Metade das indústrias calçadistas está parada

29.05.2018 - Roberta Pschichholz*

A situação na indústria e no varejo calçadista brasileiro é crítica. Levantamento realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) junto a 47 fabricantes de diversos polos produtivos brasileiros indicou que, até ontem, a metade das empresas do segmento estava sem funcionários e, caso a situação da dificuldade de abastecimento e trânsito nas rodovias permaneça, a projeção é que, na próxima semana, nenhuma indústria consiga operar.

“É uma situação sem precedentes. Um terço dos embarques está parado e os insumos não chegam até as indústrias”, comenta o presidente-executivo da entidade, Heitor Klein. Ele acrescenta que, pelo fato de haver unidades produtivas em diferentes regiões do País, esta distribuição de matéria-prima e entrega do produto acabado é ainda mais complexa.

Quando a situação de abastecimento e transporte for normalizada, Klein estima que sejam necessários de duas a três semanas para que toda a cadeia comece a operar normalmente. “Os prejuízos são incalculáveis e é impossível conceber que as autoridades não tenham mecanismos disponíveis para solucionar este impasse”, lamenta.

Entre as empresas afetadas está a Via Uno (Santo Antônio da Patrulha/RS). CEO da companhia, Ramon Rabelo comenta que há duas semanas está sem faturar nada, com caminhões carregados na estrada há 15 dias sem entregar produto aos clientes e, desta quarta até segunda-feira, decidiu suspender o trabalho na fábrica. “Ninguém vai trabalhar. A situação está caótica. Estamos muito apreensivos com o que vai acontecer”.

O prejuízo, avalia Rabelo, é enorme, porque a mercadoria que está em produção com projeção de entrega final de maio pode não ser entregue ao lojista, à espera dessas novidades para o Dia dos Namorados. Sem matéria-prima para produzir, transporte para levar os funcionários até a empresa, não há viabilidade para manter o negócio em operação. “Estamos apavorados”, sintetiza.

Varejo sinaliza pior maio dos últimos cinco anos

A paralisação dos caminhoneiros impactou diretamente o varejo de calçados. De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira de Lojistas de Artefatos e Calçados (Ablac), Wesley Barbosa, as perdas entre volume de vendas e fluxo nas lojas chegam a 50%.

“Este já é o pior maio dos últimos cinco anos. Com a falta de combustíveis, o consumidor não vai às compras, a menos que sejam de primeira necessidade, como alimentos. Os shoppings estão desertos, especialmente na região nordeste, onde o acesso é ainda mais restrito, devido à distância geográfica”, pontua.

Conforme o dirigente, a baixa na movimentação chegou justamente em um momento em que havia-se resgatado o otimismo no segmento. “Tínhamos boas expectativas para este mês, em função da queda das temperaturas. Esta foi uma das questões mais comentadas durante o SICC, pois as vendas explodiram. Agora, o consumidor desapareceu”, lamenta o executivo.

Ele ressalta, no entanto, que a situação pode melhorar, caso a greve termine nos próximos dias. “Se tudo se resolver até o fim desta semana, ainda temos chances de um junho positivo. Temos a vantagem dos estoques abastecidos. Só precisamos que o cliente vá em busca dos produtos”, complementa.

CNDL pede compreensão

A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), maior entidade representativa de livre adesão do varejo no Brasil, ciente da dificuldade pontual de abastecimento, solicita a seus associados e a todos os comerciantes do País compreensão e solidariedade com a população.

“Prudência e senso de coletividade são fundamentais neste momento. Reprovamos qualquer iniciativa dos que queiram se aproveitar da preocupação dos brasileiros com o desabastecimento de itens perecíveis para aumentar o preço de produtos, em especial os de primeira necessidade. Mais do que nunca temos que ser cidadãos”, diz nota oficial.

CICB fala de danos profundos

O Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade que representa o setor de couros do País, reporta danos profundos em toda a produção nacional em função da paralisação da atividade nas rodovias brasileiras. “Clientes, vendas, exportações e empregos têm sofrido grande e oneroso impacto em função da greve, que já ultrapassa limites”, indica nota, acrescentando que é urgente o desbloqueio de estradas e a retomada das atividades normais no Brasil para que a situação do País não se agrave de forma irreversível.

*Colaborou Mary Silva

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