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Lideranças avaliam a sustentabilidade no setor calçadista

Lideranças avaliam a sustentabilidade no setor calçadista

Inserida cada vez mais em diferentes setores da economia, a sustentabilidade já não é novidade como tema, mas ainda impulsiona a busca de conhecimentos e compreensão para implementar nas indústrias as ideias que representam a importância do assunto de forma efetiva. Na linha de produção calçadista brasileira, muitas empresas já aderiram ao sistema sustentável, de diferentes formas. Seja na utilização de insumos recicláveis, no reaproveitamento de resíduos ou em outras ações, a motivação é a mesma: entregar o máximo de tecnologia, reduzindo os impactos ambientais para não prejudicar o meio ambiente e as gerações futuras.

Numa parceria do Jornal Exclusivo com a Kisafix – marca de adesivos da Killing S/A (Novo Hamburgo/RS), o conteúdo a seguir traz as ações práticas implementadas pelas organizações para o desenvolvimento consciente, tendo como um dos objetivos desmistificar que a sustentabilidade está atrelada somente ao fator ambiental, além das projeções das calçadistas para o futuro do mercado.

Produtos em exposição

Maior marca no segmento de adesivos da América Latina, a Kisafix apresenta para a área calçadista tecnologias para colagem em todos os processos: montagem do cabedal, preparação e costura, palmilhas, preparação do solado e montagem da sola e cabedal. Em processo de inovação e investimento frequente em iniciativas mais conscientes, a marca está lançando a linha Ecotech Kisafix, contendo adesivo base água, adesivo hot melt, adesivo hot melt pur, adesivo sem tolueno e solventes de fontes renováveis (biomassa). As soluções sustentáveis contemplam dois principais aspectos: ambiental (social/humano) e econômico (financeiro), resultando em diversos benefícios para os negócios, pessoas e meio ambiente, como a redução no impacto gerado no processo de fabricação.

Conforme a gerente comercial da Kisafix, Raquel Becker, a nova linha reforça o posicionamento da empresa em atender as demandas do mercado. “O portfólio Ecotech está alinhado aos pilares da sustentabilidade reforçando as características que compõem um pacote de possibilidades aos clientes que desejam ter em suas linhas de produção produtos direcionados a redução do uso de compostos orgânicos voláteis (VOC), ao uso de materiais que contenham matérias-primas oriundas de fontes renováveis e ao uso de produtos que gerem reduções de custos em linhas produtivas, além de poder melhorar o ambiente deixando-o mais amigável. Dessa forma, o portfólio voltado à sustentabilidade linha Ecotech representa o compromisso da Kisafix em entregar o melhor a seus clientes e consumidores”, explica. Os produtos serão apresentados na Fimec, de 12 a 14 de março, das 13 às 20 horas, na Fenac em Novo Hamburgo.

Piccadilly: estratégia de organização

Na trajetória e expertise de 68 anos da Piccadilly Company (Igrejinha/RS) há importantes marcos conectados à sustentabilidade. Desde 2012 a empresa definiu por não mais destinar os resíduos que não eram passíveis de reciclagem para aterros, destinando-os para o coprocessamento. A coordenadora de ESG e Sustentabilidade da Piccadilly Company, Morgana Marca, pontua que é constante a preocupação em inserir a sustentabilidade no dia a dia da empresa. “Em 2012 iniciamos a participação no programa Origem Sustentável, que é o programa que certifica a cadeia calçadista e também mede a maturidade das empresas quanto à dimensão social, cultural, ambiental e econômica, o que nos permitiu evoluir muito na jornada”, explica.

Para Morgana, o mercado está passando por uma mudança significativa, com consumidores mais conscientes, principalmente os jovens. A preocupação se reflete em saber mais sobre os impactos ambientais e sociais. “Nossa cadeia de fornecimento está evoluindo, mas ainda é uma jornada. Estimulamos nossos fornecedores pelo programa Conexão Total que temos há três anos, buscando trazer conhecimento, estimular a sustentabilidade, e ao mesmo tempo ter a rastreabilidade da nossa matéria-prima. Temos a meta de em 2024 apresentarmos no mínimo 30% da matéria-prima sustentável, de origem renovável, reutilizada ou reciclada e ainda faltam fornecedores que nos oportunizem introduzirmos mais matérias-primas.”

Ela lembra que é importante que as empresas tenham a sustentabilidade na estratégia do negócio e não apenas em práticas pontuais, e frisa que muitas ainda tratam a sustentabilidade com foco ambiental, esquecendo-se de outras questões. “Temos que desmistificar o olhar da sustentabilidade. E como se faz a governança dessa estratégia? É importante as pessoas que trabalham na empresa, as condições de trabalho. É importante o impacto que nós geramos no processo produtivo, a energia que utilizamos, a água, as emissões. Mas, isso é um conjunto e só vai evoluir a partir do momento que é defendido dentro de uma estratégia da organização, com diretrizes e metas claras.”

