Ilse Guimarães: é hora de voltar-se para si mesmo

05.06.2019 - Marcela Brown / Jornal Exclusivo

Foto: Divulgação
Superintendente da Assintecal falou sobre os 10 anos do Inspiramais
À frente da superintendência da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), promotora do Inspiramais, salão que há 10 anos estimula os criativos da cadeia produtiva da moda, Ilse Guimarães é liderança feminina de indiscutível singularidade no setor. Com know-how digno de quem acompanha de perto as transformações do cluster calçadista nacional e internacional, a expert assimila os novos rumos da indústria da moda com credibilidade de quem sabe ser assertiva: é tempo de olhar para dentro de si. Fato: depois de apertar o play do summer 20, o winter 20 está mais zen do que nunca.

Como você vê a evolução do Inspiramais nos últimos dez anos?
Um marco não só de calçados mas de todo o sistema moda. Acabou se firmando como uma mostra de materiais para o desenvolvimento de produtos, ou seja, ele começou direcionado para o calçado e cada vez mais passou a usar a transversalidade dos materiais que podem ser usados em vários produtos finais. Então ele acabou abrangendo diversos setores, para além da moda.

Você imaginava que o salão chegaria a este patamar?
Apareceram surpresas no caminho. Não imaginava que o Inspiramais fosse se tornar uma referência de pesquisa. Hoje se você pensar nos países que têm forte a pesquisa, como o México e a Colômbia, que são grandes fabricantes de calçados, além da Argentina, eles vêm o salão como fonte de inspiração. Mais: o salão é citado por várias fontes europeia, isto é, abrange um público variado, que não está só em busca de produto, mas também em busca de um drop inteligente. Tem gente que vem, olha o produto e consegue visualizar como é que ele vai poder usá-lo. Por isso que é designado um salão, porque lá estarão os designers que vão explicar como se usam os materiais, quais as aplicações, tanto para vestuário, como para calçados ou móveis. Ou seja, como é que se pode utilizar esses materiais da melhor maneira, qual a melhor aplicação.

Como é participação da Índia?
A Índia vem com uma grande fonte de informações. É reconhecida como um grande fabricante de tecidos e, em um projeto da Assintecal, nós temos uma incubadora virtual de design e esses designers são convidados para ir para lá, para vender seus materiais lá.

Fale um pouco sobre o tema desta edição, o Zen.
Nós temos um núcleo de design da Assintecal que atua fortemente na criação do tema. Moda não é simplesmente criação, é também matemática. Se tu olhares o mundo, tu vais perceber que há uma determinada convergência de assuntos que começam a transpirar. Exposição em museus, movimentos de rua, consumidor, séries do Netflix, etc. São movimentos que começam a transpirar e a inspirar algo, existe uma lógica através disso. Se pensarmos o tema da edição anterior, o Play, quando estávamos em completa efervescência, usamos cores efervescentes. Mas também chega uma hora em que a efervescência, como toda a paixão, cansa. Agora é a vez do zen. Mas não o zen místico, o zen do budismo ou relativo ao relaxamento. Zen no sentido de voltar-se para si mesmo, processo inverso de expansão do Play.

Até o pai das redes sociais falou sobre a tendência intimista, não é?
Sim, eu gosto muito de uma frase recente do Mark Zuckerberg. Ele, como fundador do Facebook, disse que “o futuro é privado”. Nós já vivemos essa efervescência, o “play”, em que tudo se torna público através das redes sociais, mas essa premonição do Mark a gente já pôde constatar em diversos movimentos, em exposições de arte em museus, enfim, a gente observa que todas elas são voltadas mais para dentro de si. No dia em que participei de uma grande convenção, quando ouvi isso do Mark senti que fecha com o nosso momento, vem um gênio desses e diz: o futuro é privado. Estamos no caminho certo.

E isso reitera a premissa de que moda é matemática?
Exato. A moda é matemática, sim, ela advém de pesquisas e converge para determinadas coisas e, claro, em determinada época. Vem a experimentação, vem a assimilação e, depois, vem o consumo mesmo, que são aqueles 60%, que dizem respeito ao tudo para todos.

Como o salão exalta o criativo e o competitivo?
A gente olhando o cenário, percebe que há uma mudança muito significativa do que está acontecendo com o calçado brasileiro. Eu vejo alguns polos que se referem muito à questão moda. Nós viemos de uma tradição de exportação em que nós vendíamos sapatos já desenhados. Hoje já se pensa o processo todo de fabricação dele, para que se possa chegar no Inspiramais e buscar o material mais adequado para a demanda, ou mesmo buscar adequações. A partir dessa observação as empresas começam a exercer a criatividade. Então lá a gente vai dizer: ‘olha, vai se usar essa forma, o solado vai ser desse jeito, a ombreira vai ser assim, a bijuteria vai ser grande’. São diferenciais competitivos.

Qual a projeção para a edição 2020_II, entre negócios e visitantes?
Normalmente não é um salão exclusivamente de negócios. É um salão de teste de produtos, de comparações para compras por parte dos clientes, é uma forma de os materiais já se inserirem no processo da criação. Então quem vai desenvolver já sabe que a empresa tal já possui aquele material. É uma forma de fazer com que sejam vistos fornecedores com capacidade para atender essas empresas de produtos finais. Então, em termos de negócios, acontecem muitos negócios internacionais. No nosso último levantamento, chegamos à quantia de US$ 35 milhões em negócios internacionais. Já a questão dos visitantes é uma incógnita, mas acredito que seja a oportunidade de se oferecer, lá na frente, ao consumidor, a retomada do prazer da compra.

De que forma você assimila o Inspiramais como um manancial de inovações?
Quando a inovação é mais radical, sempre demora um pouco mais para ser assimilada e, talvez, a gente tenha diagnosticado esse problema, mas fomos assimilando e alargando cada vez mais os horizontes. Hoje vemos, por exemplo, o setor moveleiro procurando muito o Inspiramais. Nesta edição, já tem rodada de negócios com o moveleiro, então existe sim uma constante inovação.

A indústria 4.0 é pauta no 2020_II?
Sim, vamos falar de inovação dentro de um conceito da indústria 4.0. Quando falamos em indústria 4.0, pensamos em computação e nós estamos trabalhando com o conceito de start up – com toda a integração da cadeia – desde o fabricante de insumo até o calçadista, ainda com a avaliação do varejista. Desta vez trabalhamos com o calçado, na próxima, poderemos trabalhar com o vestuário, por exemplo. Todas as palestras vão girar em torno da inovação. É uma forma de integrar a cadeia. E toda a cadeia de moda tem muitos elos, a tecnologia vai passando até chegar ao consumidor final.

Como conectar tanta informação?
Existe forte conexão entre o fabricante de materiais e o de produtos finais. Eles recebem a informação de forma diferente, mas recebem consultoria, recebem tudo para que se possa desenvolver materiais que inspirem.

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