O 'gringo' que aprimorou os calçados vulcanizados

14.07.2022 - Michel Pozzebon | Jornal Exclusivo

A série Feed de Mercado dá sequência ao projeto Calçado & Carreira. Capitaneado pelo Jornal Exclusivo e Orisol do Brasil, apresenta cases inspiradores e valoriza os profissionais que fazem a diferença no setor calçadista, tanto no mercado nacional como internacional.

Foto: Divulgação
Breda tem 61 anos de idade, dos quais 39 dedicados à indústria brasileira de calçados
Altamir Antônio Breda, mais conhecido como Gringo, se notabilizou como um dos grandes nomes da indústria calçadista no Brasil. Com 61 anos de idade, dos quais 39 dedicados ao setor, ele foi o responsável por difundir um novo método de vulcanização de calçados em autoclave no País e por, em 1998, participar da criação de uma das maiores cooperativas da indústria calçadista nas Américas, a Coopershoes (Picada Café/RS).

Pai de três filhos, o empresário é natural de Farroupilha/RS, na Serra gaúcha, gosta de pescar, torce para o Grêmio e adora estar com a família e amigos. É técnico em calçados pela Escola Técnica do Calçado Senai (hoje Instituto Senai de Tecnologia em Calçado e Logística Industrial), também tem qualificação técnica na companhia sul-coreana de comércio exterior Kukje Corporation e qualificação Química pela marca japonesa de artigos esportivos Mizuno.

O empresário explica que o ingresso no setor calçadista, aos 16 anos de idade, não foi por influência. "E sim oportunidade de emprego", frisa. Com 17 anos, se transferiu para Novo Hamburgo/RS, no Vale do Sinos, onde segundo ele surgiu a "paixão pelo calçado". Cinco anos depois, em 1983, a empresa em que trabalhava o incumbiu de desenvolver um novo método para a vulcanização de calçados. Na época, ele conta que foi procurar o auxílio de um profissional especializado na área da borracha. "Após muita insistência, eu e o João Flores, um expert da borracha, conseguimos chegar a uma nova forma de vulcanizar calçados em autoclave diferente da que existia no mercado brasileiro", observa. Segundo ele, o método é amplamente utilizado até hoje no processo produtivo por praticamente todas as fábricas que trabalham com calçados vulcanizados no País. "Posso dizer que fui um dos responsáveis pela tecnologia de tantas fábricas de vulcanizado espalhadas pelo Brasil", afirma Gringo.

Do operacional ao técnico

Antes de chegar à gestão da Coopershoes e se tornar o diretor-presidente da companhia que produz 12 milhões de pares de calçados por ano, Gringo passou por diversas funções dentro de uma fábrica calçadista, do operacional ao técnico. Começou na produção, passou pela modelagem técnica, supervisão fabril, gerência fabril, assessoria industrial, desenvolvimento e vendas.

Criação da Coopershoes

A ideia de criar a Coopershoes, há 24 anos, surgiu a partir da falência da empresa em que Gringo trabalhava como assessor industrial. Na época, um dos advogados que dava assistência falimentar ao empreendimento sugeriu a formação de uma cooperativa. "Como somente restavam duas unidades fabris abertas e produzindo, levei a ideia para a fábrica de Joaneta (Picada Café/RS). A proposta acabou sendo aceita pelos líderes da unidade, colaboradores e sindicato", conta o empresário. Segundo ele, após a adjudicação dos direitos trabalhistas (ato judicial que transfere a posse de um bem de um devedor a um credor, dentro de uma execução de dívida, que é quitada a partir da transferência do bem) foi dado início às operações da Coopershoes.

Parceria com a Converse

A parceria da Coopershoes com grandes marcas internacionais de calçados, como a Converse, foi estabelecida nos primeiros anos de operação da cooperativa. "Três anos após o nascimento da Coopershoes surgiu a vontade de crescer na comercialização de marcas. Como nascemos especializados em vulcanizados, buscamos contato com a Converse pela sinergia que teríamos, e assim fechamos a parceria em 2003 e que segue até hoje conosco", explica o empresário. Ele acrescenta que o trabalho para a marca norte-americana contribuiu não só para a consolidação como também para a expertise do negócio. "Esta parceria e ajuda mútua faz com que as duas partes sejam bem-sucedidas. No dia a dia aprendemos, ensinamos e no fim nos tornamos uma grande família."Dentro da expertise adquirida no relacionamento com brands globais, o estabelecimento da parceria com a Converse, por exemplo, contribuiu também para que a Coopershoes elevasse o nível da qualidade de seu portfólio de produtos. "Em um primeiro momento nos adaptamos a normas internacionais de qualidade e qualificação de nossos colaboradores. Temos um excelente laboratório e tudo o que fizemos é baseado nas exigências globais das marcas", afirma Gringo. A empresa conquistou, ao longo de seus 24 anos de mercado, diversos certificados internacionais, que atestam a excelência dos seus processos. "A busca incessante por novas tecnologias é prioridade para mantermos nossos parceiros", sustenta.

Estrutura e mercado externo

Atualmente, a companhia gerida por Gringo tem cinco plantas industriais distribuídas no Brasil e na Argentina, emprega 9 mil pessoas (entre colaboradores diretos e terceirizados) e produz anualmente 12 milhões de pares entre calçados cementados e vulcanizados. Segundo o empresário, a exportação responde por 20% da receita da cooperativa. Hoje, o empreendimento exporta para países como Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Colômbia, Peru, Bolívia e Panamá.

Gestão e custos

Sobre gerir uma companhia do porte da Coopershoes, o empresário reforça a importância da manutenção e valorização da mão de obra. "É preciso estar atualizado, buscar de forma incessante tecnologia, treinamento constante e principalmente, dar valor a quem no dia a dia faz acontecer: nossos colaboradores", aponta. Quanto a exercer um cargo de liderança nos dias de hoje, Gringo sustenta que a experiência é fundamental para o bom exercício da função. "Ter experiência no que se está fazendo, ser respeitado e respeitar seus subordinados e, principalmente estar atento a tudo de novo que acontece no Brasil e no mundo", salienta.

O gestor observa com cautela as questões relacionadas ao aumento dos custos na indústria, especialmente com matéria-prima e insumos. "Não vejo no curto prazo como mudar isto. O mundo sofre com inflação e desabastecimento. Mais de 50% do calçado vulcanizado e seus derivados são importados. Infelizmente não dependemos somente de nós", completa Gringo.

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