Os reflexos da paralisação para o calçado

12.06.2018 - Redação Jornal Exclusivo

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Empresas pararam e mercadoria deixou de ser entregue; varejo calcula R$ 2,7 bi de prejuízo
Uma semana para riscar do calendário, mas que terá repercussões até o fim deste ano. A paralisação dos caminhoneiros, de 21 a 30 de maio, freou o País e refletiu em toda cadeia produtiva. Se a economia vinha em ritmo de recuperação, a falta de combustíveis foi um baque difícil de digerir. “Essa paralisação veio a piorar a situação, principalmente do setor calçadista. Já não estávamos vivendo um momento tão positivo e esses dez dias parados, sem faturar e sem girar as empresas, nos prejudicaram muito”, comenta Almir Santos, proprietário das marcas de calçado Suzana Santos e Renata Mello, além das empresas de componentes Componarte e Formatt. Até que a produção de seus negócios se estabilize, devem se passar pelo menos 15 dias – o que reflete no faturamento dos meses de maio e junho. “Isso sem falar nos clientes pedindo prorrogação de título”, acrescenta.

Levantamento da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) indica que o segmento trabalhou, em média, com 49% de ociosidade no parque fabril, em função do impacto sobre o recebimento de insumos e logística de pessoal. Tal ociosidade impacta diretamente nos resultados de produção do mês e no faturamento do produto acabado – cerca de 32% dos calçados faturados não puderam ser embarcados. Presidente-executivo da entidade, Heitor Klein acrescenta reflexos nos resultados de produção e exportação do mês, que já vêm apresentando números amenos ao longo do primeiro semestre de 2018.

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Ele informa que, até abril, a produção acumulada do ano já sofreu recuo de 1,7%, frente ao mesmo quadrimestre do ano anterior. “Em um cenário de retração da produção, a recuperação dos valores perdidos se torna mais lenta e difícil. Com o fluxo rodoviário normalizado, as empresas já operam regularmente, todavia, ainda há um período de tempo para o total abastecimento dos insumos na indústria”, detalha o dirigente.

Superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Ilse Guimarães avisa que os reflexos da greve serão bem mais graves que somente os ocorridos durante o período de paralisação. “As decisões tomadas, em muitos casos, envolveram aumento de custos generalizados que acabarão se refletindo em toda a cadeia. O mercado interno precisou ser atendido com preferência, então, certamente as exportações foram, nesse período, deixadas de lado”, comenta ela. No segmento de componentes, Ilse menciona situações como empresas sem conseguirem entregar seus produtos (o que comprometeu as fábricas de calçados) e problemas sérios de escoamento – o que comprometeu muito a produção e muitas fábricas tiveram de diminuir seu ritmo, sem condições de estocar mais produtos. A dirigente projeta que as exportações do mês de maio devem cair em 50% por conta da greve.

Lojistas preveem perdas irrecuperáveis

O reflexo da greve dos caminhoneiros no varejo calçadista é de perdas irrecuperáveis, segundo a Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac). O mês de maio, considerado um dos mais lucrativos do ano, acumulou 30% de queda no faturamento, em relação ao mesmo período do ano passado. Este percentual representa baixa de R$ 2,7 bilhões nos caixas. “O consumidor ainda está receoso e, com o preço elevado da gasolina, as compras continuaram fracas”, lamenta o diretor-executivo da entidade, Wesley Barbosa.

Diante deste cenário, os esforços devem se concentrar em estratégias para retomar o fluxo de consumidores nas lojas. Entre as ações prováveis, deve estar a antecipação das liquidações de inverno. “Temos de começar a nos movimentar para tentar fechar o ano com resultados positivos”, pontua.

Transporte é peça fundamental da engrenagem

O transporte rodoviário movimenta toda a economia nacional, respondendo por 60% da carga que transita no País. Isso corresponde, segundo dados de 2017 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a 3,93% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Além disso, conforme Pesquisa Anual de Serviços (PAS) de 2015 (IBGE), o setor é responsável por mais de 806 mil empregos diretos e 400 mil indiretos. O volume transportado chega a 30 milhões de toneladas por mês. Diante desse cenário, o combustível é fundamental para o setor e os aumentos nos preços do insumo influenciaram diretamente nas operações do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), culminando na manifestação dos motoristas autônomos.

“O SETCESP espera que o governo federal tome medidas urgentes no sentido de rever essa política de preços da Petrobras, que está inviabilizando as atividades operacionais das empresas e ocasionando custos imensuráveis para toda a sociedade, já que o combustível tem peso significativo no custo das transportadoras, correspondendo de 30% a 50% do faturamento conforme o tipo de operação”, alerta o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de São Paulo (SETCESP), Tayguara Helou.

A JSL (Mogi das Cruzes/SP), maior empresa de transporte rodoviário de carga do Brasil, estima que a greve tenha paralisado entre 800 e 900 de seus caminhões nas rodovias. Já a Brasspress (São Paulo/SP), maior firma privada nacional de entrega de encomendas, avalia em R$ 26 milhões o prejuízo.

Leia a matéria completa na edição 2.914 do Jornal Exclusivo, veiculada no dia 11 de junho de 2018.

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