Valor agregado começa com a MATÉRIA-PRIMA

14.09.2017 - Michel Pozzebon / Jornal Exclusivo

Foto: Michel Pozzebon/GES-Especial
O desenvolvimento de um calçado ou acessório com valor agregado começa, invariavelmente, pela escolha da matéria-prima. É quando o couro entra em cena. No Rio Grande do Sul, a produção anual estimada deste artigo nobre chega a 9 milhões de couros bovinos. Cerca de 30% deste montante – 2,7 milhões de peles – são destinadas à produção de artigos manufaturados no mercado interno, dentre os quais estão bolsas, mochilas, carteiras e cintos, muitos deles produzidos no Vale do Sinos.

É neste polo gaúcho onde está estabelecida, há 39 anos, a Sturmer Indústria de Artefatos de Couro (Novo Hamburgo/RS), empresa que produz pastas e maletas executivas, artigos de viagem, carteiras e acessórios diversos para os segmentos masculino e feminino, com as marcas Gold Man e Izara. Com foco no alto padrão de qualidade e design, a fabricante busca constantemente o desenvolvimento e o aprimoramento de novos processos e tecnologias. “Isso tudo passa pela qualidade do couro, comprado de fornecedores regulares do Vale do Sinos, especialmente por eles nos fornecerem um material que garante o alto padrão da nossa linha de produtos”, afirma o diretor Francisco Assis Sturmer Junior.

Da região para o mundo

Com um parque fabril de 4,5 mil metros quadrados e uma produção mensal de 7 mil peças – carteiras em couro representam 70% da produção da empresa, a Sturmer Artefatos de Couro também produz artigos para terceiros. Atualmente, o private label responde por 70% dos negócios da companhia. “Desde 2006 estamos fortalecendo o trabalho no private label, que é uma área que tem nos dado um importante aporte em termos de volume de produção e regularidade de pedidos, uma vez que as multimarcas, que eram os nossos clientes habituais, tiveram uma retração de mercado”, explica Sturmer.

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Empresa centenária que não parou no tempo

Um dos fornecedores da Sturmer Artefatos de Couro é o Curtume Krumenauer (Portão/RS). Com 105 anos ininterruptos de atividade – um dos mais antigos curtumes em operação no Brasil – a corporação não tem medido esforços para aperfeiçoar a produção. “Somos uma empresa centenária que está evoluindo nos processos produtivos, tecnológicos, controles e desenvolvimento técnico, buscando a melhoria na produção de couros naturais, que tragam valor ao cliente e seus produtos, sempre orientados pela forma mais limpa possível de se produzir”, sustenta o diretor comercial da empresa, Joel Krummenauer.

Por outro lado, o executivo explica que o empreendimento tem se adaptado às questões impostas pelo mercado. “Uma boa parte dos curtumes do Rio Grande do Sul tem grande tradição e produz couros acabados por longa data, na maioria das vezes de boa qualidade. Entretanto, seguimos a necessidade do mercado, que muitas vezes nos empurra para produtos de baixo padrão por conta de preço e também porque dispomos de uma matéria-prima que nos limita à produção de artigos de alto valor agregado demandado por grandes marcas”, avalia.

Cerca de 95% do volume de peles produzido pelo Curtume Krumenauer tem como destino o segmento de artefatos de couro. Os demais 5% são voltados para a indústria calçadista. A companhia exporta 95% de sua produção para a sub-região asiática do Extremo Oriente.

Método próprio para fazer tricô de couro

Foto: Michel Pozzebon/GES-Especial

O couro mestiço, em geral proveniente de caprinos, possibilitou à Tricouro (Campo Bom/RS), empresa com 28 anos de mercado, desenvolver um método próprio para a produção de bolsas: com tiras trançadas ou caídas, a amarração de fios de couro é feita manualmente. As peças são confeccionadas à mão, com técnicas como tricô e crochê, em material que é parte reaproveitado das sobras da própria empresa e de indústrias calçadistas. Depois, por meio de máquinas, são incluídos o forro interno e os metais. “As peças se tornam exclusivas na medida em que o tipo de ponto varia entre os produtos, devido ao trabalho manual, que é feito por donas de casa e também por detentas do sistema prisional gaúcho”, explica o diretor da Tricouro, Peterson Schulenburg.

Com uma produção de 200 peças por mês, o diretor da Tricouro justifica a opção da empresa campo-bonense pelo couro mestiço. “É um material leve, com toque sedoso, e que com sua maciez possibilita desenvolvermos os pontos do tricô”, explica.

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Valor percebido

O couro garante valor percebido aos artefatos. Este é um dos diferenciais da matéria-prima destacados pelo presidente-executivo do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), José Fernando Bello. “Quando usado em artefatos, ele garante uma diferenciação notável e valorizada pelo consumidor”, enfatiza o dirigente, frisando que o artigo nobre tem atributos únicos. “Absorção de umidade, transpiração e regulagem de temperatura são propriedades naturais do couro;”, completa.

Na avaliação do gerente da Associação Brasileira das Indústrias de Artefatos de Couro e Artigos de Viagem (Abiacav), Alexandre Luta, a aplicação do couro na fabricação de artefatos garante agregação de valor inconteste. “O emprego da criatividade e do design encontra abrigo num material natural que permite consolidar diversidade de estilos, cores, tons e texturas, gerando”, afirma o dirigente.

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