O complexo de vira-lata e o perfil inovador

17.08.2018

A Copa do Mundo, realizada em julho e julho deste ano, me trouxe à lembrança um termo muito utilizado em referência à baixa autoestima do brasileiro: o complexo de vira-lata. A expressão, criada por Nelson Rodrigues após a derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, refere-se a algo muito maior que o futebol, segundo o próprio escritor. “Por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”

Isso me fez refletir sobre essa condição em que nos colocamos, tentando reconhecer os motivos e, ao mesmo tempo, procurando entender as oportunidades. Percebi variações desse complexo. Existem os de baixa autoestima e que, por assim serem, sequer tentam desenvolver algo brilhante. Existem os que se percebem atrasados, mas que fazem piada da situação, como se estivesse tudo bem como está. E existem os que se sentem inferiores, e, por isso, lutam, diariamente, para dar a volta por cima. É nesse último que reside o perfil inovador.

Tenho me deparado - não sem surpresa - com profissionais satisfeitos. Gestores que entendem possuir a mais alta tecnologia existente, ou o processo mais eficiente possível. Pessoas que dizem não existir nada além do seu conhecimento. Que indústria 4.0 não existe. E que a insatisfação é reflexo desse complexo de vira-lata. Pois eu digo com convicção que esse é o perfil de profissionais mais perigoso que pode existir nesta Era Digital. Quanto mais ampliamos nosso conhecimento, maior fica o universo do desconhecido. Ignorar esse aspecto e se reconhecer como estado da arte me soa não só arrogante, mas preguiçoso.

Equilíbrio
Lembram daquela máxima “só sei que nada sei”? Acho que vale a reflexão, não é mesmo?

 Busca é pelo equilíbrio, mas é a falta dele que nos move. Os inovadores olham para dentro e admitem seus sucessos, mas também olham para fora e reconhecem o sucesso dos outros. Inovar exige esforço, conhecimento e uma grande dose de insatisfação. Talvez olhando através dessa lente, seja justamente esse complexo de vira-lata que nos fará um país de profissionais inovadores. Que sorte a nossa!

Roberta Ramos

Roberta Ramos é gestora de Projetos na Abicalçados, jornalista, empreendedora e entusiasta de futurismo. Contato: roberta@abicalcados.com.br.

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