas situações acabaram me afetando psicologicamente”, conta.
Após a saída do serviço militar, um colega de D’agresti, que trabalhava na Grimoldi, o informou sobre uma vaga de emprego disponível na empresa. Depois de dois meses de testes, o jovem, na época com 22 anos, começava a sua trajetória na companhia, exatamente no dia 1º de maio de 1973. “Foi aí que toda a jornada começou”, frisa.
Logo no ingresso na Grimoldi, D’agresti acabou sendo recebido pelo gerente de produção da empresa, um chileno. “Ele me destacou uma semana para o armazém de couro, uma semana para o corte e uma semana para a produção”, comenta. Contudo, ele relembra, que naquela época, chamou a sua atenção um dizer que estava escrito em uma placa afixada nas grades de um galpão industrial da companhia: “sentimos orgulho de trabalhar na maior fábrica da América do Sul”.
Diversas áreas na fábrica de calçados
O início de D’agresti na Grimoldi não foi na produção. “Fui designado para outro setor e aos sábados ia para a empresa aprender a cortar e costurar, sempre gostei da produção”, relata. Na companhia, passou pelas áreas de custos, controle de qualidade, métodos e tempos, planejamento e controle de produção, injeção de sola de PVC e TR, manutenção, compras e controle de estoque de matéria-prima, inventário, costura, manutenção predial e contratação de terceiros. Hoje, entre as funções estão as relações institucionais da Grimoldi.
Nada de aposentadoria
Engana-se quem pensa que com 51 anos de atuação na Grimoldi, D’agresti estaria prestes a se aposentar. Bem pelo contrário, atualmente ele é bastante ativo e exerce diversas funções na companhia argentina. No momento, comenta que sua atuação está mais focada na compra de insumos improdutivos (insumos que serão utilizados pela empresa, mas que não serão incorporados aos produtos do processo produtivo). Também é responsável pelas peças de reposição para máquinas nacionais e importadas usadas na produção. Cuida da compra de novos equipamentos “para melhorar a produtividade”.
Entre as atribuições atuais de D’agresti também estão a seleção e a compra de insumos importados para a indústria, visto que muitos destes materiais não têm fornecedor local na Argentina. Justamente foi assim que o profissional desenvolveu sua expertise na área de compras. “Você tem que ser muito rigoroso no dia a dia com cada fornecedor. É uma constante e muito cansativo. Como argentino, digo isso com muita dor: o fornecedor local é muito informal no cumprimento de prazos e é preciso ter muito cuidado e trabalhar com bastante antecedência”, explica.
Atualmente, D’agresti tem trabalhado também como uma espécie de porta-voz da Grimoldi. Ele cuida especialmente das relações institucionais da companhia. Sob sua responsabilidade estão o relacionamento da empresa, principalmente, com organizações da área de serviços e com os órgãos públicos – da administração municipal e do governo provincial.
Desafios de uma fábrica de calçados na Argentina
Pela Argentina não ser autossuficiente em termos de matéria-prima e de tecnologias para a produção de calçados, D’agresti conta que os desafios para manter uma fábrica de calçados funcionando no país são grandes. “A operação é muito complexa”, pontua. Segundo ele, a maior parte dos fornecedores da Grimoldi são provenientes de países como Brasil e China.
Mesmo diante dos desafios da cadeia de abastecimento na Argentina, das questões políticas do país e de sua cultura protecionista, o profissional, nesse sentido, afirma que estes obstáculos têm sido superados. “Passei por situações muito angustiantes, muitas noites sem dormir. Porém, estas dificuldades acabaram sendo parcialmente diminuídas pelo prestígio e seriedade das autoridades”, comenta.
Força da marca Grimoldi
Apesar de não produzir calçados com a marca própria Grimoldi, a empresa é bastante conhecida no mercado. “Tudo o que produzimos é para marcas licenciadas internacionais como Kickers, Hush Puppies, Merrel, Caterpillar, Timberland, entre outras”, explica D’agresti.
Na opinião do profissional, a Grimoldi mantém a competitividade, sobretudo, graças à um forte trabalho da área comercial e à visão do seu presidente, Alberto Luis Grimoldi, que desde 1988 é o chairman da companhia. “E a quem agradeço por tudo na minha trajetória."
Falta de mão de obra
Problema latente da indústria brasileira de calçados é algo comum também no setor calçadista argentino: a falta de mão de obra qualificada. Apesar de tudo isso, D’agresti relembra que, como no Brasil, a cadeia produtiva do calçado ainda é bastante intensiva. “Embora seja uma indústria (calçadista) que emprega muita mão de obra direta e indireta, ainda temos um grande déficit de trabalhadores qualificados, principalmente, de supervisores”, comenta.
Por fim, o profissional analisa que por conta da falta de mão de obra qualificada, a indústria calçadista argentina tem enfrentado dificuldades para concorrer tanto no mercado interno como no externo. “Nestas condições é muito difícil para a maioria das empresas do setor calçadista se manterem competitivas no mercado”, completa D’agresti.
Este conteúdo faz parte da série Feed de Mercado, que dá sequência ao projeto Calçado & Carreira. Capitaneado pelo Jornal Exclusivo e Orisol do Brasil, apresenta cases inspiradores e valoriza os profissionais que fazem a diferença no setor calçadista, tanto no mercado nacional como internacional.
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