Um novo ciclo

07.04.2021

No mês passado, o Banco Central do Brasil (BC) iniciou, após seis anos, um novo ciclo de aumentos da taxa Selic, a taxa básica de juros da economia. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual, de 2% para 2,75% ao ano.

Em seu comunicado pós-reunião, o Copom deixou explícito que fará um novo ajuste de igual magnitude já em seu próximo encontro, e tudo indica que tais aumentos não se limitarão apenas a estes.

De acordo com as projeções compiladas pelo próprio Banco Central junto a instituições financeiras, o chamado “mercado” espera que a taxa de juros termine o ano em 5% e que chegue a 6% em 2022.

O Banco Central argumentou, na ata de sua reunião, que este aumento se fez necessário para trazer a inflação para as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que são, respectivamente, para os anos de 2021 e 2022, de 3,75% e 3,50% ao ano, ambas com uma banda de variação de 1,5% para mais ou para menos.

Infelizmente esta decisão chega no pior momento da pandemia, quando temos recordes de contaminação e de mortes, aumento de restrições de circulação das pessoas com arrefecimento no nível de atividade econômica, bem como maior pressão sobre as contas públicas com o pagamento do auxílio emergencial e maiores gastos com aquisição de vacinas e outros medicamentos.

O certo é que a atual pressão inflacionária, decorrente do aumento dos preços dos derivados de petróleo e da forte alta do dólar, fez o BC tomar esta decisão, tornando evidente, como já discuti em artigo publicado neste espaço, os riscos de se perseguir metas de inflação mais restritivas (menores).

Isto porque quando surgem pressões inflacionárias de custos (como as que mencionei acima), a fixação de uma meta de inflação mais estreita acaba por exigir maior esforço da política monetária (leia-se elevação da taxa básica de juros) para manter a inflação dentro dos parâmetros estabelecidos pelo CMN.

Dito de outra maneira, busca-se combater uma inflação com origem na estrutura da oferta da economia (commodities e câmbio), com um instrumento que serve para controlar uma inflação tipicamente de demanda, num momento em que há, evidentemente, fraqueza no ímpeto do consumo das famílias e das empresas.

É importante que fique claro aqui que não se questiona os benefícios para a sociedade de se perseguir uma meta de inflação menor, haja vista os efeitos deletérios de uma alta de preços na redução do poder de compra da população, especialmente para o chamado público desbancarizado.

O que se está aqui a discutir é que diante de uma economia debilitada e convivendo claramente com uma inflação de custos, o remédio empregado para tentar trazer a inflação para o centro de uma meta mais restrita é elevar a taxa básica de juros, em um cenário de desemprego e informalidade em ascensão, indo na contramão do mundo.

O fato é que este novo ciclo de alta da taxa Selic jogará maior pressão nas já combalidas contas públicas (através dos gastos com pagamento de juros da dívida) e deprimirá ainda mais o consumo das famílias em um cenário de desaceleração econômica e aumento de desemprego, minando a possibilidade de uma retomada mais célere e robusta da economia no pós-pandemia.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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