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Mercado interno não compensou as perdas na exportação do setor coureiro em 2022

Mercado interno não compensou as perdas na exportação do setor coureiro em 2022

Neste ano, o mercado interno absorveu cerca de 30% da produção brasileira de couros. “Nosso desempenho foi melhor do que em outros anos, o que foi importante e celebrado, mas ainda assim não foi um crescimento suficiente para compensar as perdas na exportação”, avalia o presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello.

Segundo o dirigente, o setor coureiro nacional teve avanços importantes em 2022, apesar dos desafios relacionados ao mercado e à situação econômica e política global, especialmente na Ásia e na Europa, onde estão localizados os principais clientes do couro brasileiro.

“Tivemos de atuar em um ambiente negativo de restrições ainda vigentes da pandemia na Ásia (inclusive com medidas vigentes de Covid Zero, lockdowns e impossibilidade de viagens) e o terrível conflito Ucrânia e Rússia. Com isso, no mundo inteiro, mas especialmente na Europa, houve elevações absurdas em custos como energia elétrica, o que inevitavelmente freia o consumo de bens que utilizam couro.”, relata.

Rio Grande do Sul

No segundo semestre, as exportações gaúchas de couro acabado, que sempre foram o carro-chefe do contingente exportado pelo principal estado exportador de couro do Brasil, registraram desempenho abaixo do verificado no período anterior, tendo diminuído tanto em valor (-19,1%) quanto em volume (-27,7%), em relação a 2021. “Mas, compensada em parte a perda em volume, houve acréscimo no preço médio de venda, graças ao avançado estágio tecnológico dos produtos desenvolvidos nos curtumes gaúchos”, sustenta o presidente-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger.

Conforme a AICSul, alguns segmentos importantes para o couro gaúcho tiveram desempenho anormal no mercado internacional, principalmente nos últimos meses. “Os couros exportados nos estágios wet blue e semiacabados sofreram queda maior do que os acabados, A guerra na Ucrânia impactou diretamente no volume de negócios, principalmente com a Europa e os Estados Unidos, e a persistente crise sanitária que ainda assola a China, também contribuiu para agravar ainda mais as condições do mercado no Oriente”, aponta Berger.

No mercado interno, o setor coureiro gaúcho registrou incremento no volume de consumo somente dos artigos destinados a calçados para exportação, que são produzidos em grande percentual com cabedal confeccionado em couro.

Segundo o dirigente, o mercado de vestuário ensaiou um aquecimento no primeiro semestre, com boa demanda pelo couro gaúcho, em razão do inverno, mas não teve sustentação nos mesmos níveis nos meses seguintes.

“Este quadro permite afirmar que os curtumes tiveram em 2022 uma performance abaixo da verificada em 2021 em área exportada e volume de faturamento, o que, de alguma forma, levou as empresas à readequação de seus níveis de atividade, de modo a permitir a sustentação financeira equilibrada dos empreendimentos”, avalia o presidente-executivo da AICSul.

“Ano que começou difícil e terminou mais difícil ainda”

O Grupo Minuano (Lindolfo Collor/RS), que exporta couros para os segmentos moveleiro, automotivo e de tapeçaria, registrou queda nos volumes e nos valores de comercialização externa. “2022 foi um ano que começou difícil e que terminou mais difícil ainda”, afirma o bussiness manager da divisão de couros da companhia, Mateus Enzveiler. Segundo ele, o resultado no mercado externo foi diretamente afetado pela guerra na Ucrânia e pelos lockdowns na China. “Por conta do conflito em território ucraniano, o fator inflacionário foi mais forte do que na América do Norte, onde basicamente atendemos clientes nos Estados Unidos e no Canadá”, acrescenta.

O setor calçadista não tem representatividade dentro dos negócios do Grupo Minuano em âmbito externo. Já, em relação ao mercado interno, a empresa fez, ao longo de 2022, vendas pontuais de wet blue para a indústria de calçados.

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