Em meados dos anos 80, para quem é da minha geração, imaginar viver em 2020 era imaginar ser transportado em carros voadores, ter humanos habitando outros planetas em colônias terrestres, viver em um mundo sem conflitos e livre da fome e da desigualdade social. Ao menos era isto que muitos seriados de ficção científica despejavam no imaginário de seus espectadores.
Todavia, como sabemos, não temos colônias em marte (nem a Lua voltamos mais desde 1972); os carros continuam rodando em terra firme, muitas vezes em estradas esburacadas; e o mundo continua extremamente conflituoso e desigual com muitos milhões vivendo na extrema pobreza.
Aqui no Brasil, como discuti em minha última coluna, chegamos a 2020 piores do que estávamos no início da década. A soma de toda a produção econômica, descontada a inflação, hoje é menor do que a que tínhamos em 2013, após os pífios resultados obtidos em 2014 (0,5%), 2015 (-3,5%), 2016 (-3,3%), 2017 (1,1%), 2018 (1,3%) e 2019 (cujas previsões apontam para um crescimento de 1,2%).
Porém, como diz o dito popular, a esperança é a última que morre, e então, uma vez mais, iniciamos o novo ano com os analistas projetando um crescimento econômico na casa dos 2,5%.
Todavia, para que este quadro possa ser efetivamente exposto, muitos fatores e acontecimentos deverão convergir, tanto no que tange ao cenário doméstico como no externo.
O mercado de trabalho terá que continuar a dar sinais mais claros de aquecimento, em especial, no segmento formal, com a criação de novos empregos com carteira assinada.
A inflação, que com o maior aquecimento econômico se acelerará, não deverá chegar ao nível que venha a exigir elevação significativa da taxa Selic.
A taxa básica de juros, se se mantiver no atual patamar, poderá estimular a tomada de crédito, diminuir o nível de endividamento das empresas, bem como reduzir as necessidades de financiamento do setor público, podendo abrir espaço, se o liberal Paulo Guedes permitir, para um maior gasto público de investimentos, em especial, na área de infraestrutura.
Já a aprovação das reformas estruturantes (como a tributária) e das privatizações, obsessões do Ministro da Economia, deverão, como já discutido anteriormente neste mesmo espaço, enfrentar dificuldades em serem aprovadas no Congresso, ao menos, na velocidade esperada pelos analistas.
Porém, é do front externo, com a permanência de um cenário internacional ainda complexo, que a maior ameaça para a concretização da retomada da economia brasileira poderá vir. A continuidade das disputas comerciais entre as duas maiores potências globais, os desdobramentos da agressiva política americana para o oriente médio, as consequências econômicas do Brexit, um desaquecimento maior do que esperado da economia chinesa, as incertezas sobre os resultados da eleição presidencial nos EUA e as instabilidades sociais e econômicas em alguns países da América Latina podem se tornar fontes de volatilidades com reflexos ao nível de atividade econômica brasileira
Só o tempo dirá.