O dilema do Copom

10.02.2022

OComitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) deu sequência, no último dia 2 de fevereiro, ao ciclo de elevação da taxa Selic iniciado em março de 2021, elevando, uma vez mais, a taxa básica de juros.

Nesta primeira reunião do ano, e como esperado pela ampla maioria dos analistas de mercado, o BC elevou em mais 1,5 ponto percentual a taxa Selic, em sua oitava alta consecutiva. Assim, a taxa Selic passou de 9,25% para 10,75% ao ano, a primeira vez, desde maio de 2017, que a taxa volta ao patamar de dois dígitos.

No comunicado divulgado ao público, após a decisão, o BC deixou claro que dará seguimento a sua estratégia de elevação da Selic para combater a aceleração inflacionária. Todavia, fez questão de sinalizar também que o movimento deve perder ritmo e que novas altas serão agora de menor intensidade.

O BC ressaltou ainda que os próximos passos da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, mas que estes dependerão da evolução da atividade econômica e das projeções e expectativas para a inflação no horizonte de tempo relevante.

A impressão que se tem é de que os membros do Copom reconhecem que a taxa Selic já se encontra em nível considerável e temem reflexos mais severos sobre o ritmo de atividade econômica em especial em um ano eleitoral, haja vista as decisões do COPOM levarem cerca de 6 a 9 meses para se fazerem sentir, podendo, assim, afetar negativamente o cenário econômico, justamente às vésperas das eleições.

Por outro lado, o BC teme também arranhar ainda mais a sua credibilidade, caso não seja rigoroso o suficiente e venha a descumprir, pelo segundo ano consecutivo, a meta de inflação que para este ano é de 3,5% com teto de 5,0%, sendo que neste momento as projeções do mercado (de acordo com o Relatório Focus) já se encontram em 5,5%.

Esta preocupação fica evidente quando o Copom afirma: “...o Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação... Isso implica maior probabilidade de trajetórias de inflação acima do projetado...”.

A questão é que o BC se encontra diante de uma encruzilhada, haja vista reconhecer que a taxa de juros já se encontra em patamar elevado e em território considerado significativamente contracionista, em um cenário em que a renda dos trabalhadores está estagnada e cujas projeções para a atividade econômica neste ano são de um crescimento pífio de 0,3%.

Ao mesmo tempo, reconhece também que os riscos fiscais decorrentes de medidas populistas, o câmbio desvalorizado e o preço do petróleo acima dos 90 dólares (podendo ir além dos 100 a depender do desenrolar das tensões entre Rússia e Ucrânia) pressionam os preços e, por conseguinte, os índices de inflação, demandando maiores elevações na taxa básica de juros brasileira.

O que pesará mais na balança das próximas decisões de política monetária do Copom só o tempo e um minucioso acompanhamento dos indicadores econômicos vindouros poderão dizer.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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