O grande desafio

09.06.2022

O Brasil apresentou, no acumulado dos últimos dez anos, um crescimento pífio de 3,26% do Produto Interno Bruto (PIB). Se o número em si já não é grande coisa, considerando um único ano apenas, o que se dirá em dez.

E se olharmos para o PIB per capita, que considera o crescimento populacional, a situação é ainda mais dramática. Por este indicador o País encolheu, neste mesmo período, 6,5%, ou seja, nos últimos dez anos o brasileiro empobreceu.

Qualquer estudante de ciências econômicas aprende que a economia tem quatro grandes motores que a impulsionam: o consumo das famílias, o investimento empresarial, o gasto público e o comércio exterior.

O consumo das famílias, que representa cerca de 60% do PIB, é o mais importante deles e depende de quatro elementos: emprego, renda, inflação e crédito.

A taxa de desocupação (desemprego) ronda à casa dos 11% e a precarização nas relações de trabalho fica evidente com mais de 40 milhões na informalidade, ou seja, pessoas trabalhando sem direitos e com renda menor.

A inflação, como sabemos, vem, desde setembro de 2021, superando os dois dígitos e o poder de compra, por sua vez, vêm encolhendo. A renda real média mensal de um brasileiro gira hoje em torno de R$ 2,5 mil.

Por fim, o crédito, devido aos aumentos consecutivos da taxa selic, vem encarecendo, bem como se tornando mais seletivo, dado o já elevado nível de endividamento das famílias e o maior risco de inadimplência.

O segundo motor da economia é o investimento empresarial. Este depende de três grandes fatores: juros, ambiente de negócios e expectativas.

A taxa de juros, como dissemos acima, vem subindo. Em 15 meses ela saiu dos 2% ao ano para os atuais 12,75% com expectativa de terminar o ano em torno dos 14%. Tal elevação encarece o crédito ao empresário e ainda estimula aplicações financeiras em detrimento ao investimento produtivo.

Todavia, a despeito de todas as tentativas de se recuperar a confiança do empresariado e melhorar o ambiente de negócios, através da aprovação de reformas como a trabalhista e a da previdência, o investimento empresarial não tem se materializado.

A questão é que as expectativas futuras do empresariado não têm sido alvissareiras. Percebendo a queda no faturamento de seus negócios, devido ao já mencionado comportamento claudicante do consumo, eles não se animam a ampliar seus negócios, a abrir uma nova filial ou nem mesmo comprar novas máquinas, haja vista a falta de demanda e a alta ociosidade das plantas já existentes.

O terceiro motor da economia, o gasto público, também não faz a roda da economia girar. As já combalidas contas do Estado e os limites impostos pelo teto de gastos, geram como resultado um baixo nível de investimento público, em especial em infraestrutura, bem como uma série de obras paralisadas que poderiam gerar emprego e renda.

Por fim, temos a quarta e última força motriz da economia, o comércio exterior. Este tem se beneficiado de uma taxa de câmbio competitiva (desvalorizada), porém poderá sofrer no futuro com as fortes tensões comerciais e geopolíticas mundo afora, bem como com os movimentos de desglobalização.

O fato é que, de certa forma, a economia se assemelha a um automóvel. Para se mover autonomamente ela precisa de algum motor capaz de impulsioná-la. Entretanto, se estes motores começam a falhar, ou ela não sai de seu estado estacionário ou, quando se move, move-se em um ritmo tão lento que torna quase impossível ter esperança de que nos conduzirá ao destino desejado.

Ativar estes motores será o grande desafio do próximo Presidente e da equipe econômica por ele escolhida. Buscar meios alternativos para tirá-la da inércia será crucial para quem quer que seja o ocupante do Palácio do Planalto a partir de 2023.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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