Vulcabras: produção e preservação

A busca pelo equilíbrio entre as necessidades fabris, demandas de mercado e lançamentos de produtos é a principal característica da cultura sustentável implementada pela Vulcabras. Marco Antonio da Silva, diretor executivo de Engenharia, Qualidade e QMS, destaca o compromisso com a energia limpa, tratamento de água e esgoto e indústria circular, bem como a preservação dos recursos naturais, a saúde ocupacional dos colaboradores, clientes e da comunidade, sem comprometer o uso dos recursos para as gerações futuras. A sustentabilidade permeia toda a cultura organizacional da empresa, tendo o comprometimento dividido em pilares. Internamente segue rigorosos princípios de segurança no trabalho, regulamentação dos processos fabris, atendimento às normas e legislações, além de oferecer benefícios como assistência médica, academias e transporte coletivo. Externamente, a Vulcabras engajasse com clientes e fornecedores, participando na recuperação de embalagens, processos de reciclagem e na auditoria de fornecedores.

Silva salienta a evolução exponencial da indústria, especialmente no enfoque sustentável. Desde a concepção dos produtos, a empresa adota o conceito ‘by design’. “O próprio designer quando vai desenhar um tênis já pensa nas ações sustentáveis, no melhor aproveitamento de matéria-prima, fontes renováveis, menor geração de resíduos, passando pelo by process, que é a engenharia industrial trabalhando para que os processos sejam mais fluídos”, aponta. Para Silva, a indústria calçadista apresenta um crescimento significativo na adoção de práticas sustentáveis e responsabilidade social, e quando se trata da obtenção de componentes, enxerga a cadeia produtiva como uma aliada crucial. Segundo ele, fornecedores de adesivos, resinas e outros materiais oferecem desde produtos provenientes de fontes renováveis até solventes não agressivos. A parceria com empresas como a Kisafix fortalece o compromisso da Vulcabras com a sustentabilidade, proporcionando soluções completas para a produção de calçados eco-friendly.

Bottero: sustentabilidade na prática

“Respeito ao cliente e ao meio ambiente.” É assim que a Calçados Bottero (Parobé/RS) define a sustentabilidade na empresa, segundo o diretor industrial, Luiz André Simon. Ele afirma que a implementação da sustentabilidade parte de uma iniciativa da direção, com incentivos para que o colaborador participe das ações. Uma das medidas é dispor de pontos de coleta na Bottero para que os funcionários tragam de casa materiais para reciclagem na empresa.

Quando o assunto abrange o fornecedor e a demanda para produtos mais sustentáveis como componentes e outros materiais, Simon é enfático ao dizer que todo o mercado precisa estar voltado para a sustentabilidade. “Qualquer fornecedor que não trabalhar com esse pensamento, vai perder espaço no mercado. Na Bottero buscamos fornecedores que tenham o mesmo pensamento, procuramos mais produtos sustentáveis e que gerem menos resíduos”, pontua.

A preocupação com o tema também é refletida no público consumidor. Conforme Simon, a procura pelo produto sustentável não só é significativa no Brasil, como em outros lugares no mundo: “Cada vez mais o cliente busca um produto melhor, de qualidade e conforto, e principalmente durável.”

Para Simon, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a relação entre sustentabilidade e custo é enganosa. “Hoje, praticamente todo o resíduo da fábrica é reaproveitado. O copo plástico é separado, moído e é feita a vareta para o nosso sapato. Todo o couro que sobra em cada filial, volta para cá, é reclassificado por tamanho e fazemos sandálias com as partes maiores e o fio do couro que realmente não é aproveitado, é transformado em adubo. Isso é diminuição de custo porque a empresa está reaproveitando o que gera”, explica.

Calçados Bibi: parcerias e crescimento

Primeira empresa certificada no nível diamante no programa Origem Sustentável, a Calçados Bibi (Parobé/RS) revela sua abordagem inovadora e o compromisso em todos os aspectos da cadeia produtiva. Conforme o gerente de suprimentos e integrante do Comitê de Sustentabilidade, Ismael Fischer, o relacionamento da empresa com os fornecedores os faz importantes parceiros estratégicos. “Temos no Brasil uma cadeia produtiva muito forte, que está desenvolvendo várias questões relacionadas à sustentabilidade, atendendo os quesitos ambiental e econômico. Agora há um despertar nos fornecedores que estão começando a desenvolver as práticas mais fortes de governança. Consideramos isso extremamente importante para a perpetuação das empresas”, destaca.

A Bibi adota uma abordagem proativa ao fomentar relacionamentos sustentáveis com fornecedores. “Evidentemente, temos muito a melhorar ainda. Mas, acredito que estamos num patamar bem importante no Brasil, com práticas sustentáveis e visando cada vez mais usar isso como um diferencial competitivo.”

Fischer reconhece a importância de atender às expectativas dos consumidores conscientes. A empresa visa proporcionar uma experiência de compra que valorize a transparência, inovação e sustentabilidade. A ênfase na rastreabilidade e na governança reforça o compromisso em manter a confiança dos clientes.

