É possível crescer mais?

03.12.2018

A previsão de analistas do mercado financeiro é que a economia brasileira cresça 1,4% em 2019, segundo o Boletim Focus do Banco Central. Um ritmo bastante insatisfatório de expansão, se levarmos em conta a recessão de 2015-2016 e a tímida recuperação de 2017-2018.

Uma retomada mais vigorosa da economia depende de condições favoráveis de oferta, de demanda e de financiamento. Tais condições não estão ausentes, mas só serão materializadas a partir de uma reconstrução institucional que passa por melhores condições de governabilidade.

Pelo lado da oferta, a indústria opera atualmente com capacidade ociosa de 32%. Isto significa que as empresas têm espaço para responder a estímulos da demanda, sem pressão sobre custos e, portanto, sobre a inflação. Empresário investe quando há demanda firme e confiança no futuro. Desequilíbrio fiscal atrapalha, pois pode afetar a confiança, mas não impede investimento produtivo e aumento da oferta. Equilíbrio fiscal ajuda, mas não é suficiente para estimular investimento e consumo.

Pelo lado da demanda, segundo estudos do economista Gabriel Galípolo, divulgados pelo jornalista Luis Nassif, a recuperação nas cotações internacionais de commodities traz boas notícias para o agronegócio e para o setor de petróleo. O aumento da receita no agronegócio tem impacto direto sobre a produção nacional de insumos e implementos (máquinas, caminhões e tratores), assim como sobre a aquisição de bens de consumo nas regiões agrícolas do País.

No caso do petróleo, a recuperação dos preços terá impactos diferentes sobre a demanda, a depender das escolhas do novo governo. Se os princípios básicos da lei da partilha forem retomados, bem como a política de conteúdo nacional, toda a longa cadeia de petróleo será beneficiada, com aumento da demanda por plataformas marítimas (indústria naval), máquinas, motores, equipamentos e serviços associados. Empregos com diversos níveis de especialização e finanças de estados e municípios afetados pela redução dos royalties do petróleo seriam igualmente beneficiados. O aumento da massa salarial e da capacidade de investimento dos governos regionais teriam efeitos multiplicadores sobre a renda e o consumo.

Outra fonte potencial para a recuperação da demanda está na retomada de obras públicas paralisadas. Apesar das limitações fiscais do governo, há um elevado número de projetos analisados pelo BNDES e já licitados, aprovados e suspensos devido às investigações da Lava Jato. Esses investimentos poderiam ser rapidamente destravados, caso um arranjo institucional, envolvendo o novo governo e o Judiciário, permita descriminalizar as empresas, sem abrir mão de avançar na punição dos indivíduos envolvidos em ilícitos.

Não há dúvidas que o Brasil pode crescer mais. Mas tudo passa pela capacidade operacional do novo governo de remover os obstáculos.

Andrés Vivas Frontana

Andrés Vivas Frontana é economista, mestre e doutor em Teoria Econômica pela USP e professor da ESPM, no curso de Administração.

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