Sustentabilidade tipo exportação

22.12.2020 - Michel Pozzebon / Jornal Exclusivo

Foto: Top Shoes Brasil Group/Divulgação
Top Shoes Brasil conta com produtos eco friendly. Na foto, em destaque a capa para saltos reciclável
O Brasil vem buscando ampliar o acesso ao mercado externo por meio de processos de internacionalização – exportação, importação e fomento de parcerias –, bem como de participação em negociações internacionais, acordos comerciais e adesões a organizações internacionais. Tudo isso visando mitigar barreiras comerciais e atuar mutuamente frente aos desafios ambientais globais.

Todos esses processos de negociações internacionais contemplam, direta ou indiretamente, os temas de meio ambiente e sustentabilidade. No que se refere à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), cerca de 40% das normas são relacionadas a meio ambiente e sustentabilidade.

No contexto ambiental, o Brasil possui relevantes vantagens comparativas. O País tem a maior biodiversidade do mundo, representando 20% da diversidade biológica do planeta, 12% das reservas disponíveis de água doce, 8,5 milhões de km quadrados de território e 3,6 milhões de km quadrados de zona marítima. “O desafio é agregar valor e transformar essas vantagens comparativas em competitivas”, afirma o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo.

Para incrementar a competitividade junto ao mercado internacional, as empresas têm que estar em consonância com as especificidades de tais mercados e de seus potenciais clientes. “Além de atender aos pré-requisitos essenciais às práticas comerciais como garantias de preço, prazo, qualidade e agregação de valor, é preciso fazer a mensuração do impacto social e da sustentabilidade”, observa.

Intrínseco na cultura

Mais do que fazer parte do planejamento dos empreendimentos exportadores, o pilar sustentabilidade precisa estar intrínseco na cultura das empresas do futuro. Esta é a avaliação de Gustavo Dal Pizzol, CEO da Top Shoes Brasil (Campo Bom/RS), companhia de inovação especializada no fornecimento de novas matériasprimas para o calçado. “Antigamente, a sustentabilidade era algo distante e complexo. Hoje, é básico e fundamental”, observa. Dal Pizzol salienta que a sustentabilidade está alinhada à produtividade e, consequentemente, à competitividade das empresas. “Criamos um conceito que toda a nossa matéria-prima básica é a sustentável. Tudo fora da sustentabilidade é algo anormal, e atípico. A sustentabilidade coloca as empresas em outro nível. E a competitividade vem quando atingimos e conseguimos nos posicionar em mercados e marcas de referência.”

Mais do que um diferencial

Para o gestor de projetos da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Cristian Schlindwein, a sustentabilidade já deixou de ser somente um diferencial de mercados. “Hoje, o conceito é uma estratégia vital para ter ganhos econômicos, fazer parte como um agente ativo dentro de uma sociedade justa com as pessoas e com um olhar responsável frente ao futuro com consciência ambiental”, salienta. Ele acrescenta que os consumidores já perceberam esta mudança e buscam por este tipo de comportamento das marcas. Segundo a Abicalçados, boa parte das indústrias de calçados no Brasil já desenvolve alguma iniciativa própria que envolva sustentabilidade.

Consumidores mais exigentes

Mais informados e empoderados, os consumidores tornaram-se também mais exigentes na busca por produtos com matérias-primas sustentáveis, com processos produtivos limpos e que não empreguem mão de obra análoga. Conforme o diretor do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS Américas), André Brugger, os mercados, principalmente o europeu e o norte-americano, estão mais atentos aos temas ligados à sustentabilidade. "Estes mercados estão com essa agenda mais avançada e o consumidor se preocupa com questões de responsabilidade, não só ambiental, mas também social", pontua Brugger.

Substâncias restritas

Diante das barreiras técnicas impostas pelas exigências dos mercados importadores e buscando dar agilidade às análises técnicas, o Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos (IBTeC) incrementou, recentemente, a capacidade de atendimento de seu laboratório de substâncias restritas. “Estamos preparados para atender o aumento da demanda com a recuperação gradual das exportações, que vem acontecendo nos últimos meses, de forma a agilizar o processo para as indústrias de calçados brasileiras”, afirma o vice-presidente executivo do IBTeC, Valdir Soldi.

Certificações de sustentabilidade

O Programa Origem Sustentável é uma certificação para as empresas brasileiras da cadeia produtiva do calçado – voltado tanto para calçadistas quanto para fornecedores da indústria de calçados –, que incorporam a sustentabilidade em seus processos produtivos segundo indicadores em cinco dimensões: econômico, ambiental, social, cultural e gestão da sustentabilidade. Desde quando iniciou seu trabalho de sensibilização da temática, o programa passou por algumas mudanças em sua formatação, grade de indicadores e formato de avaliação. Atualmente, cinco empresas receberam a certificação, 25 estão em processo de implementação e mais de 50 têm demonstrado interesse em iniciar a introdução das diretrizes nos seus negócios. O Origem Sustentável é realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal).

A Certificação de Sustentabilidade do Couro Brasileiro (CSCB) tem base em uma norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou seja, ao adotar uma norma na organização, a implementação é contínua e deve se incorporar às rotinas e processos da empresa. É aplicado dentro do conceito do tripé da sustentabilidade em que são considerados os resultados de uma empreendimento em termos econômicos, ambientais e sociais, Atualmente, há 16 curtumes em todo o Brasil que utilizam a CSCB e implementam a norma. Quatro são certificados como nível Ouro: Fuga Couros Marau (RS), Courovale (RS), Mats (RS) e JBS Couros Marabá (PA). O programa é desenvolvido pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB).

O Conexão Exporta Brasil tem o patrocínio de Fimec 2021 e Master Soluções que Conectam. Conta ainda com o apoio de Efficient Comex, Kisafix, IBTeC e Top Shoes Brasil Group.

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