A série Feed de Mercado dá sequência ao projeto Calçado & Carreira. Capitaneado pelo Jornal Exclusivo e Orisol do Brasil, apresenta cases inspiradores e valoriza os profissionais que fazem a diferença no setor calçadista, tanto no mercado nacional como internacional.
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O primeiro contato de Cristine com o setor calçadista foi ainda na infância. Ela recorda que visitava a Piccadilly com o paí e que fazia desenhos, que ficavam expostos na mesa de trabalho dele.
Profissionalmente, Cristine viveu a sua primeira experiência na própria Piccadilly, quando fez um estágio na indústria aos 17 anos. "Tive a oportunidade de aprender todas as operações do processo de fabricação de um calçado e a conviver com pessoas que me ensinaram muito sobre calçados e sobre a vida", conta.
Apesar da admiração pela marca Piccadilly, Cristine confessa que no início da carreira não tinha interesse em trabalhar na empresa da família. "Não queria que dissessem que eu estava nela só por ser filha de um dos donos", frisa. Foi aí que ela buscou viver outras experiências profissionais. Após o estágio na fabricante calçadista, ela trabalhou em um banco e depois fez intercâmbio. Com 20 anos começou a estagiar em uma agência de propaganda, onde ficou por três anos. "Lá aprendi muito sobre ser empresária, líder e também muito sobre o mundo das marcas e da comunicação", observa.
Aos 24 anos, quando já estava graduada e prestes a se formar no MBA em Marketing pela FGV, Cristine foi convidada pelo tio, Paulo Grings, então presidente da Piccadilly e responsável pela área comercial e de Marketing, a assumir a gerência de Marketing da empresa. Três anos depois, ela se tornou diretora de Marketing da companhia. Aos 33 anos, passou para a vice-presidência e, aos 34, assumiu a presidência. "Fui escolhida pela terceira geração da nossa família empresária para assumir a função, decisão esta validada pelo então presidente e demais diretores e acionistas da Piccadilly", explica.
Sobre presidir uma das mais tradicionais fabricantes de calçados do País, a gestora conta que o desafio é grandioso. "Tenho muito orgulho de fazer parte da linda história da nossa empresa familiar e o que me move é contribuir para que a Piccadilly possa completar cem anos sólida e bem sucedida, sendo que em junho completaremos 67 anos". destaca. Sobre o seu papel como líder, ela reforça a importância do senso de coletividade. "A verdade é que ninguém faz nada sozinho, o nosso desafio como líderes é transformarmos nosso sonho pessoal em um sonho coletivo. É preciso encorajar, motivar, desenvolver as pessoas para que descubram as suas potencialidades e evoluam continuamente, ajudando a tornar o nosso sonho (nosso mesmo, não mais meu) realidade", ressalta Cristine.
A gestora conta que o avô Almiro e o paí Tibúrcio, considerados dois grandes nomes da indústria calçadista brasileira, contribuíram sobremaneira na construção de sua carreira, bem como na sua reputação. "São ícones do nosso setor e sucedê-los tem sido uma tarefa de enorme responsabilidade. É inspirador e também mobilizador para eu aprender com seus legados e buscar seguir os seus passos. Ambos são exemplos de homens visionários, fortes, corajosos e ao mesmo tempo muito solidários e humildes", salienta
Cristine foi uma das primeiras mulheres no Brasil a ocupar um cargo de presidente de uma empresa calçadista. Atualmente, 50% da alta gestão da Piccadilly é formada por mulheres - sendo a presidente e a vice-presidente mulheres. Além disso, a empresa tem o selo WOB pela presença feminina no Conselho de Administração, além de possuir 60% de colaboradoras mulheres, com muitas delas em cargos de liderança usualmente geridos por homens. "É uma honra, um privilégio e, ao mesmo tempo, também uma grande responsabilidade, um compromisso como uma presidente mulher. Nós, na Piccadilly, temos como propósito o encorajamento feminino e realizamos iniciativas em prol deste propósito, que é uma grande verdade, uma essência do nosso negócio", conta Cristine.
Na opinião da executiva, a mulher tem total condição de assumir o papel que desejar. "O sucesso no mundo dos negócios está ligado ao profissionalismo, capacidade, dedicação, entrega, atitude, e não a gênero. Por essa razão, meu desejo é que nós na Piccadilly possamos servir de exemplo e também como uma alavanca que encoraje e apoie as mulheres na busca pela realização dos seus sonhos", aconselha.
Segundo a gestora da Piccadilly Company, a empresa calçadista vem trabalhando há cerca de dez anos, de forma consistente, o tema de governança familiar, que na avaliação dela tem sido fundamental para um processo de sucessão bem sucedido dentro da companhia. A empresa tem uma gestão familiar, mas ao mesmo tempo cada vez mais profissionalizada, além de conselho de administração, conselho de família e, mais recentemente, estruturou um conselho de sócios.
Sobre a receita para manter competitiva nos dias de hoje a empresa fundada pelo avô, sem perder a essência, Cristine é enfática. "Na Piccadilly nós temos a clareza de que o que nos trouxe até aqui não vai nos levar aos cem anos. Por isso, a gente tem buscado construir o equilíbrio entre manter nossos valores e princípios, preservando o que é a nossa essência e nos permitiu completar 66, quase 67 anos, ao mesmo tempo em que precisamos nos adaptar com velocidade ao que o mercado tem exigido de todos nós como profissionais e assim trazer inovação e transformação para o negócio", aponta. Para ela, a transformação cultural é uma das mudanças mais complexas a serem feitas. "E leva tempo, mas com consistência, perseverança e tendo a consciência e a clareza de onde se deseja chegar é possível e recompensador", finaliza Cristine.