As perspectivas do setor coureiro para depois da pandemia

04.05.2020 - Gabriela Cardoso

Antes mesmo da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) atingir o Brasil, o mercado coureiro do Rio Grande do Sul já sentia os efeitos da crise. No País, o impacto começou em fevereiro, já que 80% da produção do setor é exportada e os principais destinos - Estados Unidos, Itália e China – acabaram por ser epicentros de contágio da doença.

O atual momento econômico foi discutido no painel Novos Rumos no Setor Coureiro-calçadista. Promovido pelo Grupo Sinos, o vídeo ao vivo desta semana contou com a participação do presidente-executivo da Associação de Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSUL), Moacir Berger; do presidente-executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello; e o diretor do Curtume Mats, Mauro Pedro Becker. A mediação da conversa, que aconteceu na quinta-feira, 30, foi da editora de Negócios do NH, Nicolle Frapiccini.

Por sua ligação direta com a indústria alimentícia, a produção de couro até o estágio de wet blue foi considerada como serviço essencial, não tendo parado as suas operações até agora, explica o presidente-executivo do CICB. Por outro lado, o dirigente acrescenta que empresas que atuam somente com seções de acabamento, assim como o comércio e a indústria calçadista, tiveram que cessar suas atividades. "A indústria parou de produzir e quem está na ponta de produção também acaba por sentir os impactos", disse Bello.

Setor brasileiro
Os curtumes que puderam manter as suas operações o fizeram para gerar estoque, pensando no pós-pandemia e também na necessidade da indústria alimentícia de destinar os couros de abate para curtimento. As empresas de couro acabado começaram a retomada parcial das atividades na última semana, aderindo à Medida Provisória 936 e seguindo todas as orientações sanitárias e de segurança recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Quem trabalha com couro wet blue, em princípio, teve uma continuidade do trabalho. Mas os curtumes que trabalham com couro acabado, na medida em que o varejo não está funcionamento e a fábrica de calçados não tem pedido, o curtume também deixa de ter” explica Berger.

Auxílio
O impacto da crise na ponta da produção foi sentido de perto pelo diretor do Curtume Mats. “É um momento que estamos vivendo, de dificuldade extrema, mas acreditamos que vamos estar do outro lado da onda” comenta Becker. O executivo acredita que a normalização nos negócios deva acontecer, no máximo, até o final deste ano.

Quem está precisando buscar formas de sobreviver a crise, busca ajuda no governo para manter as finanças no azul. Por isso, um grupo de entidades, que inclui o CICB, se reuniu para solicitar a ampliação das linhas de créditos disponibilizadas para as empresas, assim como também a prorrogação da MP 936, que institui o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, entre outras solicitações.

Da indústria ao varejo
Em uma cadeia interligada, o que se sente em uma ponta irá refletir na outra. Sendo assim, o varejo impacta diretamente na produção de couro. “Não adianta a indústria reabrir se o varejo e o comércio não reabrirem também. Nós precisamos que os nossos clientes tenham pedidos e no momento, os clientes não estão demandando” explica Bello.

“Em caminhos normais, em um primeiro momento, o varejo vai vender, vai demandar reposição de estoque às fábricas de calçados, essas demandarão matéria-prima aos curtumes, que irão se abastecer nas unidades de wet blue. Esse seria o caminho normal. Mas em época de pandemia, nada mais é normal” declara Berger.

Mudanças de consumo
O presidente-executivo da AICSul enxerga as oportunidades para o setor coureiro a partir do restabelecimento das operações do segmento. O dirigente cita a retomada das atividades comerciais na China, onde as marcas mais procuradas pelos consumidores foram as de luxo, que utilizam preponderantemente couro como sua matéria-prima principal. “O couro finalmente se colocou em um estágio de qualidade e de nobreza em que ele deixou de ser utilizado em produtos finais de preço baixo. Nossa faixa de consumidor hoje é aquele que exige um pouco mais da mercadoria que irá comprar”, comenta Berger.

O futuro do couro
“Com o passar do tempo as pessoas vão enxergando melhor a situação, vão conseguindo planejar melhor sua retomada. Cada dia vai ser um dia e assim que nós estamos conduzindo a situação. É ruim, em um primeiro momento, mas pode se tornar uma oportunidade”, Mauro Pedro Becker, diretor do Curtume Mats.

“Essa pandemia, no meu modo de entender, chegou de surpresa, e é de surpresa que ela vai embora. E espero que consigamos conciliar o tempo entre a ciência e a economia, para que não se perca espaço e que a economia não perca a sua importância”, Moacir Berger, presidente-executivo da AICSul.

“O futuro é incerto, mas não desperdice uma crise. Nós aprendemos muito com a crise, sofremos muito. Estamos fazendo tudo isso para preservar vidas. Fechar é fácil, reabrir é difícil. Nós vamos precisar entender muito bem a necessidade do nosso cliente, ele que vai dar a diretriz”, José Fernando Bello, presidente-executivo do CICB.

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