Dez anos da Crise de 2008

19.10.2018

Quinze de setembro de 2008. Foi neste dia que o banco americano Lehman Brothers abriu falência, sendo o estopim da propagação daquela que é tida como a maior crise econômico-financeira desde a depressão dos anos 1930.

A chamada crise do subprime (hipotecas de segunda linha), porém, começaria anos antes, quando milhares de famílias de baixa renda nos EUA tomaram empréstimos a taxas variáveis, dando como garantia suas casas.

Quando, entretanto, as taxas de juros subiram - e algumas destas famílias passaram a ter dificuldades para quitá-los -, bancos, com receio da inadimplência, dificultaram novas linhas de crédito imobiliário. Desta forma, reduziram o número de compradores e, com isso, derrubaram os preços dos imóveis, agravando ainda mais a crise no setor.

As instituições que estavam mais expostas a este tipo de operação acabaram sendo liquidadas. E o receio de que a quebradeira se espalhasse por todo o sistema financeiro contaminou a economia real, gerando queda de renda e aumento do desemprego.

Sendo a economia americana a locomotiva do mundo, a crise acabou por se propagar mundo afora, tornando-a uma crise de proporções globais.
Vale ressaltar, porém, que as raízes da crise de 2008 são muito mais profundas. Sua verdadeira origem se encontra muitos anos antes quando se tem o início de um amplo processo de financeirização da riqueza que triunfou sob a égide da liberalização financeira.

Cedendo à pressão de grupos de interesse, vários governos empreenderam, ao longo de anos, um vasto movimento de desregulamentação na tentativa de dar cabo às antigas barreiras impostas aos mercados financeiros, ampliando o grau de liquidez dos ativos negociados (ações, títulos, opções, etc).

Sem regras e controles estatais, e após anos de atuação irresponsável e inconsequente, estes grupos, quando defrontados pelas consequências da crise que eles próprios geraram, passaram a conclamar aqueles mesmos governos a criar pacotes bilionários de auxílio, socializando com os contribuintes os custos de uma ampla operação de salvamento.
O fato é que, ao socorrer tais instituições, bem como ao criar estímulos para tirar suas economias da recessão, tais governos exacerbaram seus gastos além de limites aceitáveis.

O receio da insolvência de vários países, então conduziu o mundo a uma segunda etapa da crise, oriunda agora dos desequilíbrios fiscais decorrentes justamente da solução encontrada para tirar as economias da crise.

Após dez anos não se pode ignorar as origens da crise de 2008. Esperar que bancos centrais possam fazer frente à totalidade de capital financeiro espalhada pelo globo é, para falar o mínimo, sinal de ingenuidade, dadas as dimensões que este capital tomou ao longo desses anos.

Rediscutir os limites do liberalismo financeiro e um processo de regulamentação e coordenação internacional destes mercados continua se fazendo assaz necessário.

Orlando Assunção Fernandes

Orlando Assunção Fernandes é economista, mestre em Economia Política e doutor em Teoria Econômica pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

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