As saídas do varejo calçadista para contornar a crise

29.05.2020 - Gabriela Cardoso

Dois meses após o fechamento do comércio devido à pandemia da Covid-19, alguns Estados seguem com decretos que proíbem a abertura das lojas. Em um período do ano com datas comemorativas que costumam aumentar o consumo, as portas fechadas impactaram no resultado financeiro das empresas. No mês de maio, quando o Dia das Mães é celebrado, o varejo viu suas vendas caírem pela metade, segundo dados da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV).

Com a chegada do mês de junho, uma nova data se aproxima: o Dia dos Namorados. Já que alguns Estados flexibilizaram a abertura do comércio, exigindo cuidados de proprietários, funcionários e clientes, a expectativa é de que a data traga mais movimento do que o visto no Dia das Mães.

Investimento no digital

No Estado de São Paulo, um dos mais afetados pela pandemia, o comércio segue fechado, mas com previsão de mudança neste cenário para junho. Ainda sem a certeza de que poderá abrir, a Rede Azul Calçados (Itu/SP), que tem 18 lojas no interior de São Paulo, busca por alternativas criativas para reverter vendas no Dia dos Namorados. Além da movimentação nas redes sociais, a aposta será no WhatsApp. O diretor da rede, Antoniel Marrachine Lordelo, conta que as vendas pelo aplicativo com entrega em casa têm funcionado.

Na última semana, a empresa também começou a testar uma nova ferramenta, que irá ser usada para divulgar a marca e atrair consumidores, pensando na data comemorativa que se aproxima. Chamados por Lordelo de "divulgadores digitais", são pessoas que, ao fazer uma venda de produtos da Azul Calçados pelo seu WhatsApp pessoal, receberão 10% de créditos nas lojas da marca. Qualquer pessoa, mesmo não sendo funcionário, pode participar. Outro meio encontrado foi a videochamada com clientes, que podem "passear" pela loja, vendo os produtos disponíveis nas vitrines. "Assim o cliente vai passeando pela vitrine e acaba, às vezes, comprando".

Ainda apostando no digital, a empresa colocou no ar, em tempo recorde, o seu e-commerce. Lançado no dia em que as lojas físicas da rede foram fechadas, a loja virtual tem ajudado a manter o faturamento ativo. "É a única ferramenta que tem nos salvado um pouco. Ainda não atende a nossa necessidade de movimento de venda, mas conseguimos, pelo menos, ter uma forma de divulgar a marca e o cliente ter a possibilidade de comprar."

Aposta em promoções

Quem também tem buscado saídas no digital são as lojas do Grupo Esporte Total. Com seis estabelecimentos distribuídos nas cidades de Piracicaba e Capivari, em São Paulo - que seguem de portas fechadas -, o atendimento vem sendo realizado também via WhatsApp. Segundo dados da AGV, 69,3% dos lojistas disseram utilizar o aplicativo como meio de vendas em suas lojas.

Para Leonardo Annicchino, diretor do Grupo Esporte Total, a chegada de mais uma data importante para o varejo, sem poder atender ao público com as portas abertas, faz necessária a aplicação de plano b. "Nossos sites funcionando, nossos catálogos atualizados, nossa equipe com WhatsApp disponível e a logística pronta para entregar. Precisamos preparar as melhores fotos e as promoções, pois assim tende a ser o Dia dos Namorados em 2020" comenta Annicchino.

Projeções

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac), Wesley Barbosa, não enxerga o momento com tanto otimismo. "Ainda que a situação melhore, o Dia dos Namorados não deve alterar substancialmente o quadro atual. As lojas vão desenvolver ações para atrair os consumidores, porém os negócios devem ser influenciados pelo clima de incerteza gerado por demissões de trabalhadores em vários setores da economia", comenta o dirigente.

Barbosa afirma ainda que, mesmo que as lojas reabram até o dia 12 de junho, a projeção para o Dia dos Namorados também será de vendas abaixo das do mesmo período de 2019. De acordo com um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as perdas diretas impostas ao comércio chegaram a R$ 124,7 bilhões após sete semanas do surto da doença (de 15 de março a 2 de maio). Em relação ao período anterior ao início da pandemia, o valor representa um encolhimento de 56% no faturamento do varejo.

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