Abertura irrestrita preocupa o setor coureiro-calçadista

16.06.2021 - Juliana Nunes

A ideia de uma abertura comercial irrestrita para produtos estrangeiros, com a redução da Tarifa Externa Comum (TEC) - tarifa de importação aplicada para produtos de fora do Mercosul- trouxe apreensão para o setor coureiro-calçadista.

Embora ainda não seja oficial, uma consulta pública já está em andamento sobre acordos comerciais entre o Mercosul, Vietnã e Indonésia, alguns dos principais concorrentes do setor em nível mundial.

Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, o livre acordo traria consequências negativas.

"Um livre acordo poderia dizimar nossa indústria calçadista. Para alguns setores pode ser favorável, mas para a Indústria da Transformação, não. Em nenhum momento fomos contrários a abertura comercial. O grande problema é que seria feito em demasiada pressa frente às reformas estruturantes que precisam ser feitas no País", ressalta.

Custos

Ferreira lembra que os custos com mão de obra e insumos no Brasil são superiores aos asiáticos. "Ao reduzir simplesmente o imposto seríamos penalizados. O custo do trabalho na Ásia é inferior. Há ainda custo dos insumos, como resinas e PVC, que no Brasil são dolarizados e representam 41% a mais que no Vietnã e 54% a mais que na Indonésia. Assim, ao invés de crescer vamos perder postos de trabalho com a abertura irrestrita", avalia.

A Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI-NH/CB/EV) acredita em acordos comerciais para aumento da produtividade e competitividade, mas não de forma irrestrita.

"Somos totalmente contra a abertura irrestrita. É justo com o país que tem qualidade de vida e remuneração iguais ou melhores, se retira a barreira de entrada e compete de igual para igual. Pagamos oito vezes o salário que se tem no Vietnã. E o calçado é a indústria que mais gera mão de obra, ela beira 50% do faturamento da empresa. Com a abertura irrestrita mais da metade das vagas do setor seriam encerradas", observa o vice-presidente de Indústria da ACI-NH/CB/EV, Frederico Wirth.

Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), caso o acordo seja efetivado, o setor perderia mais de 6% do seu PIB.

Reforma tributária é necessidade

Ainda conforme Ferreira, tanto o ministro da Economia Paulo Guedes, quanto o secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, afirmam que a abertura comercial irrestrita só será realizada mediante redução proporcional do Custo Brasil.

"Toda indústria defende que a redução da tarifa só pode ocorrer a partir da redução do Custo Brasil. Para isso são necessárias reformas, a começar pela tributária", enfatiza Ferreira.

Além disso, existe um processo para renovação do antidumping contra o calçado chinês - que prevê sobretaxa de US$ 10,47 por par importado da China -, e a ampliação para os produtos vindos do Vietnã e Indonésia, justamente em função de uma concorrência desleal.

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