Setor calçadista projeta crescimento de até 14% em 2021

16.04.2021 - Juliana Nunes

O setor calçadista brasileiro passou por uma breve recuperação no segundo semestre do ano passado e em 2021 voltou a sofrer os impactos da pandemia do novo coronavírus. Ainda assim, o setor espera crescer entre 12% e 14% este ano.

A expectativa positiva foi confirmada pelo relatório setorial, que traz o comportamento da indústria do couro e calçado. Os dados são da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), que apresentou ontem a primeira edição do ano da Análise de Cenários.

As explanações foram realizadas pela coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, e pelo doutor em Economia e consultor setorial, Marcos Lélis. "Esperamos um aumento de pelo menos 12%, o que não recupera todas as perdas de 2021. Devemos finalizar o ano no mesmo patamar de nove anos atrás", observou Priscila.

Os dados da produção e varejo não levam em consideração o ponto crítico da pandemia que teve início em março, quando parte do comércio ficou fechada. "A análise foi feita em março, mas com base nos dados até fevereiro. Poderemos ter alguma alteração nesta projeção", completa Priscila.

A retomada deve mesmo ser confirmada no segundo semestre, assim como ocorreu no ano anterior. "Tivemos impactos significativos em março e abril de 2020 e uma gradual retomada no segundo semestre. É importante destacar que há o comportamento sazonal, a produção naturalmente é maior neste período", lembra a coordenadora.

O consumo

Para Lélis, a retomada em consumo pode ficar restrita, já que no País existem muitas famílias endividadas. "Em fevereiro deste ano quase 67% das famílias brasileiras estavam endividadas, por isso a retomada em consumo pode ser limitada. Além das famílias com dívidas, temos uma alta taxa de desemprego, que chegou em 14,2%", explica o doutor em Economia.

De qualquer forma a indústria deve estar preparada para atender ao reaquecimento do consumo. "Estamos operando com cerca de 60% da capacidade instalada. A indústria deve atender a retomada do mercado doméstico de forma rápida", avalia Priscila.

Cenário foi apresentado durante evento on-line da Abicalçados na tarde de ontem Foto: Abicalçados/Divulgação

Crise e corte de investimentos

Lélis abordou indicadores de uma possível crise econômica em 2021. "Desde 2008 a economia está fragilizada. Tivemos crises fortes em 2015, 2016 e 2020", relata.

O consultor observou que em meio à crise muitas empresas cortam, e de maneira abrupta, investimentos. "Com isso deprecia máquinas, perde capacidade de oferta, de competitividade relativa em relação a outros países. E nós temos uma taxa de desemprego muito alta, indivíduos passam muito tempo sem trabalhar e ficam com habilidades defasadas."

Lélis lembrou ainda sobre o auxílio emergencial, que representou em 2020 4% do PIB nacional.

 

Antidumping e aumento das exportações em março

O antidumping também foi mencionado pela Abicalçados. Conforme Priscila, a entidade protocolou a renovação antidumping dos calçados chineses em outubro de 2020. "Já foi publicada em março deste ano a abertura de investigação. Enquanto esta ocorre a sobretaxa de 10,2 dólares segue vigente", afirma a coordenadora de Inteligência de Mercado.

O bom índice das exportações também foi destaque. Foram embarcados 12,3 milhões de pares em março de 2021, que geraram US$ 70,84 milhões, uma alta de 38,5% em volume e queda de 4,5% em receita no comparativo com o mesmo mês do ano passado. Já em comparação com fevereiro, as altas aconteceram tanto em volume ( 23,3%) quanto em dólares ( 15%). No trimestre, as exportações somaram 32 milhões de pares.

Realidade dos Estados e do País

Priscila falou também sobre a produção calçadista por Estados. O Rio Grande do Sul foi um dos mais afetados com a pandemia, ficando atrás apenas de Santa Catarina e São Paulo. Já os Estados do Ceará e Paraíba tiveram os maiores ganhos de participação na produção. "Os calçados de plástico e borracha ganharam espaço na produção, já o couro perdeu", detalha.

O Brasil teve queda de 18,4 % na produção de calçados em 2020, ficou abaixo da média mundial que foi 19%. A China teve queda menor, ficando com 13,5%. Já em chinelos e calçados de segurança, o produto verde e amarelo teve aumento na participação do passado.

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