Um certo dia eu acordei cedo

08.12.2017

Certo dia, ao olhar de relance no espelho, eu lembrei que conheci uma pessoa curiosa. Ele me contou que saia todo dia de casa e pegava a estrada ainda escura. Sabia que tinha que estar cedo para cumprir o seu objetivo do dia. Adorava este sentimento. Acordar quando quase todos ainda estavam dormindo o motivava. Era uma sensação de potência, de fazer algo que poucos estavam fazendo. Não era algo tão fácil, mas a dificuldade o motivava. Disse que sua esposa tinha uma certa inveja dele e não entendia como podia saltar da cama com tanta disposição. A vida o chamava para mais um dia corajoso. Quando o sol começava a nascer, ele dava um jeito de parar o carro. Olhava por alguns minutos aquela massa de luz e calor se aproximar do seu carro e, em um único movimento rápido, tomava conta de tudo. Ele ria e pensava baixinho que por mais um dia ele o venceu, acordando mais cedo. Era uma brincadeira, que era levada muito a sério. Não gostava de perder nem em par ou ímpar. E se fosse para desistir de algo, desistiria de ser fraco, de sentir pena de si mesmo, de se acomodar em qualquer lugar, por melhor que fosse. Ele buscava o movimento, o avanço.

Realmente, algumas pessoas nasceram para trilhar e outras para escavar. Existe um pessimismo e um otimismo. Estão no ar, flutuam ao mesmo tempo. O vento que você decidiu seguir, é o vento que irá inflar a sua vida. Algumas vezes não há opção e você aproveita o vento do pessimismo para estar em movimento. Mas, assim que você percebe a menor brisa de otimismo, você muda a orientação das velas. As pessoas que trilham, a exemplo dos inconformados que não aceitam o destino traçado para eles, são aqueles que entenderam os dois dias mais importantes que Mark Twain identificou: o dia que você nasce e o dia que você entende o porquê. Arrepia encontrar o motivo de uma vida. E é preocupante saber que muitas pessoas, aquelas que se especializaram em escavar, talvez nunca encontrem o porquê do seu nascimento. Diminuem, dividem, alguns poucos somam e quase nenhum multiplica. E como encontrar isso, esse orientador, este multiplicador de vida?

Woody Allen entendeu na prática que 90% do seu sucesso consistiu de simplesmente insistir. Nesta frase, tem um detalhe oculto. Insistir na trilha, estando em movimento, e não escavando no mesmo lugar. O movimento da insistência é algo que deve ser praticado obsessivamente pelas pessoas que desejam mais do que possuem. Encontrar os seus motivadores em fontes de dor ou prazer, pode ser muito energizante. Você pode lembrar de todas as pessoas escavadoras à sua volta, que disseram para você desistir de suas ideias, que não iria dar certo, pois, se fosse para isso dar certo, certamente não seria pelas suas fracas e inaptas mãos. Lembrar disso como uma fonte de dor e buscar a energia de mostrar que você consegue, que tem uma probabilidade, por menor que seja, de dar certo, é um dos segredos. Você monta este sentimento como uma leve vingança, um cala a boca para os que falam muito alto, enquanto gastam as unhas cavando no mesmo lugar. Frank Sinatra ensinou e calou muita boca, pois para ele a melhor vingança era o sucesso maciço. E para esta energia toda estar em movimento, você tempera com o prazer. Você busca a força na conquista mínima do dia. Uma polegada de avanço, 1% melhor a cada dia, todo dia. Você estica a sua fronteira um palmo mais para a frente. Você se engrandece, subindo nos ombros dos que já trilharam por ali. O que você aprende você compartilha e entende que assim você é o homem mais rico que existe e que vive dos abraços que a vida lhe dá.

Um dia eu acordei cedo. E, quando olhei pela janela, vi um carro parado e, dentro dele, uma pessoa sorrindo para o sol que a poucos segundos iluminava a rua toda. Existia algo incomum na cena, e quis entender que aquilo era a expressão máxima de alguém que ama cada segundo de estar vivo. Compreendi que existem momentos na vida de quem trilha que são confirmações. Movimentos que lhe aproximam do seu eu ideal, do plano perfeito. Momentos e movimentos que, em sincronia, nos fazem dançar e avançar. É um belo jeito de querer fazer diferente, um dia depois do outro. Escolha a sua música e comece a dançar. Um dia eu acordei cedo e, quando abri a janela, não havia carro algum. Um dia acordei cedo e lembrei de um sonho possível, abri a janela, e senti uma brisa morna da vida. Era o abraço que eu precisava para mudar. E assim, tudo começou.

Gustavo Campos

Gustavo Campos é coach comercial, sócio e analista de inteligência da FOCAL Pesquisas.
www.focal.com.br
focal@focal.com.br

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