Os desafios para a indústria calçadista brasileira

05.06.2019

No mês passado, o IBGE divulgou os resultados, atualizados até março de 2019, de sua Pesquisa Industrial Mensal. Como esperado, os números apenas reiteraram as dificuldades enfrentadas atualmente pela indústria brasileira.

A produção física da indústria como um todo recuou 1,3% em março em comparação ao mês anterior e impressionantes 6,1% quando comparada a março de 2018, apresentando resultados negativos em todas as categorias econômicas (bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens de consumo semi e não-duráveis), bem como em 22 dos 26 ramos industriais pesquisados.

No acumulado do ano, ou seja, no primeiro trimestre, a indústria recuou 2,2% frente ao trimestre anterior, após já ter apresentado queda de 1,2% no quarto trimestre de 2018, em inequívoca demonstração de perda de dinamismo.

Em síntese, o setor industrial brasileiro voltou a mostrar um quadro de menor ímpeto produtivo, expresso não só pela queda de 1,3% na produção, mas também no perfil disseminado desta queda entre os distintos ramos de atividade.

E, infelizmente, o ramo da indústria de transformação que produz acessórios de couro e calçados não foi exceção à regra. Apesar de ostentar crescimento de 3,0% em março na comparação com fevereiro (quando caiu 4,4%), o setor apresentou uma queda na produção da ordem de 3,4% quando comparada a março de 2018.

Com este resultado, o setor coureiro-calçadista se encontra hoje, segundo o IBGE, produzindo 11,1% menos do que produzia em 2012. Isto não é pouca coisa!
O fato é que existem muitas explicações para este fraco desempenho ao longo dos últimos anos. Entre elas podemos citar os problemas de competitividade derivados da elevada carga tributária, da baixa qualificação da força de trabalho e da quase endêmica carência de investimentos em estradas, portos, aeroportos, geração e transmissão de energia que, ao não conseguir alargar os chamados gargalos estruturais da economia, inibem a ampliação de ganhos de produtividade do setor.

Ademais, a estas questões estruturais, somam-se ainda outras questões conjunturais, entre as quais podemos mencionar: i) as incertezas do ambiente político, em particular, sobre a capacidade do novo governo em fazer avançar a aprovação de reformas estruturantes; ii) a difícil situação fiscal que tem levado a constantes contingenciamentos no orçamento federal, em especial, nos chamados gastos com investimentos; e iii) a erosão da demanda, justificada pela queda da renda real, pela contração do crédito e pela persistência de altas taxas de desemprego.

Assim, diante deste cenário adverso, em que a economia brasileira ainda deverá flertar por algum tempo com baixas taxas de crescimento, otimização de recursos, novas formas de relacionamento com clientes, desenvolvimento e lançamento de novos produtos e busca por novos mercados, aproveitando-se de uma taxa de câmbio mais competitiva, serão desafios a serem enfrentados pela indústria como um todo, e pela calçadista em particular, a fim de lograr bons resultados.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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