Desde 2003, a Bibi investe em um desenvolvimento de produtos pioneiros, sendo a primeira marca brasileira a produzir calçados livres de substâncias restritas. Para o gerente de controladoria e coordenador do Comitê de Sustentabilidade da Calçados Bibi, Anderson Cardoso Alves, o propósito da Bibi é fazer o bem, ideia que permeia a cultura e história da marca ao longo de seus 75 anos. Esse propósito se reflete na criação de produtos, mas também no cuidado com processos que impactam os clientes. A Bibi estabeleceu uma meta ambiciosa: até 2030, 100% de seus fornecedores estarão certificados no programa Origem Sustentável. “Acreditamos que, como empresa, indústria e também nossos fornecedores, estando todos certificados, teremos uma cadeia forte certificada no Origem Sustentável.”

Tess Indústria: além das palavras

Definindo a sustentabilidade como ações responsáveis para minimizar o impacto ambiental, promover equidade social e garantir viabilidade econômica a longo prazo, a Tess indústria (Novo Hamburgo/RS) se destaca pelo uso responsável de recursos. Isso inclui a minimização de resíduos e a reutilização de materiais, promovendo condições de trabalho justas e investindo ativamente na comunidade local.

Para o gerente de projetos da empresa, Toni Lemos, é fundamental que a conscientização seja feita por meio de ações práticas e sustentáveis. “Ao mesmo tempo, inserimos este conceito em nosso produto, sendo este o nosso maior compromisso, ou seja, desenvolver produtos que agregam qualidade, conforto e longevidade, contribuindo assim para a preservação do meio ambiente”, assinala.

Sobre a sustentabilidade nas cadeias deias de suprimento, Tess informa que a empresa procura parceiros alinhados com seus valores, priorizando inovação sustentável, transparência e conformidade social. A Tess estabelece e mantém parcerias de longo prazo com fornecedores comprometidos com a melhoria contínua e inovação sustentável.

Como forma de atuação, Lemos cita alguns projetos: “Alguns exemplos de atuação incluem pesquisa e desenvolvimento de novos materiais com fornecedores estratégicos e instituições acadêmicas com foco inovador, investindo em tecnologias e maquinários para otimizar os processos, reduzindo as fontes geradoras e também comunicando de uma forma transparente aos consumidores acerca das ações sustentáveis que implementamos.”

Quanto às perspectivas diante da mudança de comportamento do consumidor, Lemos destaca um movimento progressivo em direção ao consumo consciente. A Tess se posiciona como uma resposta a essa demanda, oferecendo produtos duráveis, confortáveis e tecnologicamente avançados. No entanto, o gerente de projetos reconhece os desafios persistentes na indústria calçadista, onde o discurso sustentável muitas vezes supera a prática efetiva.

Grupo Ramarim: educação e conscientização

A busca por sustentabilidade tem se tornado uma prioridade para empresas em todo o mundo, e o Grupo Ramarim (Nova Hartz/RS) – de 62 anos –, não fica fora desse movimento. Rodrigo de Oliveira, diretor de inovação da empresa, compartilha as ações utilizadas para moldar uma cultura de sustentabilidade, implementando práticas inovadoras dedicadas aos princípios ambientais, sociais e financeiros.

Para a Ramarim, a sustentabilidade trata-se mais do que uma tendência. É um aprimoramento constante de uma cultura interna que envolve todos os aspectos da empresa, desde a alta gestão até os colaboradores, com o compromisso voltado para minimizar o impacto ambiental, promover a responsabilidade social e manter a saúde financeira. “Temos feito um trabalho de equipes internas, até com consultores e assessorias, nos ajudando a direcionar para uma visão sustentável, uma cultura e aprendizado para as pessoas, nossos funcionários e fornecedores”, ressalta.

A Ramarim reconhece a importância da educação e conscientização para sustentar essa mudança cultural. Por meio de palestras, simpósios e programas de treinamento, informa e inspira seus funcionários, fornecedores e stakeholders a adotar práticas sustentáveis.

Uma parte vital dessa jornada é a seleção criteriosa de fornecedores para fortalecer a cadeia de fornecimento. A empresa destaca que, além de buscar materiais de origem sustentável, realiza auditorias e adere a normas rigorosas, como as estabelecidas pelo programa Origem Sustentável.

Ao abordar os desafios enfrentados pela indústria, a Ramarim destaca a importância de equilibrar a busca pela sustentabilidade com a necessidade de manter a competitividade e a saúde financeira. Embora haja progresso significativo, reconhece que ainda há um longo caminho a percorrer em termos de pesquisa, desenvolvimento e conscientização para atingir patamares mais elevados de sustentabilidade. “Essa cadeia nos últimos três anos vem fortalecida e oferecendo muita coisa na área do calçado, seja de cabedais, resíduos, materiais, solados de injeção, cada vez mais proporcionando materiais de origem vegetal e reciclados”, observa.

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