Reflexos da crise Argentina

08.08.2022

Não é de hoje que a Argentina, importante parceiro comercial do Brasil, é assunto nos nossos noticiários por estar enfrentando uma crise econômica. Contudo, a atual crise que assola o país dos nossos “hermanos” não tem nada de nova e já se arrasta por vários anos. Desde 2012 sua economia só apresentou crescimento em quatro dos últimos dez anos, e seu PIB (Produto Interno Bruto), em dólares, encolheu quase 40% desde 2017.

Ao forte recuo da atividade econômica e, por conseguinte, à queda da renda do argentino médio, somam-se também as pressões inflacionárias. A inflação mensal argentina, nos meses recentes, tem girado em torno dos 5% a 6% e a inflação anualizada já passa dos 60%, corroendo fortemente o poder de compra da população, especialmente em uma sociedade na qual a informalidade impera.

Dos seus 45,8 milhões de habitantes, apenas 12,6 milhões se encontram empregados formalmente.

Para combater a intensa escalada de preços, o Banco Central argentino vem subindo fortemente sua taxa básica de juros. O último aumento foi de 3%, levando a taxa de referência aos atuais 52%. Diante dos preços mais elevados com a importação de energia, e da tentativa do Banco Central em segurar a alta do dólar, em um cenário de fuga de capitais, as reservas internacionais argentinas vêm mês-a-mês minguando.

O estoque de divisas, que em meados de 2019 chegaram a ser de 65 bilhões de dólares, hoje estão em US$ 32,3 bilhões, ou seja, metade daquele valor. Dito de outra maneira, em cerca de 3 anos a Argentina perdeu metade de toda a sua poupança em dólares.

Confrontado por cenário tão adverso, o então Ministro da Economia do país, Martín Guzmán, renunciou ao cargo em um movimento de perda de aprovação da liderança política, em especial da ex-presidente, e atual vice, Cristina Kirchner.

De lá para cá foram empossados dois novos ministros. Silvia Batakis, que permaneceu no cargo por apenas 24 dias, e que acabou sendo substituída por Sergio Massa.

Como se pode ver, a situação do país vizinho não é nada auspiciosa e, naturalmente, tal situação traz reflexo à economia brasileira pela relevância que a nação portenha tem para o nosso comércio exterior, seja no âmbito do Mercosul, seja no âmbito dos vários acordos bilaterais de comércio já estabelecidos.

Para o setor coureiro-calçadista, em particular, também não é diferente. A Argentina é hoje o segundo maior importador de calçados brasileiros e, portanto, um mercado consumidor relevante para escoar produtos e matérias-primas.

A combinação de atividade econômica em contração, queda na renda, informalidade alta, inflação galopante, juros nas alturas e baixas reservas internacionais, resulta em um esperado recuo na demanda argentina por tais produtos.

Em um cenário caracterizado por uma tempestade perfeita, seus reflexos para os diversos players que transacionam com a Argentina são significativos e devem ser monitorados de perto.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

VÍDEO

+ VEJA MAIS

AGENDA

+ VEJA MAIS

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Cadastre seu e-mail para receber as novidades do Exclusivo.

Seu email foi cadastrado com sucesso.