Mutabilidade em foco: novos rumos da moda

09.06.2020 - Nelson Batista Zimmer

Desde o surgimento da pandemia causada pela Covid-19, iniciamos um processo de mutação inigualável para os nossos tempos. Isso porque, basicamente, todos os campos de nossas vidas se transformaram e continuam a se transformar constantemente, nos deixando, muitas vezes, inseguros com relação ao futuro.

Essa imprevisibilidade tange não somente nosso âmbito particular, mas absolutamente tudo o que nos envolve e toca enquanto coletivo. Com a indústria da moda não poderia e não é diferente. Grifes ao redor do globo sentem os efeitos devastadores do coronavírus e entendem que é momento de se reinventar e, principalmente, de se reposicionar no mercado.

O segmento fashion está sendo muito atingido nesse quadro caótico de crise mundial, um nicho que amarga números ainda não experimentados por suas caixas registradoras e estatísticas, que até então, apontavam sempre para crescentes em vendas.

Cenário internacional

O cenário internacional foi submetido a mudanças em seus calendários de shows e, também, de produção. De início, chama atenção a casa italiana Armani, que anuncia atividades de costura iniciando agora em junho, apresentando um mix de possibilidades aos consumidores, incluindo coleções atuais e passadas. A ideia é que o cliente possa escolher, modificar e alterar suas próprias peças. Os atendimentos serão personalizados e com horários marcados.

Alessandro Michele, criativo da Gucci sugere que se desacelere o ritmo das coleções. Em sua conta privada do Instagram, Michele diz trazer consigo uma “excitação criativa natural e alegre”. Mas, que sempre se sentiu inclinado a mudar e acredita que essa crise mostrou ao mundo uma emergência transformadora, que não pode mais ser mudada.

Uma das mais famosas maisons do mundo, Saint Laurent, comandada por Anthony Vacarello comunicou que se retiraria do calendário oficial de moda em 2020. Basicamente, em comunicado, a direção da marca enfatiza que “controla sua frequência e legitima o valor do tempo, no seu próprio ritmo”. Parece que os franceses preferiram enfatizar o relacionamento com as pessoas do seu dia a dia e ter mais independência com relação à apresentação de suas criações.

Outra importante grife internacional, a made in Italy Ermenegildo Zegna, com 110 anos de vida, especializada em roupas masculinas, aposta no que a maioria das marcas de moda tem apontando como uma grande diretriz de suas ações: apresentações digitais de coleções. Seu verão 2021 já está programado para ser exibido assim.

Socorro à moda

O Conselho de Moda Britânico anunciou que a London Fashion Week deverá ocorrer em formato digital, on-line, em uma plataforma sem gênero, de 12 a 14 de junho. O Conselho também apresentou, em maio passado, um programa para auxiliar jovens designers a atravessarem essa fase em que a economia sofre com os efeitos da pandemia.

Da mesma forma, Milão segue nesse esquema. A Camera Naziolane della Moda Italiana, entidade que reúne as marcas fashion daquele país, anuncia que o verão masculino será apresentado de forma digital de 14 a 17 de julho, a Milano Digital Fashion Week. Além disso, pré-coleções femininas também serão apresentadas em diferentes formatos incluindo vídeos e entrevistas.

Outra importante capital da moda mundial, Paris, também assume o formato digital este ano em seu evento de moda. A Federeção de Alta Costura e Moda está lançando a Paris Fashion Week on-line, de 9 a 13 de julho. Especialmente as coleções para homens serão apresentadas numa plataforma totalmente digital.

Calçado do Brasil

Parte da cadeia de moda brasileira, a indústria calçadista perdeu, desde março deste ano, mais de 30 mil postos de trabalho no território nacional. É um número que impressiona e fragiliza um setor que já enfrenta, rotineiramente, uma série de dificuldades e de entraves burocráticos para sobreviver num mercado tão competitivo.

Lojas, fábricas, ateliês, entre outros estabelecimentos, reduziram seus quadros funcionais e suas atividades - ou até mesmo, na pior das situações, interromperam produções. Já os consumidores, frente aos novos tempos, deixaram suas carteiras nos bolsos e bem fechadas. Eventos nacionais que estavam programados para o primeiro semestre de 2020 acabaram sendo transferidos para o segundo semestre. Ou, até mesmo, cancelados em função do cenário de pandemia.

Os desafios são enormes e não são somente mercadológicos, mas de quase todas as ordens, desde sanitárias a trabalhistas. Mais uma batalha para um setor forte e resiliente, que tem vencido inúmeros desafios nos últimos anos e que, certamente, não fugirá dessa batalha.

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