Os limites da política monetária

29.11.2019

No mês passado, o Federal Reserve (o banco central americano) reduziu, uma vez mais, a taxa de Fed
Funds (equivalente a nossa Selic) para o intervalo entre 1,50% e 1,75% a.a.

Tal decisão se soma a de vários outros países que também vêm reduzindo suas taxas básicas de juros, alguns deles para seus menores patamares históricos. 

Para que o leitor possa ter ideia mais precisa deste processo, a Inglaterra conta hoje com uma taxa básica de juros de apenas 0,5% a.a. e o Banco Central Europeu, em sua última reunião, manteve a taxa de juros da Zona do Euro em exatos 0%.

Há casos, porém, que conseguem ser ainda mais impressionantes. Alguns países possuem hoje taxas básicas de juros negativas, entre os quais Japão (-0,1% a.a.), Suécia (-0,25% a.a.), Dinamarca e Suíça (-0,75% a.a.). 

Isso quer dizer que quando uma instituição financeira de um destes países toma recursos junto ao seu banco central, não só não paga juro algum, como, ao pagar o dinheiro tomado, devolve uma quantia menor do que foi captada.

O banco central brasileiro também não tem fugido à regra. No mês passado, o COPOM (Comitê de Política
Monetária) reduziu, pela terceira vez consecutiva, a taxa Selic para os atuais 5,0% a.a.

Mesmo ainda distante dos casos acima, constitui-se na menor taxa básica de juros de nossa história e, se as previsões dos analistas estiverem certas, deverá cair ainda mais na próxima reunião de dezembro.
Obviamente não se discute o fato inconteste de que menores taxas de juros são sempre bem-vindas, pois reduzem o custo de capital das empresas, barateiam as linhas de crédito para consumidores, reduzem o nível de endividamento das empresas e das famílias, bem como desestimulam o rentismo, ou seja, o ato de viver da renda gerada por aplicações em títulos públicos e privados.

Contudo, quando taxas de juros atingem patamares tão baixos, tal processo precisa ser analisado com cautela. Isto porque denotam que a inflação nestes países tem se mantido em níveis abaixo das metas estabelecidas por seus bancos centrais, o que revela um elevado grau de ociosidade resultante de um ritmo de atividade econômica muito aquém do desejado. 

O certo é que, em diversos países, a política monetária vem sendo utilizada até o limite para tentar servir de estímulo à atividade econômica, porém tem se revelado insuficiente para gerar o esperado dinamismo econômico e isso já começa a ficar claro na cabeça de alguns economistas e até mesmo de alguns banqueiros centrais. 

Recentemente, o italiano Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, conclamou os países que vivem situações fiscais saudáveis a se utilizarem também de políticas fiscais anticíclicas (elevação do gasto público), reconhecendo que do ponto de vista monetário já não há muito mais a se fazer para tentar estimular à atividade econômica.

O fato é que apenas reduzir juros, per si, não tem sido garantia de recuperação econômica. Como disse, em entrevista recente, o ex-diretor do Banco Central do Brasil, José Júlio Senna, “ajuda, mas não faz mágica”.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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