Um tombo esperado

11.03.2021

Em dezembro último, neste espaço, chamei a atenção dos leitores de que o ano de 2020, sob o prisma da atividade econômica, foi um ano para se esquecer. E a confirmação de que atividade econômica brasileira não passou incólume, sendo fortemente afetada pela pandemia causada pelo SARS CoV-2, veio no último dia 03 de março quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Produto Interno Brasileiro (PIB) de 2020.

De acordo com o IBGE, o PIB apresentou, no quarto trimestre, crescimento de 3,2% em relação ao trimestre anterior, mas isto não impediu que a economia brasileira encerrasse o ano de 2020 com um tombo de 4,1%.

Ademais, se voltarmos o nosso olhar ao chamado PIB per capita, a queda foi ainda maior e mais impressionante, com um recuo de 4,8% em 2020, demonstrando o severo empobrecimento da população brasileira.

Ao analisarmos os números do PIB pela ótica da oferta, percebemos que o setor de serviços foi aquele que mais encolheu em 2020, registrando queda de 4,5%. O receio de contaminação e as medidas de distanciamento social fizeram com que as maiores quedas neste setor fossem registradas nas atividades que englobam restaurantes, academias e hotéis (-12,1%) e das atividades de transporte (-9,2%).

O setor industrial também apresentou significativa queda em 2020, encolhendo 3,5%. Na indústria, os destaques negativos ficaram com os subsetores da construção civil (-7,0%) e da indústria de transformação (-4,3%), esta última influenciada pelas quedas na fabricação de veículos automotores e de vestuário.

O único setor do PIB que registrou crescimento em 2020, mas que representa hoje apenas 5% da economia nacional, foi o agropecuário. A alta neste setor foi puxada pela produção recorde de soja (7,1%) e de café (24,4%).

Todavia, quando olhamos o PIB pela ótica da demanda, todos os seus componentes recuaram em 2020 quando cotejados com o ano anterior.

O consumo das famílias, principal força motriz da economia, teve o pior resultado da série histórica com queda de 5,5%, sendo fortemente influenciado pela piora das condições do mercado de trabalho e pela necessidade de maior distanciamento social entre as pessoas para conter a propagação do vírus.

O consumo do governo também apresentou queda recorde (-4,7%), o que é explicado, em parte, pelo fechamento de escolas, universidades, parques e outros equipamentos públicos ao longo de 2020.
Já a formação bruta de capital fixo (a taxa de investimento da economia) caiu 0,8% em 2020 frente ao ano anterior, revelando o receio do empresariado em ampliar seu estoque de capital, diante das consequências e das incertezas geradas pela pandemia.

Por fim, as importações de bens e serviços registraram recuo de 10,0% em 2020 e as exportações apresentaram queda de 1,8%, dada a contração da demanda externa por nossos produtos, ensejada pelos efeitos da pandemia mundo afora.

Assim, como se pode depreender a partir de um olhar mais pormenorizado e detido sobre os dados do PIB, o cenário econômico em 2020 foi assaz desafiador.

Para que a economia brasileira possa voltar aos trilhos do crescimento, a celeridade da vacinação em massa da população será condição sine qua non. Quanto mais rápida a população estiver imunizada contra a Covid-19, mais célere e robusta será a retomada econômica.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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