Exportações brasileiras pagam uma das mais altas tarifas de importação do mundo

04.08.2021 - Michel Pozzebon / Jornal Exclusivo

Foto: Adobe Stock
Segundo a CNI, taxas são o dobro das aplicadas a países com características geográficas e econômicas semelhantes às do Brasil
As exportações brasileiras estão sujeitas a tarifas de importação que custam, em média, o dobro das aplicadas a países com características geográficas e econômicas semelhantes às do Brasil. A tarifa média de importação aplicada aos produtos brasileiros no exterior é de 4,6%, enquanto na média dos demais países é de 2,3%. A informação é do estudo Barreiras Tarifárias Enfrentadas Pelas Exportações Brasileiras: Uma Comparação Internacional, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Entre os 18 países selecionados pelo estudo, o Brasil é aquele que está submetido à terceira maior tarifa de importação (4,6%) quando busca acessar mercados estrangeiros. O País está atrás apenas da Argentina (5,3%) e da Índia (4,8%).

Na América Latina, com exceção da Argentina e do Brasil, os demais países chamam a atenção pela baixa tarifa média a que estão sujeitos ao exportar seus produtos: Colômbia (1,2%), Chile (1,2%), Peru (1,1%) e México (0,4%). O estudo mostra que, considerando apenas os produtos industrializados, o Brasil possui a quarta maior tarifa entre os países selecionados. A tarifa é de 3,3%, atrás apenas das registradas pela Índia (4,4%), Indonésia (3,8%) e China (3,6%).

O superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI, João Emilio Gonçalves, explica que o que contribui para o Brasil enfrentar uma das mais altas tarifas de importação entre os países selecionados é o fato do Brasil ter poucos acordos preferenciais de comércio. Atualmente, os países com que o Brasil tem acordo representam 7% do comércio mundial. "Os dados sugerem que o Brasil precisa avançar na agenda de acordos comerciais, bilaterais ou multilaterais, de modo a reduzir as barreiras tarifárias atualmente enfrentadas por suas exportações", destaca Gonçalves.

Acordos

Além da conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, a CNI defende que o Brasil internalize o acordo com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) e avance nas negociações com o Canadá, países da América Central, México, Reino Unido e África do Sul. Além disso, a confederação propõe que se chegue a uma agenda de diálogo com os Estados Unidos. "Esses parceiros são os principais pois representam mais oportunidades de comércio em bens de alto valor agregado. Trata-se de acordos que vão garantir a abertura comercial do Brasil com uma contrapartida dos outros países, como redução justamente das tarifas de importação e períodos de transição, que são essenciais para que as empresas façam os ajustes necessários para concorrer em um mercado mais competitivo”, afirma Gonçalves.

Mercosul

Na avaliação do vice-presidente de Economia da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI), André Momberger, nos últimos anos o Brasil deixou os acordos diretos de lado e priorizou o Mercosul. "Existia uma cláusula no Mercosul que se determinando país fizesse acordo direto com outro país, esse acordo tinha que valer para todos os países do grupo. Se negociava acordos bilaterais em bloco", aponta. No entanto, conforme Momberger, por conta do enfraquecimento do Mercosul, esta realidade está mudando. "O Brasil está procurando seguir um outro caminho, de tentar costurar melhor os acordos país por país. E, à medida que estes acordos forem saindo, a tendência é que estas sobretaxações dos nossos produtos, principalmente, dos manufaturados, diminuam."

Impacto na competitividade

As tarifas de importação têm impactado a competitividade do Grupo Ramarim, de Nova Hartz, que exporta 15% da produção de suas duas marcas próprias de calçados para um hall de 50 países. "O cliente/importador quando vai fazer seu pedido já calcula o preço que a mercadoria chegará no destino e o preço de venda na loja dele, por isso quanto maior o imposto, maior ficará o nosso preço de revenda e consequentemente perdemos competitividade em relação à outros países que tem impostos menores", afirma a gerente de exportação da calçadista, Tatiana Müller de Oliveira. Além disso, segundo Tatiana, o alto custo logístico no País também interfere fortemente na performance da companhia no mercado externo.

VÍDEO

+ VEJA MAIS

AGENDA

+ VEJA MAIS

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Cadastre seu e-mail para receber as novidades do Exclusivo.

Seu email foi cadastrado com sucesso.