Um raio-X do emprego em tempos de pandemia

13.10.2020

No mês passado o IBGE divulgou sua Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com os dados consolidados do emprego no trimestre móvel encerrado em julho. Segundo a pesquisa, o Brasil contava em julho com 174,1 milhões de pessoas com idade para trabalhar, das quais 79 milhões estavam fora da força de trabalho, ou seja, pessoas que, por alguma razão (estudos, dedicação a tarefas do lar ou porque simplesmente desistiram), não desejam ou procuram uma colocação no mercado de trabalho.

Das 95,1 milhões de pessoas restantes, 82 milhões estavam ocupadas e outras 13,1 milhões estavam à procura de trabalho, o que corresponde a uma taxa de 13,8% de desempregados, um aumento de 2% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Se somarmos ao número de pessoas desempregadas (13,1 milhões), os 5,7 milhões de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas (o chamado bico) mais as 5,8 milhões de pessoas no desalento (que de tanto tentar, e não conseguir, acabam desistindo de procurar colocação), percebemos que o buraco é bem mais fundo, ou seja, cerca de 24,6 milhões de pessoas.

Outro número revela, também de forma contundente, a difícil situação do emprego no Brasil. Se olharmos para o número de trabalhadores sem carteira assinada, seja do setor privado, setor público ou trabalhadores domésticos, mais os que trabalham por conta própria sem CNPJ, temos hoje, segundo a pesquisa do IBGE, impressionantes 31,2 milhões de pessoas (cerca de 38% das ocupadas) vivendo na informalidade.

Tal número evidencia que boa parte do contingente de trabalhadores que aparecem como ocupados estão, na verdade, em atividades cujos rendimentos são, em geral, baixos e não contam com a proteção de direitos garantidos pela CLT, tais como férias, 13° salário, descanso semanal remunerado, entre outros.

Este processo de retirada de trabalhadores do sistema formal revela a forte precarização das relações de trabalho que vem tomando conta do cenário laboral brasileiro. Apenas em 12 meses o número de trabalhadores com carteira assinada caiu de 36,2 para 31,9 milhões.

Ademais, há ainda outro aspecto que merece ser analisado. É que devido à pandemia muitas pessoas acabaram saindo da chamada força de trabalho, fazendo com que o número de indivíduos fora do mercado de trabalho, que em julho de 2019 era de 64,8 milhões, aumentasse, em julho deste ano, para cerca de 79 milhões pessoas, ou seja, um acréscimo de 14,2 milhões de trabalhadores.

É que durante o auge da pandemia, dado o isolamento social, muitas empresas permaneceram total ou parcialmente fechadas e as pessoas, diante da baixa oferta de vagas, optaram por não procurar uma colocação.

Todavia, na medida em que o isolamento vai sendo relaxado, esse grupo de pessoas que estava fora da força de trabalho voltará ao mercado em busca de recolocação, o que deverá fazer a taxa de desemprego aumentar significativamente.

Como se pode depreender a partir de um olhar mais detido sobre os dados da PNAD, o difícil cenário do mercado de trabalho brasileiro ainda está longe de ser revertido. A situação dos números do desemprego no Brasil ainda vai piorar muito antes de dar sinais de reversão.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

VÍDEO

+ VEJA MAIS

AGENDA

+ VEJA MAIS

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Cadastre seu e-mail para receber as novidades do Exclusivo.

Seu email foi cadastrado com sucesso.