Economia controlada permite crescimento da indústria

14.03.2018 - Bárbara Bengua / Jornal Exclusivo

Foto: Fotolia.com
A maneira de pensar a economia brasileira está mudando e o período pautado por notícias pessimistas parece ter acabado. Esta é a avaliação do diretor do IEMI Inteligência de Mercado, Marcelo Prado, que acredita em uma retomada gradativa. Consciente de que, nos últimos cinco anos, a indústria perdeu muito de sua capacidade produtiva, ele aposta que os números devam melhorar fortemente a partir de 2020 – ou, com otimismo, a partir do que ano que vem. O objetivo, segundo ele, é voltar ao patamar de produção de calçados que o Brasil tinha em 2013, quando foram fabricados mais de um bilhão de pares. Os motivos para as boas projeções passam por questões vitais para a economia do País, como o câmbio estabilizado, a inflação e os juros baixos e o crédito facilitado. 

Para o profissional, a fase de “fundo do poço” já foi superada e, agora, é hora de voltar a investir e acreditar na estabilidade econômica do Brasil. “Os projetos que foram engavetas por causa da crise começam a sair do papel”, avalia Prado, sem deixar que mencionar que as fábricas precisam recuperar a competitividade perdida durante a crise. “A boa notícia é que o momento está propício para investimento”, reforça.

Confira a avaliação do especialista sobre o cenário nacional.

Marcelo Prado
Em 2017, os números de produção de calçado foram inferiores aos dos anos de 2013 e 2014 - porém, superiores a 2015 e 2016. Na sua avaliação, como podemos avaliar o desempenho da indústria nos últimos anos? O nosso melhor momento foi, sem dúvida, em 2013. Aquela época reflete um período de consumo turbinado, estimulado pelo governo através de políticas públicas – que seguravam os juros baixos e facilitavam o crédito. Criou-se uma sensação de que vivíamos em uma ilha de bonança e que aquilo nunca iria acabar. Porém, no ano seguinte, começou-se a perceber que não era sustentável bancar aquela brincadeira com recursos públicos. Em 2014, o consumo já começou a desaquecer e passamos a perceber que havia uma combinação de números positivos e negativos, demonstrando que íamos ter uma inflexão na curva. Ou seja: iríamos entrar em crise. E nada foi feito.

E desta forma entramos em 2015, que foi um dos piores anos da história recente do Brasil, certo? Exato. O ano de 2015 chegou com uma das piores crises e acertou em cheio o setor de calçados. Neste processo, começamos a estimular a exportação, pois o câmbio subiu muito – afinal, antes, ele era mantido estável pelas políticas do governo, o que acabou desestimulando exportações e estimulando importações. Com muitos brasileiros gastando seus recursos fora do Brasil, o mercado, a indústria e o varejo local foram bastante prejudicados. Mas, depois dessa crise de fundo do poço, veio 2016, quando se iniciou um processo de reorganização econômica após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O novo governo conseguiu controlar a inflação, reduziu os juros e, com isso, passou a criar condições para a expansão do crédito – que foi o que aconteceu no ano passado.

Então a economia está, agora, se reaquecendo? Sim. Esses fatores que eu citei – câmbio estabilizado, inflação e juros baixos e crédito facilitado – dão a possibilidade de expansão do consumo. Além disso, reativa o interesse pelo investimento, faz com que as indústrias queiram diversificar seus produtos, retomar o processo de crescimento e passem a traçar planos futuros. Claro, é um processo lento, mas estamos dando passos importantes.

E o que falta para que o Brasil volte a crescer? Quando isso deve acontecer? O governo ainda não consegue controlar as suas contas; o déficit público é uma peça importante que precisa ser contida. Segundo algumas previsões, isso deve acontecer até 2020. E o nosso objetivo é que voltemos aos números que tínhamos em 2013 apenas daqui a dois anos (2020). Mas, na verdade, pode ser que isso aconteça em 2019, pois os resultados estão se saindo melhor do que o esperado. Isto é, a inflação baixou mais do que achávamos, o que permitiu que os juros também baixassem mais do que o previsto. E, além disso, o câmbio está controlado há um ano e meio e investidores continuam apostando no Brasil. O otimismo para o varejo também está voltando com mais consistência, mais vigor e podemos dizer que a indústria está reagindo bem a isso. Outro ponto positivo é que o esforço de retomada do espaço do mercado externo, que tínhamos perdido, está trazendo bons frutos. Acho que estamos em um bom caminho.
 
Você saberia nos informar como está a atual capacidade produtiva destas indústrias, que tiveram que se adaptar à crise dos últimos anos?   Elas encolheram, estagnaram, se modernizaram? Neste momento, não se modernizaram. Quer dizer, nos últimos três anos, o processo de modernização ficou restrito a algumas empresas que conseguiram enfrentar a crise de uma forma positiva – com inovação, diferenciais de produtos, novas canais de distribuição, enfim. Mas podemos dizer que a maioria das indústrias sofreu com o período de recessão; a média dos resultados é negativa. Houve diminuição nos investimentos, o caixa se tornou negativo. Podemos dizer que, ainda em 2018, as companhias estão vulneráveis, pois estão se organizando, recompondo. Porém, por outro lado, estão muito propensas a investir. Afinal, há carência em termos de máquinas, equipamentos, processos, softwares etc. Os projetos que foram engavetas por causa da crise começam a sair do papel. E o que favorece isso é o crédito, os juros baixos, o câmbio estável.

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Com a indústria descapitalizada, como movimentar o mercado de inovações e tecnologias?  Na minha visão, não há muito que fazer em relação a isso. Porém, a boa notícia é que o momento está propício para investimento. Antes, tudo estava parado – mas, agora, as empresas estão reagindo. As fábricas estão voltando a olhar para novas máquinas, novos softwares, novos processos e componentes. Podemos dizer que há uma demanda reprimida, há companhias que precisam aumentar sua capacidade produtiva – que foi diminuída durante a crise. Por isso, há, também, uma tendência de crescimento rápido. E, com os juros mais baixos e o crédito facilitado, temos boas perspectivas pela frente.

Acredita que a indústria de couros, produtos químicos, componentes, máquinas e equipamentos para calçados e curtumes está preparada para atender às mudanças que as fábricas calçadistas precisam, em termos de inovações? Não existe uma resposta única. Estamos falando de um setor absolutamente heterogêneo, que tem empresas de diferentes portes e que produzem diferentes tipos de produtos. Algumas, por exemplo, trabalham com modelos de produção antigos, enquanto outras têm tudo automatizado. O que eu percebo, entretanto, é que, no Brasil, existe uma oportunidade muito grande de melhoria de eficiência e produtividade. E esse vai ser um desafio que não vai sair da mesa.

E em relação ao emprego na indústria calçadista em geral, houve queda ou crescimento (em 2017)? Em todo o processo de crise, a indústria perdeu 30 mil empregos. Mas, no ano passado, houve aumento de 2% no número de postos de trabalho. O resultado começa a aumentar lentamente, pois as empresas ainda estão se reorganizando, buscando respiro financeiro. Então é um processo lento, mas estamos no caminho certo. Tirando o déficit público do governo, nós temos praticamente uma combinação de indicadores favoráveis.

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