Riscos do cenário externo

28.05.2019

Em meu último artigo discorri sobre os riscos ao comércio internacional da escalada do protecionismo no mundo. Nele mencionei que, a despeito do desejo de que uma guerra comercial entre EUA e China não venha a ser travada, os efeitos de um contexto internacional mais protecionista já podiam ser sentidos e que eles não se limitariam às duas superpotências.

E em recente estudo divulgado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) tal receio foi confirmado. O ritmo de expansão do comércio internacional caiu de 4,6% em 2017 para apenas 3,0% em 2018 e, segundo suas previsões, será ainda menor em 2019.
Também como antecipei em outra coluna publicada neste mesmo espaço, em abril do ano passado, intitulada “O que esperar das contas externas em 2018”, diante deste cenário o Brasil não seria uma exceção à regra.

Neste artigo já alertava os leitores para o fato de que as exportações brasileiras perderiam fôlego, e que tanto a balança comercial como o saldo em transações correntes não apresentariam os mesmos bons resultados registrados em 2017.

E os dados das contas externas brasileiras, divulgados recentemente pelo BC, confirmaram tais previsões. O superávit de US$ 53,6 bilhões da balança comercial em 2018 representou uma queda de 16,3% sobre o saldo obtido em 2017, sendo resultado de uma maior expansão das importações frente às vendas de nossos produtos no exterior.

Se o crescimento das importações se deveu a uma forte demanda reprimida por bens importados, aliviada, em parte, pela interrupção da recessão brasileira e pela leve melhora nos níveis de renda e emprego, para a trajetória das exportações brasileiras foi decisiva a perda de dinamismo do comércio internacional.

O resultado das chamadas transações correntes (que incluem, além da balança comercial, gastos com fretes, seguros, viagens internacionais, pagamentos de juros e remessas de lucros e dividendos, entre outros) apresentou um déficit de US$ 14,5 bilhões em 2018, mais do que o dobro da cifra registrada em 2017.

Todavia, esta deterioração acabou sendo compensada pelo ingresso de investimentos diretos estrangeiros (IDE). A entrada de US$ 74,2 bilhões de IDE (recursos externos aplicados em projetos produtivos) foi mais do que suficiente para financiar o déficit em transações correntes.

Entretanto, mesmo diante deste quadro ainda relativamente tranquilo, já é possível identificar, como revela o estudo da OMC, movimentos pouco desejáveis oriundos das crescentes incertezas sobre a economia internacional e que merecem atenção, pois podem vir a afetar a dinâmica do comércio exterior brasileiro.
Tais incertezas residem em uma desaceleração maior do que a esperada da economia global em geral, e da economia chinesa em particular; na complicada situação dos bancos italianos; em um possível Brexit sem acordo entre o Reino Unido e a União Europeia e em uma eventual não superação da guerra comercial travada entre China e EUA.
Acompanhar tais questões será crucial, pois em economia não há margem e nem tolerância para descuidos.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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