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Eles reinventam o ofício de sapateiro

Unidade de produção da Arezzo&Co

Eles reinventam o ofício de sapateiro

Sapateiro é uma das profissões mais antigas do mundo. O início da atividade remonta ao ano 280, no início da era Cristã. Mas, engana-se quem pensa que este ofício parou no tempo. Existem profissionais que têm mantida viva a essência e a tradição sapateira, sem deixar de se reinventar. Este é o caso de Éden Martins, 37 anos, que desde 2016 tem a sua marca própria de calçados masculinos, a Riscato. “Precisamos nos reinventar e estar dispostos a uma renovação diária. O mercado muda, o consumidor muda, e o grande desafio é conseguir manter o que é bom e diferenciado da fabricação artesanal e do ofício de sapateiro”, afirma.

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Martins conta que tem se reinventado e mantida a essência da profissão “se diferenciando no digital e criando uma percepção de valor adequada ao trabalho artesanal”. “No design mantemos as matérias-primas de alto padrão, principalmente a utilização do couro, trazendo visuais modernos e confortáveis”, pontua.

Éden Martins criou sua marca própria em 2016
Divulgação Éden Martins criou sua marca própria em 2016

O profissional acrescenta que o processo artesanal e a mão de obra qualificada do sapateiro garantem valor agregado e exclusividade aos calçados.

“Sapateiro de uma vida toda”

Vinícius Dapper, 41 anos, se considera “sapateiro de uma vida toda”. Começou na indústria em 2001, aos 17 anos, e hoje tem sua marca própria de calçados. Sobre manter vivo o ofício, Dapper frisa que “o cenário é desafiador e fazer calçados no Brasil não é fácil”. “Para a manutenção do ofício, em termos macro, talvez seja o momento de potencializarmos questões que durante muito tempo foram questionadas, bem como legislação trabalhista, sustentabilidade e boas práticas industriais”, cita.

Em relação à reinvenção e manutenção da essência da profissão, Dapper considera que inovação e trabalho humano não são questões excludentes. “Mas, complementares. No nosso caso, mantemos o artesanato dos produtos, mas olhamos para novas tecnologias e buscamos inovar nos processos”, comenta.

Vinícius Dapper ingressou na indústria calçadista aos 17 anos
Divulgação Vinícius Dapper ingressou na indústria calçadista aos 17 anos

Ao mesmo tempo, acrescenta que o foco precisa estar nas pessoas. “O mundo está voltando os olhos para isso. As empresas da região estão avançadas nesse quesito. É importante capitalizar esse ativo para ampliarmos o nosso market share no contexto global”, completa o profissional.

Sapateiro mantém o handmade

A manutenção do handmade (feito à mão) e do alto valor agregado na indústria calçadista, na avaliação de Éden Martins, passam diretamente pela mão do sapateiro. “A cada dia está mais difícil criar diferenciação e percepção de valor. Acredito muito que esse processo mais artesanal e a mão de obra qualificada do sapateiro trazem exclusividade, que é um bom argumento para o aumento do valor agregado e para a visibilidade”, salienta o profissional. Além disso, Martins observa que outro grande desafio da área “é conseguir manter o que é bom e diferenciado” da fabricação artesanal e do ofício de sapateiro. “Mas, buscando sempre a renovação e adaptação ao novo, seja no design ou no jeito de se relacionar com os clientes”, reforça.

Vinícius Dapper sustenta que a manutenção do handmade passa não só pelas mãos, mas pela visão e pela mente dos sapateiros. “Essa é uma questão filosófica e não há por que ter medo de tentar entregar o que há de melhor em um mundo que consome e espera por isso. Então, quando olho para a indústria brasileira, eu tenho uma forte crença de que estamos caminhando na direção correta”, avalia Dapper.

Apoio da família

Éden Martins conta que seus pais eram “fabriqueteiros” de calçados no bairro Canudos, em Novo Hamburgo. Na adolescência, o pai queria que fizesse o curso técnico em calçados no Senai. Na oportunidade, optou pelo técnico em informática. O tempo passou e em 2016 decidiu começar a marca de calçados masculinos Riscato. “Meu pai me incentivou logo de cara, mas acabou falecendo em outubro de 2016. Minha mãe seguiu cuidando da costura da Riscato até 2018, quando se desligou totalmente. Meus pais serviram como base para que o negócio (Riscato) existisse”, explica.

Desde o ingresso na indústria calçadista, Vinícius Dapper também conta que recebeu muito apoio da família, sobretudo dos pais. “Apoio imensurável, com o qual conto até hoje. Tive também um incentivo importante de um primo próximo, que vivia em Novo Hamburgo. Ele e a esposa foram pessoas muito boas, que me acolheram. Além do acolhimento, posso dizer também que foram meus primeiros grandes mentores e um forte exemplo profissional”, cita o sapateiro.

Redefinição e qualidade

Ainda sobre a reinvenção da profissão de sapateiro, Éden Martins acredita que o futuro do ofício passa pelos meios digitais. O profissional comercializa atualmente os produtos de sua marca por um e-commerce próprio. “Não é só e-commerce como a presença digital a partir das redes sociais. Métodos de relacionamento e atendimento já não são diferenciais e sim necessidades para quem quer se manter no mercado digital”, aponta.

Martins comenta ainda que, no momento, está redefinindo os propósitos e valores de sua marca. “Nos reorganizando e fazendo ajustes em nossa rota”, menciona. Ao mesmo tempo, o profissional sustenta que os próximos passos de sua empresa levam em consideração o “equilíbrio entre o que há melhor das origens do sapateiro com o que há de novo em termos de calçados masculinos”.

Desde a origem da profissão, Vinícius Dapper relembra que a busca pela qualidade sempre foi uma constante. Quando projeta o que esperar do futuro com relação ao setor, é otimista e acredita na excelência do “made in Brazil”.

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