Os impactos do coronavírus no setor

26.02.2020 - Ruan Nascimento e Michel Pozzebon/Redação Jornal Exclusivo

Foto: China Daily/Divulgação
Mais de 2 mil pessoas morreram vítimas da doença
Autoridades no setor de saúde no mundo inteiro monitoram diariamente o aumento do número de casos do novo coronavírus (Covid-19). Somente na China, 2.715 pessoas morreram, segundo informações do governo local até o dia 26 de fevereiro. Também houve mortes no Japão, Filipinas, França, Irã, Coreia do Sul e Itália – estes dois últimos, com 11 mortes cada, e no Irã, 16. O total de infectados passa dos 80 mil em mais de 35 países, forçando à Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar estado de emergência global. No Brasil, o primeiro caso de coronavírus foi confirmado pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira, 26, em um paciente de 61 anos residido em São Paulo/SP, e que estava na Itália até a semana passada. 

Devido ao grande número de infectados, operações logísticas e negócios internacionais foram afetados no mundo inteiro. Como consequência, a economia global também sofre reflexos em todos os setores, entre os quais, o cluster calçadista.

De acordo com um estudo de mercado futuro elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), as exportações de componentes para calçados para a China diminuíram 8,8% em janeiro de 2020, no comparativo com o primeiro mês do ano passado. A superintendente da entidade, Ilse Guimarães, ressalta que a associação está em contato com todos instituições e a própria indústria, para estar preparada para todos os cenários, e oferecer as soluções ideais para atuar quando for necessário. "Acompanhar o andamento de todo o processo de restrição portuária e área também é uma preocupação que estamos tomando, a fim de dar todo o suporte para que as exportações aconteçam para o setor", explica.

No mercado de couros, cerca de 80% da produção brasileira é exportada, segundo o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB). O presidente-executivo da organização, José Fernando Bello, acredita que toda a economia mundial deve sofrer impactos por conta do novo coronavírus, porém faz a ressalva de que, no momento, seria precipitado apresentar panoramas que envolvam a mudança nestes números. "Grande parte das ações de promoção comercial são ligadas ao mercado externo e, portanto, o CICB tem mantido seus esforços sobre pilares importantes valorizados pelos clientes internacionais", avalia.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos para os Setores do Couro, Calçados e Afins (Abrameq), André Nodari, menciona que, inicialmente, o coronavírus tem interferido no fornecimento de alguns insumos inportados da China, especialmente componentes eletrônicos. "As compras já em andamento estão tendo prazos de entrega aumentados, o que vai nos forçar a atrasar as nossas entregas", frisa o dirigente. Além disso, Nodari comenta que os clientes chineses do setor maquineiro brasileiro seguem sem trabalhar, o que impacta diretamente nos negócios do segmento. "O feriado lunar foi prorrogado por profilaxia pelo governo chinês. A feira de Hong Kong (APFL) foi transferida para 1º de junho de 2020. Ao que parece as próximas mostras de máquinas (Simac Tanning Tech, em Milão e a Fimec) terão um menor número de visitantes. Tudo isto impede ou atrasa alguns dos nossos negócios."

Nodari comenta que a Abrameq tem monitorado toda a situação envolvendo o coronavírus. "Temos clientes no mundo inteiro e somos por eles informados em primeira mão. Também trocamos informações com outras associações de classe", frisa. Por outro lado, o dirigente comenta que os meios de comunicação atuais tem auxiliado na substituição de atividadeds presenciais. "Acesso remoto de computadores, aplicativos como o WhatsApp e e-mail nos possibilitam dar suporte técnico à distância, bem como também viabiliza que certos tipos de vendas se concretizem. Os negócios estão andando, em suma. Esperamos que a epidemia seja rapidamente debelada e os danos ao setor sejam mínimos", completa.

Questionada pelo Jornal Exclusivo sobre os reflexos do coronavírus para os negócios do setor calçadista a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), por meio de sua assessoria de imprensa, comunicou que, no momento, não tem uma avaliação a fazer sobre o assunto. A entidade informou que a exportação brasileira para a China é pequena – país asiático não esteve entre os 20 maiores compradores de calçados do Brasil em janeiro/2020 – e as importações de lá seguem normais – inclusive aumentaram em janeiro/2020, quando foram adquiridos dos chineses cerca de 650 mil pares ao preço de US$ 5,03 milhões, aumento de 23% em volume e de 69,4% em valor na comparação com o mesmo período do ano passado. Em tempo, a China é a terceira principal origem dos calçados importados pelo Brasil.

