Exportar ou exportar? Eis a questão

01.10.2020 - Michel Pozzebon e Luana Rodrigues

O setor coureiro-calçadista precisa olhar para fora neste momento de retomada. Seja com marca própria ou investindo em private label, a exportação de calçados aparece como alternativa importante para ampliar presença de mercado. No entanto, é necessário desenvolver estratégias sólidas para que a indústria brasileira pise ainda mais forte no comércio exterior.

As exportações de calçados do Brasil começaram a ter impulso no início da década de 1960 e até o final dos anos de 1980 cresceram de zero ao nível de 1,8 bilhões de dólares, em 1993, quando atingiu seu pico. No ano passado, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), as empresas nacionais exportaram 114,55 milhões de pares, que geraram uma receita de 967 milhões de dólares.

Impactadas pelas instabilidades no mercado internacional, especialmente nos Estados Unidos, as exportações de calçados registraram quedas de 32,7% em receita e 25,2% em volume, entre janeiro e agosto deste ano, na relação com igual período do ano passado. No entanto, a expectativa é de que os embarques voltem a aumentar neste último trimestre.

Padrão internacional
Para fazer o calçado brasileiro brilhar lá fora, é preciso olhar para a exportação não apenas como uma oportunidade guiada pela variação cambial, mas como parte indispensável do negócio, com equipes que pensem no posicionamento internacional da marca e avaliem os melhores mercados.

Produzir para outros países também reflete na qualidade de produto, levando em conta que, para exportar, é preciso se adequar a padrões internacionais, o que contribui para o aperfeiçoamento de processos e produtos, tornando-os mais sustentáveis e competitivos tanto no mercado interno quanto no externo.

Motor da economia
Para as empresas, a exportação representa a possibilidade de ampliar seu mercado consumidor, especialmente em momentos de arrefecimento da economia local, possibilitando a manutenção ou mesmo a ampliação da receita operacional. Contudo, o ato de exportar depende de vários fatores, tais como: o ritmo da atividade econômica, o nível de demanda externa, questões tributárias, financiamento barato e abundante, taxa de câmbio competitiva, barreiras alfandegárias, entre outros.

"Neste sentido, espera-se uma retomada do processo de exportações brasileiras após a pandemia, haja vista a retomada da demanda externa em um cenário de baixo dinamismo da economia local e de uma taxa de câmbio competitiva, acima dos R$ 5 por dólar", argumenta o economista e doutor em Teoria Econômica, Orlando Assunção Fernandes. O especialista salienta que os desafios residem na estrutura tributária brasileira e no intenso protecionismo inaugurado pela disputa comercial entre China e Estados Unidos.

Números
Nos primeiros oito meses de 2020, o maior exportador de calçados seguiu sendo o Rio Grande do Sul, com representação de 45% do total em dólares gerados (US$ 196,5 milhões). O segundo exportador do período foi o Ceará, seguido por São Paulo e Paraíba.

Entre janeiro e agosto, o principal destino do calçado exportado pelo Brasil foi os Estados Unidos. No período, os norte-americanos importaram 5,88 milhões de pares, que geraram US$ 95,26 milhões. O segundo destino dos oito meses foi a Argentina e, o terceiro, a França.

Foto: Divulgação
José Fernando Bello
Couro
O Brasil é um dos maiores players globais no setor de couros — atualmente, o País é o terceiro maior exportador mundial. No ano passado, os curtumes brasileiros exportaram 181,9 milhões de metros quadrados, que geraram um faturamento de US$ 1,15 bilhão.

Conforme o presidente-executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello, a contribuição do couro brasileiro às exportações de calçados tem base no desenvolvimento de artigos que tenham convergência com as demandas mundiais. "O calçado em couro do Brasil, sendo uma referência mundial neste setor, apoia o couro do Brasil em sua jornada no exterior e na impressão geral de compradores acerca deste material.”

Sobre o atual contexto econômico do setor, Bello comenta que o segundo semestre de 2020 já mostra sinais claros de recuperação das exportações de couro do Brasil, depois da pior fase da crise mundial originada pelo novo coronavírus. “Os dados mostram números bem próximos aos alcançados no mesmo período de 2019 e, em alguns casos, crescimento sobre o ano passado.”

E o futuro é de boas perspectivas. As mudanças sociais pelas quais o mundo tem passado jogaram luz sobre a importância da valorização da sustentabilidade, da economia circular, dos materiais duráveis e da qualidade. “Estes são atributos muito ligados ao trabalho do couro, o que pode abrir mercados e oportunidades para a indústria curtidora.”


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