2020: Um ano para (não) esquecer

10.12.2020

Chegamos ao fim de 2020 e, como de costume nesta época, é hora de fazer um balanço do ano que se encerra. Todavia, este não foi apenas mais um ano. Vimos nossas casas se transformarem em escritórios, deixamos de frequentar nossos restaurantes favoritos, não fomos aos cinemas e nem assistimos aos jogos de nossos times nos estádios, deixamos de abraçar e conviver com amigos, perdemos pessoas queridas.
Em maior ou menor intensidade todos fomos afetados pela pandemia de Covid-19 e, naturalmente, a economia não passaria incólume.

No início do ano, ainda sem ter a dimensão dos impactos que o coronavírus poderia produzir na dinâmica econômica, analistas projetavam que a economia brasileira deveria apresentar um crescimento da ordem de 2,5% do PIB.

Imaginava-se, diante deste cenário mais otimista, que o mercado de trabalho daria sinais de aquecimento e que a inflação se manteria comportada não exigindo elevação da taxa Selic, o que poderia ajudar, inclusive, a melhorar o resultado das finanças públicas do governo federal.

Porém, em um mundo globalizado, a doença causada pelo SARS CoV-2, que surgiu primeiramente em Wuhan na China, transformou-se rapidamente em pandemia e todas aquelas projeções foram por água abaixo.

O nível de atividade econômica desabou e a economia brasileira deverá terminar o ano com uma contração em torno de 4,5% e uma taxa de desemprego se aproximando dos 15%.

A inflação, em especial nos últimos meses, acelerou por causa das altas dos alimentos e dos preços que ficaram represados durante o auge da pandemia, e a taxa selic, reduzida para a sua mínima histórica (2% a.a.), fez o país operar em um cenário sem precedentes de juros reais negativos, denotando a gravidade da crise provocada pelo vírus.

O governo federal, que já apresentara déficit nas contas públicas em 2019, deverá ultrapassar neste ano, por causa do auxílio emergencial e dos gastos com a pandemia, a histórica marca de 1 trilhão de reais de déficit nominal com uma dívida pública bruta aproximando-se da casa dos 100% do PIB.

Já o comércio exterior brasileiro sofreu com o cenário internacional complexo e conturbado provocado pela pandemia. Todavia, as importações caíram ainda mais do que as exportações e a balança comercial deverá apresentar um superávit da ordem dos 55 a 60 bilhões de dólares.

Por fim, a aprovação das reformas estruturantes (como a tributária) e as privatizações, apostas do Ministro da Economia, também não saíram do papel. A falta de coordenação política, o foco nas eleições municipais e, claro, as atenções voltadas à pandemia, deixaram estas discussões paradas no parlamento.

Como se vê os resultados apresentados pela economia brasileira em 2020 são, como se diz no jargão popular, de se esquecer. Todavia, a dor daqueles que perderam entes queridos, a dedicação dos profissionais da saúde na busca de um tratamento, o empenho de cientistas e pesquisadores para a criação de uma vacina, a agilidade de governos e agentes econômicos em encontrar soluções para o enfrentamento da pandemia e a união das pessoas e sua capacidade de adaptação ao chamado novo normal devem ser sempre lembrados.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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