Colunistas

Os riscos de uma recessão global

Artigo escrito pelo economista Orlando Assunção Fernandes, articulista do Exclusivo

Publicado em: 03/11/2022 10:31
Última atualização: 17/09/2024 10:35

Recentemente, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, fez um alerta sobre a possibilidade de a economia global entrar em recessão, juntando-se a vários economistas e agentes de mercado que já vinham chamando atenção para a mesma questão.

O alerta ocorre em um momento de persistência da inflação, bem como de uma tendência de aperto monetário (leia-se juros altos) por parte de diversos países.

O fato é que o mundo vem enfrentando fortes pressões inflacionárias, decorrentes tanto de uma demanda reprimida, como por uma elevação nos custos de produção, esta última gerada por crises nas cadeias globais de valor, bem como pelo encarecimento dos preços de commodities, especialmente após a deflagração da invasão russa na Ucrânia.

Diante deste cenário, bancos centrais de todo o mundo têm elevado suas taxas básicas de juros com o intuito de abortar ou ao menos arrefecer a aceleração dos preços.

Todavia, a escalada de juros altos pelo mundo, tende a piorar as condições para o consumo e para o investimento, com implicações deletérias sobre o nível de atividade econômica dos países.

Tais temores ocorrem hoje nos EUA, no Reino Unido e na União Europeia. Neste último, a proximidade geográfica com o conflito entre Rússia e Ucrânia, e a dependência de combustíveis fósseis, faz com que a crise de energia seja sentida ainda com mais força, especialmente no nível geral de preços.

Neste cenário, a tábua de salvação global poderia ser o desempenho da segunda maior economia do mundo. Contudo, a China também passa por uma desaceleração econômica, porém por motivos diferentes.

Desde o início da pandemia de covid-19, decretada pela OMC em março de 2020, o governo chinês impôs regras rígidas para evitar uma explosão de infecções, a chamada política “covid zero”.

E, nos últimos meses, o país tem enfrentado forte aumento no número de casos de covid, com grandes cidades chinesas, como Xangai, tendo decretado quarentenas rígidas, o que tem afetado a produção de bens e serviços.

Para a economia mundial, a desaceleração econômica da China traz duas consequências. A primeira é que os lockdowns, em grandes cidades do gigante asiático, acentuam as disrupções nas cadeias globais de valor (basta ver o caso dos semicondutores), ajudando a pressionar ainda mais os preços.

Além disso, como grande compradora de produtos de diferentes partes do mundo, o arrefecimento da
economia chinesa prejudica as exportações dos países, acentuando a desaceleração econômica global.

Como se pode notar, diante de uma economia global com pouca tração e defrontada por uma estagflação (pouco crescimento e alta inflação), não há muito o que bancos centrais possam fazer para evitar a desaceleração da atividade econômica.

Isto porque, como admitiu recentemente o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, primeiro será preciso controlar a disparada nos preços para depois ver o que fazer com a atividade econômica.

ExclusivoGrupo Editorial Sinos
Gostou desta matéria? Compartilhe!
Matérias Relacionadas