João Altair dos Santos e a sua paixão pela indústria de calçados
A série Feed de Mercado dá sequência ao projeto Calçado & Carreira. Capitaneado pelo Jornal Exclusivo e Orisol do Brasil, apresenta cases inspiradores e valoriza os profissionais que fazem a diferença no setor calçadista, tanto no mercado nacional como internacional.
Natural de Rolante/RS, o técnico químico João Altair dos Santos, 63 anos, atualmente diretor-presidente da Conforto Artefatos de Couro (Estância Velha/RS), fabricante de luvas e calçados profissionais, veio morar com a família em Estância Velha/RS ainda criança. O agora empresário ingressou no setor calçadista em 1973, aos 14 anos de idade, o que era permitido na época, em uma fábrica, em Novo Hamburgo/RS. Altair, como é conhecido, iniciou na empresa por acaso, como auxiliar de escritório, sendo efetivado após um mês de trabalho alcançando documentos para seu irmão mais velho, que havia quebrado o pé. Além das suas obrigações, o jovem buscava ajudar e aprender as etapas administrativas e de produção também, o que acabou fazendo parte da sua rotina diária por 11 anos.
“Assim peguei gosto pelo trabalho na indústria calçadista, principalmente também por lidar intensamente com pessoas, o que para mim nunca foi problema. Após a empresa em que trabalhava ter sido vendida, tentei outras atividades, mas acabei voltando para indústria, onde finquei o pé, sonhei e planejei uma empresa que nem a Conforto”, declara Altair.
Em 1º de fevereiro de 1989, quando Altair, juntamente com outros sócios investidores, adquiriu a Conforto Artefatos de Couro, a empresa produzia somente luvas de proteção de couro. Em 16 de março do ano seguinte, quando foi instituído o Plano Collor – conjunto de reformas econômicas e planos criados durante a presidência de Fernando Collor de Mello –, no dia seguinte ao confisco financeiro na época, todos os clientes da empresa acabaram cancelando os pedidos.
“Não tinha o que fazer, a não ser terminar o que estava em produção e guardar no estoque. O mercado interno estava parado, foi quando começamos a repensar a empresa. Chegamos a conclusão juntos que não tínhamos condições de continuar, cada um teria que cuidar do seu negócio. Assim, após muitas tentativas, entre erros e acertos, após ter ficado sozinho na empresa, convidei um amigo técnico em calçados para entrar na sociedade”, relembra o empresário.
Fábrica funcionando
Para manter a fábrica funcionando, Altair pegou pequenos pedidos de exportação de arati (modelo de sandália feminina). “Tentamos fazer ‘modinha’ também, mas era difícil vender sem ter marca. Porém, nunca parei totalmente de fazer um pouco de luvas e calçados de segurança num cantinho da fábrica. Nesse meio tempo, eu e meu sócio, em comum acordo, decidimos separar a sociedade. Comprei a parte dele e finquei o pé na segurança (luvas e calçados) definitivamente”, comenta.
Desafios e oportunidades
Em fevereiro de 1994, com a implementação do Plano Real, Altair conseguiu planejar e retomar com força a produção da linha de segurança da Conforto. “A inflação foi dominada e o mercado interno voltou a crescer. Surfamos a onda de crescimento que o real proporcionou. Procurei aprender mais sobre as normas de segurança, obter mais alguns poucos CAs (certificações), conhecer melhor o mercado, sempre procurando a especialização, melhorando cada vez mais”, conta.
No ano de 2016, a Conforto Artefatos de Couro foi atingida por um grande incêndio, que destruiu 70% de sua planta produtiva. Mesmo com um seguro contratado, que cobria parte das perdas, ainda não era suficiente para retomar as atividades. Com o apoio de parceiros, clientes, fornecedores, comunidade e fábricas do Vale do Sinos – que emprestaram máquinas –, a empresa retomou a produção, 15 dias após o sinistro, em um outro prédio. “Resultado disso que em 12 meses e cinco dias conseguimos retornar a nova fábrica totalmente reconstruída, já com um planejamento moderno, valorizado cada centavo economizado”, comenta Altair.
O empresário salienta que um dos seus propósito como gestor é o de “sempre fazer melhor para o amanhã”. Ele relembra todos os desafios e as adversidades superadas até aqui como empreendedor. “Muitas adversidades vieram, mas aprendi que metade do sucesso é ter objetivos claros, ser muito perseverante, disciplinado, e não prometer nada que fosse impossível de cumprir”, salienta Altair.
Por acaso
Relembrando o começo de sua trajetória profissional, Altair conta que seu ingresso na indústria de calçados, em especial, no segmento de calçados profissionais/segurança, foi meio que por acaso. Ele sonhava em ser químico, mas ao iniciar sua jornada de trabalho em um fábrica de calçados se apaixonou pelo ramo. “Além disso, o ingresso na linha de segurança foi por duas coincidências: a primeira pela tentativa da empresa que eu trabalhava de fazer calçados de segurança, o que não deu certo. A segunda foi quando já tinha me desligado desta empresa, estava querendo voltar para a indústria do setor calçadista, e surgiu a oportunidade de adquirir a Conforto, que já fazia luvas de segurança, o que para mim era uma etapa até chegar à produção de calçados”, comenta.
Início por conta própria
Altair explica que desenvolveu a expertise em calçados de segurança a partir de pesquisa. “Pesquisando, enxergando uma oportunidade. Naquele tempo (final da década de 1980) estávamos num governo militar, para eu era óbvio pensar em coturnos”, pontua. Ele acrescenta que o ingresso como empreendedor no setor aconteceu por conta própria. “Não tive incentivo, minha família não tinha tradição de sapateiro. Me criei desde adolescente dentro de uma fábrica de calçados praticamente. Sonhei em um dia ter uma empresa, não necessariamente de sapato. E o ingresso como empreendedor foi por imersão no ramo”, complementa.
Mercado nichado
Em relação a manter a empresa competitiva em um mercado nichado e com grandes players como o de calçados profissionais, Altair destaca que a busca constante em manter e aprimorar a qualidade vai além dos produtos. “Envolve pós-venda, cuidado com os colaboradores, compromisso com fornecedores e comunidade. É tentar fazer com que o cliente perceba que nem sempre o produto mais barato é o melhor custo-benefício”, aponta.
Sobre o atual patamar da indústria brasileira de calçados profissionais, o empresário cita que o mercado “vivencia uma experiência cada vez maior pela exigência da legislação”. “Que pode penalizar tanto a empresa que não fornece o EPI (equipamento de proteção individual) adequado quanto o fabricante que produzir um EPI fora das normas”, esclarece.
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