Economia anda, porém sem sair do lugar

07.04.2022

No último mês de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados consolidados do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2021.

De acordo com o IBGE, o PIB encerrou o ano com crescimento de 4,6%, totalizando 8,7 trilhões de reais. Este avanço recuperou as perdas de 2020, quando a economia brasileira encolheu 3,9% devido à pandemia, mas ainda continua 2,8% abaixo do ponto mais alto da série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014.

Ao analisarmos os números do PIB pela ótica da oferta, percebemos que o crescimento da economia brasileira em 2021 foi puxado principalmente pela recuperação do setor de serviços (4,7%) e que justamente foi o que mais sofreu em 2020 no auge da pandemia.

O avanço da vacinação e a flexibilização das medidas restritivas fizeram com que a maior alta neste setor fosse registrada nas atividades de transporte (11,4%) com o retorno das viagens.

O setor industrial, que também havia recuado em 2020, apresentou crescimento expressivo (4,5%) em 2021. O maior destaque foi a construção civil, que, após tombar 6,3% em 2020, subiu 9,7% em 2021.

O único setor do PIB que registrou contração foi o agropecuário, precisamente aquele que havia apresentado crescimento em 2020. A queda de 0,2% em 2021 pode ser explicada por uma combinação de estiagem prolongada e geadas. Culturas importantes registraram quedas de produção, tais como cana-de-açúcar (-10,1%) e café (-21,1%).

Também ao contrário do que havia acontecido em 2020, todos os componentes do PIB pela ótica da demanda avançaram em 2021, contribuindo positivamente para o crescimento brasileiro no ano que passou.

O consumo das famílias, principal força motriz da economia, avançou 3,6% e o consumo do governo subiu 2,0%. No ano anterior, esses componentes haviam recuado 5,4% e 4,5%, respectivamente.

A melhora no mercado de trabalho e o pagamento do auxílio Brasil, além da própria reabertura da economia, foram os fatores que explicaram o bom resultado do consumo das famílias em 2021. Todavia, a aceleração da inflação e a elevação das taxas de juros contribuíram para que o resultado não fosse ainda melhor.

Já a formação bruta de capital fixo (o volume de investimentos da economia), que havia encolhido em 2020, avançou 17,2% em 2021, sendo favorecida pela construção civil e pela produção de bens de capital.

No que tange ao comércio exterior, as importações registraram alta de 12,4% e as exportações de 5,8% em 2021. Com o reaquecimento da economia brasileira as compras de produtos estrangeiros acabaram por apresentar forte aceleração.

Assim, como se pode perceber a partir de um olhar mais detido sobre os dados do PIB, os resultados de 2021 são o oposto daqueles registrados e divulgados no ano anterior, isto é, os setores que encolheram em 2020 foram precisamente os que cresceram em 2021, e vice-versa.

Ademais, vale também registrar que o crescimento econômico brasileiro de 2021, apesar de significativo, simplesmente nos trouxe de volta ao patamar de 2019 (pré-pandemia), revelando que, em essência, passados dois anos, não saímos do mesmo lugar.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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