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‘Para ser sustentável é preciso fazer o dever de casa’, aponta diretor da Redley e Kenner

‘Para ser sustentável é preciso fazer o dever de casa’, aponta diretor da Redley e Kenner

Por meio da Tess Indústria e Comércio, seu braço industrial, a S2 (Rio de Janeiro/RJ), holding que detém as marcas de calçados Redley e Kenner, tem desenvolvido, estabelecido e aprimorado seus processos com base nos conceitos de ESG (Ambiental, Social e Governança, na tradução para o português). Neste contexto, o diretor comercial da companhia, André Jório, em entrevista ao Exclusivo, salienta quais têm sido os desafios em se trabalhar a sustentabilidade dentro da indústria e de como comunicá-la ao mercado. “Para ser sustentável é preciso fazer o dever de casa e ser verdadeiro”, aponta.

Na produção de solados e palmnilhas de sandálias, a companhia tem reaproveitado rebarbas de solado e restos de PVC (policloreto de vinila), TPU (poliuretano termoplástico) e TPC (copoliéster termoplástico). A partir deste processo empregado na produção da linha Reuse, das sandálias da Kenner, a S2 prevê reduzir em pelo menos 50% a quantidade de materiais descartados neste ano em relação a 2022.

Para criar sua primeira coleção de tênis sustentáveis, lançada em dezembro do ano passado, a Redley utilizou em seu processo produtivo o reaproveitamento de fibras de algodão – para cada quilo reaprveitado deste material se deixou de ser consumido de sete mil a 29 mil litros de água.

Com a plataforma Sustenta Redley, a marca tem desenvolvido calçados a partir de materiais reciclados, que resultam nos produtos da linha Redley Originals Eco. Estes tênis utilizam solado Reuse (feito com até 25% de borracha regenerada), banda Reuse (feito com até 30% de poliuretano regenerado) e lona eco (feito com até 70% de algodão regenerado).

A companhia também tem expertise no desenvolvimento de componentes com alta capacidade de reaproveitamento, o que resulta na produção de 40% de solado com materiais reutilizáveis.

ENTREVISTA: ANDRÉ JÓRIO

Qual é o principal desafio para vocês em se tratando de sustentabilidade? Como comunicar isto?
André Jório: O nosso principal desafio é sermos de verdade. Sabemos que o planeta vive um momento delicado do ponto de vista sustentável e as empresas precisam fazer o seu papel. Muitas usam isso de um ponto de vista marketeiro. Nossa empresa tem uma preocupação muito séria. Inclusive, a gente nem comunica muito que é sustentável, porque acreditamos que precisamos ainda fazer muito dever de casa. Todo este movimento ecológico, de cuidar das pessoas, de se preocupar com o produto e com o planeta, acreditamos que ele precisa ser de dentro para fora. Então, temos um cuidado extremo com tudo isso. Esse é um mantra para nós, que começamos de forma muito pragmática. Por isso sempre reforçamos. Há grandes discussões internas de como a gente vai comunicar tudo isso? Mas, por enquanto, resolvemos não fazer isso! Posso dizer que temos uma cultura, temos um projeto de reciclados e linhas totalmente dedicadas a isso (sustentabilidade).

Como foi pensada a criação da linha Reuse e de que forma trabalham com o conceito de ciclo total?
Jório: A linha Reuse é composta por sandálias totalmente recicladas, com a reutilização dos materiais excedentes da nossa própria produção. Este material, que seria descartado, é moído e volta como matéria-prima para a produção de uma nova sandália. A gente chama isso de ciclo total. Além disso, temos estações para receber as sandálias usadas e que seriam descartadas. Elas retornam para a empresa, são moídas e se transformam em material para a produção de novas sandálias. Em suma, o cabedal, o solado, a palmilha e a tag desta sandália são reciclados. É um processo que precisa ter cuidado, ter muita verdade. Porque não faz sentido a gente ter esta construção de produto se não tiver verdade no produto.

De que forma é trabalhada a escalabilidade da sustentabilidade dentro da produção da empresa? Pretendem expandir este olhar para outras linhas de produto?
Jório: Começamos com a linha Reuse e este é um processo que tende a aumentar cada vez mais. Pensamos sim em expandir este conceito para outras linhas de produtos. Isto é um fato. O foco está em cuidarmos do planeta, porque se a gente não cuidar dele, ele não vai cuidar de nós. Este é o pensamento estratégico da companhia.

O consumidor tem cobrado as marcas para que elas sejam sustentáveis?
Jório: Principalmente, o consumidor jovem. Ele cobra as empresas. Ele é exigente com isso. Independente do produto ser isso ou aquilo, para eles ser sustentável é uma obrigação. Reforço que o nosso desafio é trabalhar a sustentabilidade como verdade, como um dever.

E este consumidor jovem exigente que você se refere, além de ser sustentável, ele também quer um produto com design? Como é esta relação de sustentabilidade versus design?
Jório: Nosso produto, por exemplo, não é porque ele é reciclado que não se pensa no design. Além disso, o consumidor jovem, ele cobra sustentabilidade, mas também se preocupa com a combinação de cores. Ele tem cuidado com a estética e não deixa de pensar no design também. Ele é exigente. Então, ele quer sustentabilidade e design. Então, a preocupação dele é 360 graus.

Edelman Trust Barometer 2022, estudo anual de confiança e credibilidade, demonstra que o consumidor confia mais nas empresas/marcas do que em governos. Qual o peso disso para vocês? Aumenta a responsabilidade como empresa/marca?
Jório: Ele dá mais credibilidade para marcas do que para determinadas instituições. Então, veja como é fundamental o papel da marca. O que tua marca está comunicando. Como ela está lidando com esta responsabilidade? Ao mesmo tempo, o consumidor jovem ele te cancela muito rápido. Você não tem direito a errar. Não pode mentir. Não há espaço para meias verdades. Por isso a gente precisa ter muita seriedade com toda a comunicação e com tudo o que a gente faz.

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