Recuperação vigorosa da economia fica ainda mais distante

09.09.2021

No início de setembro o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2021 e, de acordo com o instituto, o PIB apresentou queda de 0,1% frente ao trimestre anterior, interrompendo uma série de três trimestres de crescimento.

Observando os números do PIB pelos grandes setores que compõem a economia, a maior queda veio da agropecuária (-2,8%), seguida pela indústria (-0,2%). O setor de serviços foi o único que apresentou crescimento com alta de 0,7% beneficiado com a flexibilização das restrições ligadas à pandemia. A queda do PIB no segundo trimestre também refletiu a queda dos investimentos que recuaram 3,6%, bem como a estagnação do consumo das famílias, que não variou no período (0,0%).

O cenário de escalada de tensões políticas e crise institucional parece começar a deixar marcas e já levam analistas a revisar suas projeções econômicas para um crescimento, em 2022, mais modesto, próximo à casa do 1,5%.

A questão é que quando parcela relevante da sociedade se convence de que as coisas não vão bem, e que o futuro será pouco auspicioso, esse sentimento coletivo de desconfiança acarreta a postergação do consumo, bem como conduz o empresariado a não ter estímulos a investir na ampliação da capacidade produtiva de seu negócio.

E infelizmente, quando a atividade econômica já começava a dar sinais de recuperação, surge no horizonte de cálculo dos agentes uma combinação perniciosa de fatores que geram tais incertezas, ameaçando a retomada que se vislumbrava. Entre eles podemos citar a inflação persistente, juros em alta, desarranjo nas contas públicas, dúvidas sobre a agenda de reformas, crise hídrica, queda da renda e recuperação desigual dos setores.

Todavia, o que tem tirado o sono de muitos brasileiros, inclusive de empresários e banqueiros, é o tensionamento político e as constantes ameaças à democracia, o que levou a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e muitas associações do empresariado nacional a produzir um manifesto conjunto expressando suas preocupações com a crescente tensão entre os três poderes da República.

O fato é que em um contexto de tensionamento institucional e político, o espaço para se aprovar reformas, especialmente a administrativa e a tributária, diminui consideravelmente. Ademais, as apostas de se elevar a taxa de investimento da economia brasileira, seja via poupança privada interna, seja via capital externo, também são arrefecidas, pois nenhum investidor, especialmente o estrangeiro, quer trazer recursos a um país cujo ambiente político e social esteja conturbado.

O certo é que, diante de um cenário de crise política e receio de ruptura das instituições democráticas, combinado com as legítimas preocupações com um eventual racionamento de energia, o esperado processo de recuperação mais vigorosa da economia poderá ser abortado com todas as consequências negativas dela decorrentes.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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