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Manutenção da taxa de juros prejudica a indústria brasileira; entenda por quê?

Copom manteve a Selic em 13,75%, decisão que desagradou ao setor industrial do País

Publicado em: 23/02/2023 14:38
Última atualização: 10/09/2024 14:41
ExclusivoGrupo Editorial Sinos

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), nessa quarta-feira, 22, de manter a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), que está em 13,75% desde agosto do ano passado – oito pontos acima da inflação, que registrou 5,6% nos últimos 12 meses –, não agradou ao setor industrial do País. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou "equivocada" a manutenção da taxa, enquanto que a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), classificou a medida como "prejudicial" para a indústria.

Na avaliação da CNI, o cenário atual indica que o Copom já deveria ter reduzido a Selic nesta reunião. "A Confederação acredita que a manutenção da taxa de juros é, neste momento, desnecessária para o combate à inflação e apenas traz custos adicionais para a atividade econômica", diz a entidade em nota. A entidade considera que a taxa no patamar atual foi um dos fatores determinantes para a desaceleração da atividade econômica no final de 2022, com destaque para a retração de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre. "E seguirá sendo um limitador significativo para o crescimento da atividade em 2023, quando as previsões para o PIB indicam alta de apenas 0,88%, segundo o Boletim Focus do BC", segue o comunicado.

Para a Fiergs, a manutenção da taxa de juros não se justifica e o setor industrial acaba prejudicado. “A indústria não aceita esse nível de juros, ela sofre para obter seu capital de giro, e com essa taxa, não suporta tomar dinheiro no sistema bancário para tocar seus negócios”, afirma o presidente da Fiergs, Gilberto Petry. O dirigente salienta que a redução da Selic precisa ser iniciada o quanto antes. Ele reforça que os problemas na oferta de crédito trazem um desafio adicional para a indústria, em especial pelo encarecimento das linhas ligadas ao capital de giro, consideradas por Petry como fundamentais para a manutenção das atividades produtivas. O industrial lembra que o aumento dos juros no Brasil iniciou antes dos demais Bancos Centrais do mundo e ocorreu de forma muito rápida e intensa, de modo que muitos efeitos já apareceram e outros ainda serão sentidos na economia nos próximos meses. 

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"Taxas de juros pornográficas"

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, chamou de “pornográficas” as taxas de juros no Brasil. Em discurso, ainda na segunda-feira, 20, no Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ele disse que os atuais valores são inconcebíveis e precisam ser reduzidos. “É inconcebível a atual taxa de juros no Brasil. Muitos querem associá-la a um problema fiscal. A tese é que há um abismo fiscal. Abismo fiscal num País que tem 73% do PIB de dívida bruta. Tirando as reservas [cambiais] são mais ou menos 54% de dívida. Tirando o caixa do Tesouro Nacional, são menos de 45% do PIB de dívida líquida, num País com a riqueza do Brasil. Então esta não é uma boa explicação para as pornográficas taxas de juros que praticamos no Brasil”, comenta.

Também presente no evento do BNDES, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, criticou o valor da Selic. “Não há nada que justifique ter 8% de taxa de juros real, acima da inflação, quando não há demanda explodindo e, de outro lado, no mundo inteiro, há praticamente juros negativos. Nós acreditamos no bom senso e que a gente vá, com a nova ancoragem fiscal, superar essa dificuldade”, disse.

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