O pior já passou?

06.07.2020

O Brasil se encontra diante de um cenário econômico assaz desalentador e as incertezas sobre quando se chegará ao final da pandemia, e se haverá ou não uma segunda onda de contágios, tem gerado um sentimento de insegurança com reflexos sobre o nível de confiança dos agentes econômicos, o que agrava ainda mais a situação.

É que por não possuírem conhecimento sobre eventos que ainda estão por vir, ou por não compreenderem corretamente a forma como poderão ser afetadas, famílias e empresas acabam postergando suas respectivas decisões de consumo e de investimento, acentuando ainda mais a retração econômica.

Neste sentido, e com o objetivo de buscar inferir e antecipar os rumos da economia, ainda mais em cenários atípicos como o atual, acompanhar o sentimento e as expectativas dos agentes econômicos é fundamental. Com este intuito, contamos hoje com uma ampla gama de sondagens que buscam quantificar a percepção dos diferentes tipos de agentes econômicos (consumidores, industriais, prestadores de serviços, varejistas, etc.) sobre a sua situação atual e futura. E entre tantas sondagens disponíveis está a do comércio.

No último dia 26, o Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável por sua elaboração, publicou os resultados de seu Índice de Confiança do Comércio Varejista que, na passagem de maio para junho, avançou 17 pontos, para 84,4 pontos (acima de 100 indica que os agentes econômicos estão otimistas, abaixo, que estão pessimistas).

Em junho houve evolução tanto no subíndice de situação atual (que evidencia a visão dos comerciantes sobre o presente) que avançou 12,7 pontos, para 82,0 pontos, como também no subíndice de expectativas (que revela a percepção sobre o futuro) que subiu 20,6 pontos para 87,5 pontos.

De acordo com o IBRE, esta é a segunda alta mensal consecutiva, o que pode sugerir que o pior momento da pandemia, ao menos para o comércio varejista, já tenha passado. Todavia, apesar da evolução positiva do indicador nos últimos dois meses, tais resultados precisam ser analisados com bastante prudência.

Primeiramente porque a recuperação registrada em maio e junho representa apenas 60% do que foi perdido ao longo dos meses de março e, especialmente, de abril, ápice da queda. Ademais, apesar da alta, o índice continua abaixo dos 100 pontos, o que, como vimos, denota que os agentes ainda se encontram pessimistas, tanto sobre a sua situação presente como sobre o que esperam do futuro.

Pode ser mesmo que o pior já tenha passado, mas a resposta definitiva à pergunta que dá título a esta coluna, só o tempo e a evolução da pandemia poderão nos dar.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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