Indícios de retomada

08.06.2021

No início de junho o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou os dados do Produto Interno Brasileiro (PIB) com os resultados para o primeiro trimestre de 2021 e, de acordo com o instituto, o PIB apresentou, nos três primeiros meses do ano, crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior.

Os números divulgados confirmam a tendência de retomada que já vinha sendo antecipada pelos economistas através dos dados de aumento da arrecadação de impostos, consumo de energia, produção de papelão ondulado, entre outros.

Ao analisarmos os números do PIB pela chamada ótica da oferta, ou seja, pelos grandes setores que compõem a economia, notamos que todos apresentaram crescimento, sendo liderados, uma vez mais, pela agropecuária.

O setor agropecuário cresceu 5,7% em relação ao último trimestre de 2020, puxado pelas exportações de produtos como soja, fumo e arroz.

O setor industrial também apresentou alta de 0,7%, liderado pela indústria extrativa (3,2%) fortemente beneficiada pela exploração de minérios ferrosos. Também registraram taxas positivas os subsetores da construção (2,1%) e de eletricidade e gás (0,9%).

Já o setor de serviços, que havia sofrido em 2020, voltou a apresentar crescimento, porém com menor taxa, com uma alta de 0,4% frente ao último trimestre de 2020. Os resultados mais positivos vieram dos subsetores de transporte e armazenagem (3,6%), intermediação financeira (1,7%) e comunicação (1,4%). A única variação negativa veio da administração, saúde e educação públicas com queda de 0,6%.

Quando olhamos o PIB pela ótica da demanda, percebemos que a recuperação do PIB no primeiro trimestre não foi homogênea, tendo componentes apresentado expansão e outros contração.

O consumo das famílias, por exemplo, apresentou queda de 0,1% em relação ao quarto trimestre de 2020 e contração de 1,7% frente ao mesmo período do ano anterior. Este resultado negativo pode ser explicado pelo aumento da inflação e pelos reflexos da pandemia no mercado de trabalho, que vem reduzindo a renda e o percentual de pessoas ocupadas.

As despesas de consumo do governo também apresentaram queda de 0,8% e de 4,9%, respectivamente, em relação ao primeiro e quarto trimestres de 2020, devido, entre outros, aos menores gastos com educação.

Porém, a chamada formação bruta de capital (despesas com investimentos) avançou 4,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior, e impressionantes 17,0% frente ao primeiro trimestre de 2020, sendo a maior taxa registrada desde o segundo trimestre de 2010. Este crescimento foi puxado pela forte produção de máquinas e equipamentos e pelo desenvolvimento desoftwares.

As exportações de bens e serviços também apresentaram alta de 3,7% e 0,8% em relação ao primeiro e quarto trimestres de 2020, respectivamente. Os setores que mais contribuíram para o resultado positivo foram o de minerais metálicos, produtos alimentícios e veículos automotores.

Como se pode depreender pelos dados, os números da atividade econômica do primeiro trimestre, apesar de ainda dispersos em seus diferentes componentes, dão indícios de uma retomada e renovam a esperança dos agentes econômicos por dias menos sombrios.

Todavia, para que tais números sejam mais do que meros indícios e transformem-se em crescimento econômico duradouro e sustentável, muito há ainda a se fazer. Entre as tarefas mais prementes estão a reorganização das finanças públicas e a celeridade no processo de vacinação que permitirá a reabertura total da economia e a retomada gradativa do nível de emprego e, por conseguinte, do consumo das famílias.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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