Maribel Silva: referência feminina no setor calçadista

Foto: Divulgação/Beira Rio

Com uma trajetória de 22 anos na Calçados Beira Rio S.A. (Novo Hamburgo/RS), Maribel Silva é uma das poucas mulheres em cargos de liderança no setor calçadista. Construiu sua história buscando oportunidades, especializando-se na área de atuação e, hoje, é diretora comercial e marketing da empresa, que conta com 8 mil colaboradores. Na entrevista a seguir, ela fala sobre a carreira, principais desafios, liderança e igualdade de gênero.

Como você ingressou no setor calçadista?

Sempre gostei de trabalhar e de me vincular às pessoas. Fiquei 14 anos em uma função pública na Prefeitura de Três Coroas/RS, mas tinha aquela inquietude de querer me desenvolver mais, de inovar, e isso me levou a ir trabalhar na Calçados Beira Rio. Comecei quando a fábrica ainda era em Igrejinha e estou há 22 anos na empresa. Acredito que é preciso se apaixonar pelo que se faz. É o trabalho, mas é também onde tu te realizas. Comecei como atendimento, depois fui secretária do senhor Roberto Argenta e fui seguindo a carreira e buscando formação. Sempre gostei de Marketing, então eu fiz, além de Administração, o curso de Marketing. O prazer em servir, me relacionar com as pessoas e ver que através do trabalho tu podes construir algo, é a minha verdadeira paixão.

Você acha que estratégias comerciais e marketing andam sempre lado a lado?

Eu acredito que sim. É preciso ter uma unidade de ação, uma linha muito conexa desde pensar como o produto vai ser concebido, o estético, design, conforto, entender quem é consumidor. Tem que haver uma conexão, né? E, na hora de vender, mostrar que ele foi fabricado com valor, com sentimento, e fazer chegar aos consumidores toda essa intencionalidade.

Nestes 22 anos trabalhando na Beira Rio, qual foi o seu maior desafio?

Acho que o principal desafio é sempre formar equipes. Hoje, nós atuamos com 600 representantes comerciais e é preciso buscar uma sintonia, estabelecer um padrão de venda, alinhar as equipes com os propósitos das marcas e motivá-las a terem orgulho do seu trabalho. Quando as pessoas se comprometem, elas se apaixonam e crescem. Isso em todos os sentidos, pessoal e profissional. Então, penso que é um caminho de construção progressivo e de long life learning (aprendizado contínuo).

Como foi a construção da sua carreira até chegar ao cargo de diretora?

Fui sempre em busca de oportunidades, pois percebia que gostava do que fazia e tinha capacidade de evoluir. Gosto de negociar, de ver que os clientes estão satisfeitos. Até coloquei um lema aqui: "alegria, energia, pedido todo dia". E tudo isso nasceu de momentos naturais, sentindo as pessoas, o mercado, o ambiente de trabalho. Fomos contagiando mais as pessoas e colocando um padrão mais leve na empresa.

O que o cargo de líder significa para você?

Acredito que liderança significa a responsabilidade de você despertar (através do exemplo, nunca do cargo) a vontade nas pessoas de fazer algo também, de inspirar e fortalecer a opção pelo caminho do protagonismo, da realização.

E como se sente sendo uma das poucas mulheres líderes no setor calçadista?

Tenho um grande orgulho em ser mulher, mas sempre me coloquei como profissional independente de gênero. Acredito que temos sempre que buscar confiança em nós mesmos, acreditando primeiro na gente. E depois buscar um alinhamento do teu propósito com os projetos da empresa.

Hoje, a maior parte do quadro de colaboradores da Calçados Beira Rio é composta por mulheres. É uma aposta em valorizar a mão de obra feminina?

A Beira Rio oportuniza muito e, naturalmente, as mulheres começaram a ter um papel cada vez mais relevante no setor calçadista. Elas estão conquistando os seus espaços e produzindo com qualidade. Temos orgulho em dizer que somos muitas mulheres produzindo para o mundo. Acredito que haja uma sintonia entre o gênero e a nossa formação humanista. Somos uma empresa de alma e coração, que leva valores e se identifica com o espírito feminino. São mulheres - e que também são consumidoras! Por isso, são profundamente envolvidas e estão em todos os setores, desde quem desenha até quem coloca a mão no calçado.

Como foi liderar uma empresa calçadista em meio à pandemia?

É algo que a gente não imagina que vai acontecer na nossa trajetória. De repente, acontece uma pandemia e você se vê tendo que lidar com isso da noite para o dia. Foi realmente difícil. Mas serviu para vermos o quanto somos fortes e contamos com a confiança dos nossos clientes e equipe. Tem uma frase que é muito importante para nós: "mantenha a sua raiz intacta, que tudo voltará a florescer". Sempre confiamos que tudo iria passar e os negócios voltariam a ocorrer. Foi um aprendizado constante. Não vivemos para problemas, vivemos para buscar soluções. O resultado é uma coleção comercialmente potente, esteticamente assertiva e que está vendendo muito bem.

E o que você espera para 2022?

Para 2022 eu vejo a volta da celebração pela vida, pelo conforto e pelo viver.