Economia 2018: recuperação é REAL

05.02.2018 - Roberta Pschichholz / Jornal Exclusivo

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Os números não mentem: o ano de 2018 começa com boas perspectivas para a economia brasileira e mundial. Dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) demonstram que 2017 já indicou o caminho das pedras. Cálculo da Fiesp indicou crescimento do PIB de 0,5% no 4º trimestre em relação ao 3º. Para 2018, a expectativa da Fiesp é de crescimento de 2,8% do PIB. E para o segmento da Indústria de Transformação, o crescimento projetado é de 3,1%.

A análise tem como base a redução do endividamento das famílias e das empresas, condições favoráveis no mercado externo e redução da taxa de juros. Também há tendência a expansão do crédito, levando ao aumento do consumo e estimulando a produção. Tudo indica, ainda, que deverá haver manutenção da melhora do mercado de trabalho, com queda da taxa de desemprego e elevação da massa salarial.

Colunista do Jornal Exclusivo, o economista chefe do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, Orlando Assunção Fernandes menciona a agricultura como a mola propulsora para o bom resultado em 2017 e aposta na melhora do consumo das família como fator positivo para 2018. Confira, a seguir, entrevista com Fernandes sobre tópicos que interessam à indústria calçadista.

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Orlando Assunção Fernandes
Já ouvimos falar na retomada da economia há pelo menos dois anos. Em 2018, podemos ter sinais reais disso?  Sim. Observando os números da economia ao longo do segundo semestre de 2017 já se pôde constatar o início desse processo de retomada, mesmo que ainda de forma embrionária, e a expectativa é que em 2018 esse processo ganhe maior impulso. A agricultura, que ostentou forte ritmo de crescimento em 2017, deve manter sua trajetória de expansão. A indústria também deve apresentar recuperação mais generalizada, tanto regional como setorialmente, e o setor de serviços (aquele com maior peso no PIB) também voltará a exibir taxas positivas. Do ponto de vista da demanda agregada, o consumo das famílias deverá voltar a apresentar crescimento impulsionado por taxas de juros e inflação mais baixas e também pela retomada do emprego, e as exportações, inclusive pela perspectiva de maior crescimento econômico mundial, também devem registrar expansão. Desse modo, espera-se que o ritmo da atividade econômica brasileira acelere em relação a 2017, registrando uma taxa de crescimento entre 2% a 3% em 2018. Entretanto, eventuais riscos a esse cenário de recuperação econômica deverão vir do ambiente externo e da percepção dos agentes sobre o resultado das eleições presidenciais, bem como da não aprovação de reformas que podem comprometer a trajetória fiscal-financeira do setor público.

O varejo é a ponta que mais dificuldade tem enfrentado, por conta do receio do brasileiro em gastar. O consumo deve avançar no próximo ano? Certamente. O consumo das famílias, aliás, já apresentou sinais de recuperação nos últimos dois trimestres de 2017. A manutenção de taxas de juros baixas ao longo do próximo ano, a recuperação do poder de compra, devido à baixa inflação, e a redução na taxa de desocupação, combinadas à desalavancagem das famílias, ao maior volume de crédito e à recuperação dos níveis de confiança, abrirão espaço para o crescimento do consumo em 2018 e, portanto, das vendas no varejo.

A indústria reorganizou-se, buscando novos mercados lá fora e até reduzindo a capacidade produtiva. Este segmento pode voltar a crescer? Toda crise traz, em seu âmago, os elementos de sua própria superação. Em momentos de crise que as ineficiências, dissimuladas nos tempos de bonança, aparecem. E são nesses mesmos momentos que as empresas devem procurar ampliar seus mercados, bem como empreender melhorias nos processos produtivos e na qualidade de seus produtos. O fato é que a indústria, depois de anos de encolhimento, tem auferido ganhos de competitividade e produtividade e, ao longo de 2017, já apresentou sinais de recuperação, em especial, no setor de bens de capital. Acredito que em 2018 esse processo de recuperação da indústria terá prosseguimento, agora de forma ainda mais robusta e disseminada.

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O fato de ser ano eleitoral pode dificultar novos investimentos e ações mais radicais no mercado? Investimentos produtivos dependem de diferentes fatores, tais como taxas de juros, disponibilidade de financiamento e expectativas do empresariado sobre o futuro da economia. Como a taxa de juros brasileira está no seu menor patamar histórico, e assim deve permanecer ao longo de 2018, e o volume das operações de crédito vem registrando gradativo crescimento, a questão principal que poderá dificultar a execução de novos projetos de investimentos será mesmo a confiança do empresariado quanto ao futuro da economia. A confiança dos empresários, todavia, deverá ser guiada, ao menos em 2018, por fatores subjacentes ao contexto político, ou seja, por sua percepção sobre as propostas dos postulantes ao cargo de Presidente da República. O posicionamento dos candidatos melhor colocados nas pesquisas eleitorais, em temas relativos à política econômica, será fundamental para balizar a decisão de investimentos do empresariado na ampliação dos seus negócios. Quanto ao mercado, é inegável que o desenrolar da campanha eleitoral de 2018 deverá produzir algum grau de volatilidade nos preços dos ativos. Todavia, se essa volatilidade será maior ou menor do que aquela vivenciada durante a campanha de 2002, só o tempo dirá.

Exportar ainda será a melhor saída para fabricantes que sentiram as perdas no mercado interno? Seguramente. Exportar é, e será sempre, uma estratégia relevante para garantir bons resultados às empresas. Apesar de se esperar maior dinamismo da economia doméstica em 2018, o crescimento brasileiro ainda estará longe de voltar a apresentar o ritmo apresentado até 2010. Nesse sentido, continuará a ser fundamental buscar e manter fidelizados clientes externos, outrora conquistados, pois além de se constituírem em alternativa viável de vendas em momentos de fraca demanda interna, podem garantir a obtenção de maior receita operacional. Vale ressaltar também que o FMI projeta, para 2018, maior crescimento da economia mundial. E crescimento é sinônimo de renda em expansão e, por conseguinte, de maior demanda externa por nossos produtos.

Qual a expectativa em relação ao comportamento do dólar? A trajetória da taxa de câmbio, em um regime de câmbio flutuante, depende do fluxo de entrada e saída de dólares da economia e, portanto, o seu comportamento é ditado por fatores externos e internos que podem afetar esse fluxo. Em 2018, os fatores externos mais relevantes nesse processo, ao nosso sentir, serão a evolução da relação americana com a Coreia do Norte, o desenrolar do Brexit e a trajetória da taxa de juros americana. Em termos domésticos, o principal driver será mesmo o desenrolar das eleições presidenciais. Uma possível vitória de um candidato que não seja do agrado do mercado produzirá, certamente, uma forte procura pela moeda americana e a consequente disparada da taxa de câmbio. Por sua vez, caso um candidato bem visto pelos agentes financeiros esteja com maiores chances de sair vencedor nas eleições, poderemos observar até mesmo fenômeno contrário, isto é, uma gradativa apreciação do Real. O certo mesmo é que deveremos assistir a momentos de maior volatilidade da taxa de câmbio ao longo de 2018.

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