Indústria calçadista vai a Brasília em busca de apoio

08.05.2020 - Nicolle Frapiccini/Jornal NH

Foto: Marcos Correa
Durante deslocamento do Palácio do Planalto até o STF, Haroldo Ferreira aparece em frente ao homem de máscara azul
Uma cambalhota negativa nos números. Esse foi o movimento sentido no planejamento da indústria brasileira de calçados nos primeiros meses deste ano e que se repete em muitos segmentos industriais do País. O setor calçadista chegou a iniciar 2020 com sinais positivos que, inclusive, motivaram a projeção de crescimento entre 2% e 2,5%. Entretanto, já no segundo mês do ano, o avanço do novo coronavírus, ainda com epicentro na China, levou a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) a fazer a primeira revisão dos números, que mantinha um incremento, mas entre 1,7% e 2,2%.

Estimativa que foi analisada novamente em função dos impactos provocados pela, agora, pandemia da Covid-19. Neste novo cenário de cancelamento de pedidos, postergação de faturamento e entrega de produtos, bem como de paralisação de muitas fábricas calçadistas, a Abicalçados projeta uma queda de até 29% na produção de calçados em 2020 no comparativo com 2019.

E não são só as operações no mercado interno que devem ficar no vermelho este ano. A entidade aponta ainda para um recuo de até 30,6% nas exportações brasileiras da atividade em 2020. Conjuntura que já fez com que os calçadistas ligassem o sinal de alerta e não descartassem mais revisões nos números para este ano. Contexto nacional que, inclusive, foi debatido nesta quinta-feira, 7, em agenda com o presidente Jair Bolsonaro e ministros, em Brasília.

Encolhimento
O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, destaca que o cenário é muito complicado. "Temos muitas barreiras a serem superadas em 2020. Estamos atuando em três principais frentes junto ao governo federal para amenizar essa situação", fala Ferreira, ao dizer que todo o processo está sendo encaminhado com um atraso demasiado e que algumas medidas já anunciadas são paliativas.

O executivo lembra que essa é uma das piores crises já enfrentadas no País. "Essa brusca queda nos pedidos resultou em um encolhimento do setor calçadista verde-amarelo. Já perdemos mais de 28,4 mil postos de trabalho nas fábricas do País, conforme os últimos dados da pesquisa que estamos fazendo com as empresas", pontua, ao defender que a saída do Brasil não passe pelo discurso de redução do imposto de importação.

“Desde que começou todo esse processo atuamos em três frentes principais: a abertura do comércio, afinal, não adianta as fábricas produzirem se o comércio está fechado; linhas de crédito; e proteção à indústria nacional. A China já retomou sua produção e estão produzindo sapatos que deverão ser desovados em algum lugar no mundo. E como vamos nos proteger para que nós não sejamos invadidos por calçados asiáticos?”, questiona Ferreira

Abicalçados presente em Brasília
Em agenda com o presidente Jair Bolsonaro e ministros, na quinta-feira, um grupo de empresários apresentou a real situação da indústria nacional. E os desafios enfrentados nas últimas semanas pelas fábricas de calçados também foram ouvidos pelo governo federal. O presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, foi uma das lideranças representativas de entidades industriais que participaram. Após conversarem com Bolsonaro e alguns ministros, entre eles o da Economia, Paulo Guedes, no Palácio do Planalto, todos foram juntos caminhando até o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), do outro lado da Praça dos Três Poderes, onde se reuniram com o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli. Em sua fala, Ferreira frisou que caso o varejo permaneça fechado, a tendência é piorar a situação, já crítica. "O quadro é muito grave."

 

Foto: Marcos Correa

Criação de comitê é sugerida para debate

Em agenda marcada com o presidente do STF durante o encontro com Bolsonaro, Ferreira voltou a falar sobre o difícil cenário do setor calçadista ao ministro Dias Toffoli. "O objetivo foi mostrar os efeitos do fechamento do comércio para o setor industrial. Tanto o presidente quanto o ministro demonstraram preocupação com a situação, sendo que o segundo sugeriu a criação de um comitê formado por empresas e trabalhadores para debater o assunto", revela o presidente-executivo.

NÚMEROS
31,8%: queda projetada na produção de calçados para o 1º semestre do ano. O forte revés do primeiro semestre na produção calçadista brasileira deve ser puxado, conforme a Abicalçados, pela estimativa de recuo de 49% no segundo trimestre deste ano - período em que muitas fábricas paralisaram suas produções como medida de contenção a disseminação do novo coronavírus. Além disso, a entidade estima que no segundo semestre a diminuição seja 22%.

23,2%: recuo esperado nas exportações de calçados no acumulado até junho. O panorama projetado, a partir desta nova conjuntura mundial em função da Covid-19, pela entidade para as exportações brasileiras de calçados é de novas quedas. No primeiro trimestre do ano, o recuo já efetivado foi de 8,5% conforme os balanços divulgados. Para o segundo trimestre de 2020, a Abicalçados espera uma queda de 46,4%. E para o segundo semestre do ano, uma diminuição de 31,3%.

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