A decepção com o PIB do 3° trimestre

07.12.2021

No dia 2 de dezembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Produto Interno Brasileiro (PIB) do terceiro trimestre. De acordo com o IBGE, o PIB apresentou queda de 0,1% em relação ao segundo trimestre do ano quando caiu 0,4%. Este segundo resultado negativo consecutivo na comparação trimestral consolida o que os economistas chamam de recessão técnica.

Com este decepcionante resultado, o PIB se mantém no patamar do fim de 2019, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto obtido na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014, ainda no Governo Dilma Rousseff.

Ao analisarmos os números do PIB pela ótica da oferta, percebemos que o setor agropecuário foi aquele que mais encolheu, registrando queda de 8,0%, consequência do encerramento da safra de soja, além do fato de vir de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia.

Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB nacional, ficou estável (0,0%) no trimestre. Os persistentes problemas na cadeia produtiva, além da crise energética, afetaram o setor industrial. Houve crescimento apenas na construção (3,9%). As indústrias de transformação (-1,0%) e extrativa (-0,4%) apresentaram queda.

O único setor do PIB que registrou crescimento foi o de serviços com alta de 1,1%. Com a gradual reabertura da economia, devido à queda no número de casos de Covid-19, as famílias voltaram a consumir mais serviços.

Já quando analisamos o PIB pela ótica da demanda, tanto o consumo das famílias (0,9%), como o consumo do governo (0,8%) apresentaram crescimento modesto na comparação com o trimestre anterior.

O consumo das famílias, principal força motriz da economia, foi influenciado pelo avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade das pessoas. Já o consumo do governo apresentou leve expansão com a reabertura de equipamentos públicos e a retomada da prestação de serviços, tais como o de escolas e universidades.

Todavia, a formação bruta de capital fixo (-0,1%), as exportações (-9,8%) e importações de bens e serviços (-8,3%) apresentaram queda frente ao trimestre imediatamente anterior.

Os péssimos números do comércio de bens e serviços com o exterior, fortemente influenciados pela safra de soja e de outras commodities como o café, certamente contribuíram para trazer a variação do PIB para território negativo.

Como se pode depreender, a partir de um olhar mais detido sobre os dados do PIB, a tão esperada retomada da economia (pós-pandemia) começa a dar sinais de arrefecimento e já suscita revisões para baixo nas projeções do PIB deste ano e do próximo.

A queda da massa salarial, a corrosão do poder aquisitivo das famílias pela alta inflação e as sucessivas elevações da taxa básica de juros pelo Banco Central parecem já começar a deixar marcas sobre o nível de atividade.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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