Selic em alta, credibilidade em baixa

10.08.2021

OComitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) deu sequência, no dia 4 de agosto, ao ciclo de elevação da taxa Selic iniciado em março. Desta vez, porém, optou por elevar a dose, aumentando, em decisão unânime, a taxa básica de juros em um ponto percentual para 5,25% ao ano.

No comunicado divulgado ao público, após a decisão, o BC afirmou ainda que na próxima reunião antevê outro ajuste da mesma magnitude, bem como que continuará a dar prosseguimento no processo de elevação da taxa Selic até que a mesma se estabilize acima do patamar neutro.

Para que não paire dúvidas entre os nossos leitores, vale dizer que quando a taxa de juros passa a ficar acima da chamada taxa neutra (estimada hoje em algo em torno dos 6,5% a.a.), a intenção da autoridade monetária (BC) é frear o ritmo da atividade econômica, produzindo efeitos desinflacionários.

Vale lembrar, porém, que até muito pouco tempo atrás, quando o BC passou a elevar a taxa básica de juros, a sinalização dada pelo COPOM era de que o processo se limitaria apenas a produzir a chamada normalização parcial dos juros, ou seja, que a taxa Selic seria elevada, mas que ficaria abaixo da taxa neutra, ou seja, ponto em que ainda se fornece estímulos à atividade econômica.

Todavia, já na reunião de junho, ao se deparar com uma inflação persistentemente elevada, esta indicação foi alterada, com o COPOM apontando que a normalização da Selic se daria até o ponto considerado neutro.

Agora, na reunião da última quarta-feira, apenas 48 dias depois, o mesmo BC, em seu comunicado pós-reunião, fez a seguinte afirmação: “Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado um ciclo de elevação da taxa de juros para patamar acima do neutro”.

A questão que surge aqui é que o Banco Central parece ter sido surpreendido por um cenário de aceleração robusta e disseminada de preços que ele não foi capaz de antecipar (como é seu papel) e agora só lhe resta ser mais contundente nas elevações dos juros para tentar ancorar, como se diz no jargão econômico, as expectativas de inflação dos agentes econômicos e procurar atingir a meta de inflação prevista para 2022, pois a deste ano, como já se sabe há meses, não será cumprida.

Ademais, este parece também ser o caminho encontrado pela autoridade monetária para tentar recuperar sua credibilidade, evitando questionamentos (que, aliás, já começam a surgir no mercado) sobre sua capacidade de executar corretamente a política monetária.

Todavia, ao buscar recuperar a credibilidade arranhada, tentando trazer a inflação para patamares civilizados e dentro da meta, o estará fazendo a um custo elevado, haja vista que a postura mais incisiva do BC na elevação da taxa básica de juros agora (e que algumas casas de análise já projetam em 8% ao final de 2021) certamente trará impactos nada alvissareiros sobre a atividade econômica no próximo ano.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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