×

O empresário que aprendeu o ofício de sapateiro na adolescência

O empresário que aprendeu o ofício de sapateiro na adolescência

A série Feed de Mercado dá sequência ao projeto Calçado & Carreira. Capitaneado pelo Jornal Exclusivo e Orisol do Brasil, apresenta cases inspiradores e valoriza os profissionais que fazem a diferença no setor calçadista, tanto no mercado nacional como internacional.

O empresário mineiro Ademar Rodrigues da Silva, 47 anos, fundador, diretor industrial e um dos sócios da fabricante de calçados esportivos Lynd (Nova Serrana/MG), aprendeu o ofício de sapateiro ainda na adolescência. O primeiro contato de Ademar com uma indústria de calçados foi no final da década de 1980, quando ingressou na área produtiva de uma pequena empresa de Nova Serrana, aos 13 anos de idade – ingressou no mercado em 1988, o que na época era permitido. Desde o ano 2000, com a Lei 10.097, a idade mínima para começar a trabalhar subiu para 16 anos, exceto para o cargo de aprendiz, que permanece com idade mínima de 14 anos. “Comecei no setor de calçados como pintor de solado, após isso aprendi o ofício de sapateiro de fato na prática e, posteriormente, me tornei supervisor de produção”, frisa.

Ademar é natural da cidade de Araújos/MG, município que integra o polo calçadista de Nova Serrana e que está localizada a 160 km de Belo Horizonte/MG ou a duas horas e meia de carro da capital mineira. Justamente, o ingresso do agora empresário no setor calçadista foi pelo calçado ser uma das principais atividades econômicas da região em que vive. “Ingressei na indústria calçadista devido à influência da atividade econômica local que gira em torno do calçado, não tive influência pessoal de ninguém”, comenta.

Na garagem de casa

A empresa que viria a se tornar a Lynd Calçados foi criada há quase 25 anos na garagem de 30 metros quadrados dos pais dos sócios de Ademar, os irmãos Ricardo e Ronaldo Lacerda – atualmente preside o Sindicato Intermunicipal da Indústria do Calçado de Nova Serrana (Sindinova). Ademar e Ronaldo agregaram conhecimento das linhas de produção no novo empreendimento próprio, enquanto que Ricardo se especializou nos procedimentos administrativos.

A passagem de Ademar e de Ronaldo por fábricas calçadistas anteriormente à abertura da Lynd possibilitou firmar laços estreitos com vendedores de calçados e com o mercado calçadista. Eram eles quem levavam as amostras produzidas na garagem para outras cidades e anotavam os pedidos dos lojistas. As vendas eram feitas apenas sob encomenda. “Às vezes, os pedidos ultrapassavam a nossa capacidade de produção e chegávamos a fazer jornadas de trabalho de 14 horas em um dia”, recorda Ademar.

A garagem funcionou como fábrica por cerca de dois anos, quando eram produzidos, em média, 36 pares por dia. Depois, foi a vez do quintal, espaço um pouco maior e com condições de comportar novas máquinas e funcionários. Mais três anos se passaram até a empresa alugar um galpão industrial, onde começaram, de fato, a produção dos calçados.

O negócio, então, decolou. Os números de produção, funcionários e faturamento da Lynd eram crescentes. Segundo Ademar, com três sócios na empresa, era mais fácil manter o controle sobre todas as áreas, o que se refletiu na qualidade do produto final.

Conhecimento

O conhecimento, segundo Ademar, foi a chave para o desenvolvimento da expertise da Lynd na produção de calçados esportivos. “O conhecimento, sem dúvida alguma, é a base de tudo isso que conquistamos até agora. Sempre nos mantivemos atualizados sobre as tendências tanto aqui no Brasil quanto no exterior. A empresa é um grande laboratório, em que aprendemos a partir da tentativa e erro. Não existe receita de bolo pronta”, contextualiza.

Segmento esportivo

O empresário fala da difícil tarefa em atuar no nicho de calçados esportivos, um segmento altamente competitivo e com big players internacionais como Nike e Adidas. “É um grande desafio, e isso é o que nos move. Queremos sempre fazer o que há de melhor. Por isso buscamos parcerias sólidas para qualificar o nosso trabalho”, observa. Neste contexto, Ademar ressalta que a Lynd tem investido em Marketing para tornar a marca mais conhecida no mercado. “E como diferencial temos um produto com excelente custo-benefício. Sabemos que não podemos ‘vacilar’, por isso estamos atentos e de olhos abertos para fazer sempre produtos competitivos”, esclarece.

Desafios

Sobre gerir a área industrial da Lynd, Ademar aponta a mão de obra, a capacitação e a retenção de talentos como os principais desafios. “São pontos chaves no processo”, pontua, acrescentando que outro fator crucial é a estratégia. “Precisa de planejamento e um mínimo de previsibilidade para minimizar os riscos”, comenta. Além disso, o empresário reforça que a relação com os fornecedores também se mostra desafiadora e fundamental. “Conhecer bem o seu negócio e suas condições para nos atender. A partir disso está estabelecida uma parceria. Claro, sempre existem problemas. Mas o importante é ter claras as suas condições de trabalho e exigências negociadas junto do fornecedor, e se possível trabalhar com empresas que tenham credibilidade no mercado”, sinaliza.

Custos reais da indústria

Ademar salienta que o aumento nos custos produtivos na indústria calçadista, ocasionados especialmente pela alta nos preços das matérias-primas e da logística, tem feito empresários como ele repensar) os seus negócios constantemente. “A busca por eficiência é uma realidade inegável, o aumento dos custos em geral nos faz repensar o nosso processo constantemente, buscando melhorias que impactam diretamente no nosso custo. Mas nem sempre isso é possível e infelizmente temos que repassar todos esses aumentos, o que faz com que a competitividade aumente com empresas de grande porte”, analisa o gestor.

Perspectivas para 2023

Sobre o planejamento para 2023, quando a Lynd completa uma década de consolidação no mercado brasileiro e de seu projeto de expansão para o exterior, o gestor reforça o foco na modernização do parque fabril – são 16 mil metros quadrados de área construída, com capacidade de extensão para produzir 10 mil pares diários. “Estamos buscando sempre melhoria na parte de análise de processos, corrigindo e otimizando. Reforço aqui a importância da parceria com empresas competentes, que te ajudam a construir uma visão do futuro.”

Ademar sustenta a importância da indústria brasileira estar atualizada. “Há quatro anos produzíamos outro segmento de calçados. Por essa resiliência, nos mantivemos no mercado produzindo uma média diária de 5 mil pares com grande padrão de qualidade. Devemos sempre estar prontos para a mudança”, ressalta.

Share this content:

Publicar comentário