O que dizem os fabricantes calçadistas

Entre as fabricantes nacionais de calçados que levam o seus produtos à China, o processo logístico entre o País asiático e o Brasil está mais lento, porém, sem afetar nos resultados das vendas. O coordenador de exportação da Kidy (Birigui/SP), Rodrigo Nunes, afirma que a burocracia neste momento tornou mais difícil a entrada dos seus calçados. "Tem muitas empresa lá que estão em quarentena. E elas facilitavam a logística da Kidy dentro do País. A importação deles não está parada, só tem mais entraves por agora", explica, reforçando que a calçadista monitora diariamente a sua presença no mercado asiático, pelo fato de ter uma joint venture instalada na China.

Do total de calçados da Bibi (Parobé/RS) exportados para os mais de 70 países, 4% são enviados para a China e mais 4% para Hong Kong. O lançamento da coleção foi feito em novembro, juntamente com os materiais de divulgação. Conforme a presidente da companhia, Andrea Kohlrausch, o foco agora é debater as estratégias comerciais para os próximos meses do ano. Dessa forma, a exportação de produtos da marca para esta região, em específico, não foi afetada. "De tempos em tempos, agendamos visitas à China para dar continuidade ao trabalho desenvolvido com o distribuidor local, que disponibiliza os calçados da Bibi em lojas multimarcas", salienta. Andrea comenta que a empresa tinha uma viagem ao país asiático agendada para fevereiro e que a pedido dos chineses foi cancelada e que deverá ser reagendada para os próximos meses.

Com relação à importação de matéria-prima para produção de calçados, a Bibi informa que tem um item que será entregue nas fábricas com duas semanas de atraso. Trata-se de um LED implantado em uma das 49 linhas de produtos que a calçadista produz. Para contornar essa situação sem deixar de vender este modelo, neste período, a companhia diminuiu a produção desta linha que conta com o item de LED. "Assim, temos uma quantidade de pares menor, mas não deixamos de abastecer às lojas e vender ao consumidor final. Para balancear esta questão, aumentamos a fabricação de uma outra linha para compensar o volume de calçados da produção diária. Ou seja, não deixaremos de vender nenhum produto, apenas diminuímos a produção até que a outra remessa seja entregue", observa Andrea. A previsão da fabricante é de que isso aconteça daqui duas semanas e que tudo seja normalizado até meados de março.

A executiva da Bibi justifica que a empresa optou por comprar a matéria-prima LED da China pela qualidade do material e por ele se enquadrar no projeto do tênis. "Por isso, ficaria inviável comprar de outro fornecedor. A demora na entrega se dá por conta do atraso no retorno da equipe do fornecedor, tanto pelo Ano Novo Chinês quanto por questões ligadas ao coronavírus", sustenta. Andrea ressalta que com essa adequação nas fábricas da Bibi, não houve nenhum tipo de prejuízo, já que a fabricação e o abastecimento de calçados não serão interrompidos.

APLF muda de data

Entre as feiras e eventos do setor, no momento, a Asia Pacific Leather Fair (APLF) foi a mais afetada. O evento, um dos principais do setor coureiro no mundo, seria entre 31 de março e 2 de abril, e foi transferido para os dias 1°, 2 e 3 de junho, em Hong Kong – onde teve uma morte por coronavírus. A organização da mostra informou no dia 10 de fevereiro que a decisão de mudança na data foi em consonância com as determinações do Governo de Hong Kong, e da OMS para controlar a multiplicação do contágio da doença.

Fimec sem chineses

Aqui no Brasil, a próxima feira calçadista é a 44ª Fimec – Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes, Máquinas e Equipamentos para Calçados e Curtumes, de 10 a 12 de março, em Novo Hamburgo/RS. A mostra recebe expositores e visitantes do mundo inteiro, incluindo da China. Porém, neste ano, o evento não terá a presença dos chineses, por conta das dificuldades logísticas que os visitantes de lá têm sofrido desde o início do surto da doença, como voos cancelados e atraso na emissão de vistos, além da questão de saúde pública, segundo a nota divulgada pela Fenac, promotora da Fimec, no dia 14 de fevereiro.

No comunicado, os organizadores da feira reforçam que estão solidários com os problemas enfrentados pelos expositores chineses. E acrescentam que a participação destas empresas está confirmada para a edição de 2021.

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